“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.”
– Raul Seixas
Sabem aqueles avisos facilmente encontrados em locais públicos ou privados que nos pedem desculpas pelo transtorno e avisam que estão em reforma? Pois é, penso que deveríamos carregar conosco algo similar, durante toda a nossa vida, avisando que estamos em transformação. Sim, verdade! Isso porque nos transformamos a cada momento.
Em minha experiência clínica, já ouvi muitos relatos do quão difícil parece ser para alguns familiares e amigos entenderem que já não somos mais os mesmos de antes, ou melhor, já não somos os mesmo de alguns minutos atrás. Isso não quer dizer que não houve transformações positivas, mas muitas vezes coloca em dúvida o quanto o outro ”ainda” sabe sobre nós. E a previsibilidade é muito importante para algumas pessoas, pois as coloca em um lugar de algum modo conhecido, e o conhecido costuma nos deixar seguros.
Muitas vezes, nós mesmos não olhamos com bons olhos os nossos próprios desejos de transformação.
Considero que somos a soma de cada instante vivido. São nossas experiências, juntamente com a cultura onde estamos inseridos, que vão nos estabelecendo enquanto pessoas, vão dando o tom sobre quem somos. Desse modo, o mundo muda, a cultura muda e nós mudamos. Alguns mais, outros menos, mas todos mudamos e passamos por longas transformações.
Atualmente, tenho notado, por exemplo, muitas questões envolvendo mudanças de hábitos e escolhas alimentares. É cada vez mais comum encontrar alguém que passou a ter uma alimentação vegetariana, vegana ou livre de glúten ou lactose, e também é comum encontrar pessoas questionando essas mudanças de hábito, essas novas escolhas, essas transformações. Muitos dizem não entender tanta radicalidade, como se tivesse um modo “mais certo” de fazer. O diferente vai tomando conotação de doente, a partir de determinações sedimentadas de um mundo que é o nosso e que diz como a maioria das pessoas faz e as toma como referência. Todos somos expressões singulares dentro de um contorno social, somos ao mesmo tempo tão iguais e tão diferentes.
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Fico pensando que muitos de nós interrompem momentos de transformação, a partir do que faz sentido para nós em detrimento da compreensão e aceitação incondicional do mundo. É uma escolha, e certamente toda escolha tem um sentido.
Cabe a cada um de nós fazer escolhas que nos façam mais felizes, mantendo em nossas vidas o que queremos e verdadeiramente nos faz bem e transformando o que não faz sentido por não ser genuíno!