Por diversas vezes, somos arrebatados por situações de vida que nos levam a refletir sobre nossas condutas, sobre o que pensamos, sobre o que somos. Na maioria das vezes essas situações surgem inesperadamente, sem um fax para nos comunicar e nos preparar para elas. Sem qualquer aviso prévio. E assim é a vida.
Não adianta gritar, chorar ou se desesperar, a situação vem, te arrebata e segue adiante. Nós, em nossa pequenez emocional, ingenuidade e despreparo total, não sabemos como agir. Choramos, sim, gritamos também e nos desesperamos com toda certeza. Afinal, somos humanos, e drama é uma de nossas grandes paixões.
A vida é que ignora esse fato. Custava um aviso com cinco dias de antecedência? Daí, quando nos deparamos com perguntas reflexivas como essa: “E se minha casa estivesse pegando fogo o que eu salvaria?”, encontramos um drama.
A resposta mais óbvia seria minha família, filhos, o cachorro ou para o mais racional os aparelhos eletrônicos e o que tiver de mais valor. Mas e se esse incêndio não fosse na sua casa, fosse dentro de você, internamente, e tivesse que escolher algo aí dentro. O que você salvaria? Talvez, você diga todo seu conhecimento, tudo que aprendeu até hoje – e ele com certeza seria útil. Mas até quando? Saber é importante, contudo, perde sua razão sem o Ser.
Sendo assim, você pode dizer que o melhor seria salvar suas lembranças. São elas que te fazem quem você é hoje, quem você foi um dia, e lhe dá um norte para quem você quer ser no futuro. Sim, lembranças são fortes e especiais, um ponto de equilíbrio em nossa existência. Contudo, será que somente as lembranças te dariam motivos para prosseguir? Afinal, o fogo apagou tudo aí dentro, será que as lembranças apenas não trarão nostalgia, desejo de reviver, de ter o que perdemos? É para se pensar!
Então, o que salvar? Que tal sentimentos? Ah! Sim, os sentimentos. São eles que conduzem o ser humano em sua jornada evolutiva: o desejo, o medo, a alegria, a angústia, a arrogância, a raiva, o ódio, a piedade, a bondade e, entre tantos outros, o amor.
Não obstante, acredito que você salvaria só os bons sentimentos como alegria, piedade, bondade e amor ou talvez só o amor. Mas, e os ruins, não? Eu salvaria todos. Isso mesmo, todos.
Todos os sentimentos somos nós, fazem parte do que e de quem somos. Nosso yin e yang; preto e branco; alto e baixo, nós somos essa antagônia. Não é o outro que nos complementa, somos nós, justamente por essas nossas oscilações, por essas nossas forças opostas, que de tão opostas que são, se complementam.
Somos uma roda viva de pensamentos e sentimentos e fazem parte cada um deles.
O ser humano é como as plantas, precisamos da água fresca cristalina, pura e do Sol radiante a nos iluminar, para crescer e florescer. Mas sem o adubo, que se constitui de restos e de coisas fétidas, nós não crescemos com força, não evoluímos com mais firmeza. Precisamos dos dois. O bom e ruim. O amor e o ódio. Assim somos nós.
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É por não compreendermos isso que sofremos tanto. Ao não aceitarmos o que somos, vivemos em constante insatisfação e, por vezes, perdemos o sentido da nossa existência, pois, quando aceitamos o que nos constitui e o que faz parte de nós, podemos dominar essa nossa particularidade e nos concentrar, para usufruir o melhor de cada um.
Devemos usar os sentimentos ruins como propulsão e os bons como direção.
E sigamos em frente, porque depois de apagar o incêndio (interno), você terá que recomeçar com o que salvou, e esse novo processo de criação só diz respeito a você.