Tudo que acontece ao nosso redor, nós percebemos através dos sentidos (indriyas). Quando nos deparamos com um acontecimento, portanto, o que sentimos, seja medo, indignação, revolta, raiva, enfim, qualquer que seja a emoção, resulta da manifestação de conteúdos que já existiam dentro da gente e foram justamente trazidos à superfície através dessa percepção sensorial, por um processo de ressonância interna com o acontecimento externo.
Essa ressonância acontece porque o evento externo guarda uma grande afinidade com o evento interno que repousa em nosso inconsciente, ou seja, através daquilo que vemos ou sentimos nós criamos conexões com coisas que já vimos ou sentimos no passado e concentram energias afetivas, por isso existem erupções incontroláveis de raiva, por isso reagimos com medo ou repulsa diante de eventos inexplicavelmente prosaicos, por ser através desse fenômeno que nos deparamos com os elementos desconhecidos que existem em nossa sombra.
Todos os nossos pensamentos surgem a partir daquilo que os sentidos acionam, todos os nossos pensamentos estão enraizados nesses conteúdos psíquicos (samskáras). Portanto, significa que são esses conteúdos o grande obstáculo para adquirirmos um maior controle sobre a mente.
Para diminuirmos a turbulência da mente, precisamos enfrentar aquilo que provoca a turbulência e não enfrentar a mente. A mente tem sido tratada como a grande vilã da escravidão humana quando, na verdade, é apenas um aparelho acionando materiais inconscientizados que precisam vir à superfície para serem reprocessados e ressignificados pela luz de uma nova consciência. A mente, portanto, é uma grande aliada no desenvolvimento de uma Consciência Crística.
Podemos controlar os sentidos (pratyahara), mas não por muito tempo, no entanto, remover a carga afetiva desses nossos conteúdos (samskáras) é possível e absolutamente transformador. Diante dos pensamentos que surgem em nossa tela mental, não é difícil concentrar-se na fonte de onde emanam, não é difícil estabelecer um diálogo com essas entidades que vivem em nosso campo psíquico nos importunando e transmutar as informações que se concentram em suas estruturas.
Grande parte das terapêuticas disponíveis no mercado, grande parte das assistências espirituais, trabalham na dissolução desses elementos, pois eles, além de tudo, são os grandes responsáveis pelos nossos condicionamentos e consequentemente, definitivos na formação do nosso caráter.
A personalidade humana, que vive presa na realidade corpo-mente, na verdade, é um programa de informações construído com os arquivos das experiências vividas.
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A desconstrução do que somos é o caminho, ou pelo menos um dos caminhos, pois tudo que persiste em nossa contextura psíquica precisa ser despotencializado de suas cargas afetivas.
Só assim nos livraremos daquilo que nunca fomos e manifestaremos a nossa verdadeira natureza.