Todos temos um recado para dar, mas para transmiti-lo precisamos ouvir a voz interna, a essência, a alma. Mas não a ouvimos, porquê? Porque ao invés de sentir e conhecer a essência do próprio ser, ao qual chamamos de autoconsciência, autoconhecimento, usamos medidas das aparências, que determinam a nossa régua entre os conceitos e valores formados, tais como o que é bom e ruim, pouco ou muito, certo ou errado, maior ou menor, verdade ou mentira, de fato aquilo que se enxerga e o que tem relação temporária com o julgamento daquilo que acreditamos.
Medir pela aparência significa que determinamos a nossa realidade, aquilo que somos, pelo mundo externo, aquilo que está do lado de fora e que mostramos para as pessoas. Sendo assim, a medida ou o peso que damos e o que importa de fato é o belo, a embalagem, a imagem, e não o conteúdo (essência), aquilo que se é de fato. Então, a aparência pode levar a muitos erros.
A aparência engana a você mesmo, porque ela passa a ser também a sua realidade, disfarçada de cetim com glamour de brilhos, e ofusca os olhos a enxergar o outro lado do tecido, que pode ser opaco, sem brilho, mas com valor tão importante quanto ao que se vê por fora — sua composição faz parte da construção do que se é.
Perceber os dois ângulos de uma mesma faceta é inevitável para a construção do EU mais fortalecido, e atuar com a aparência e essência resulta em nada mais, nada menos do que saber conviver com a Luz e a Sombra de uma mesma identidade. “Só sabendo quem somos poderemos começar a ser melhores para nós mesmos e para os outros”. Deixe de usar medidas, para chegar à essência, saia da superfície!
As pessoas têm medo do que desconhecem e este fato é inconteste. Por esta razão, muitas vezes, ficamos com as vidas estagnadas, paralisados diante de algumas encruzilhadas e passamos maior parte do tempo vivendo da aparência ao invés da essência. A essência é interna, profunda, densa, aquilo que é base, é aquilo que é e neste sentido não dá para usar as mesmas medidas pelo qual mensuramos o que é externo, como o peso do corpo, ou a altura, a cor do cabelo.
Como podemos medir aquilo que não sabemos o que é, se nem ao mesmo acreditamos ou concebemos a ideia de sua existência? Vivemos de verdades construídas a partir das crenças ao longo do desenvolvimento, sendo assim, criamos parâmetros, regras que justifiquem as nossas ações e pensamentos e utilizamos destas para entender qual nosso verdadeiro recado ao mundo. Mas é possível usar balanças para pesar nossos tesouros desconhecidos? A resposta é não, jamais devemos explorar as profundidades do nosso conhecimento com uma vara ou uma sonda.
Claro que tudo isto é muito simbólico e só mesmo a Filosofia para nos ajudar a compreender. Alexandre Magno dizia que conhecer a si mesmo é a tarefa mais difícil do ser humano, pois incita diretamente a nossa racionalidade, mas também coloca à prova nossos medos e paixões. Impossível se construir como convém, sem se conhecer.
Esta é uma das tarefas mais árduas da sobrevivência humana, pois é como adentrar no oceano mais profundo, resistir às mais duras e frias águas, se envolver no turbilhão de mistérios e ter resistência o suficiente para suportar todos os perigos inerentes a esta jornada.
Um dos ingredientes mais importantes nesta empreitada é a CORAGEM, que na origem da palavra latim significa coraticum, do francês cor-age, capacidade ou virtude de agir apesar do medo, do temor e da intimidação. Deve-se notar que coragem não significa a ausência do medo, e sim a ação apesar deste. Temos que ter coragem de olhar as escravidões e traumas que o passado possa ter deixado em nossa vida, não importa por quem e como, e buscar a liberdade e o equilíbrio. Platão correlaciona coragem, razão e dor.
Os animais (mesmo os irracionais) demonstram coragem, principalmente devido aos seus instintos primitivos e pela necessidade de sobrevivência, sabem que podem morrer se sair do ninho, mas o fazem pela necessidade de sobreviver e, assim, dão abertura à coragem.
O ser humano, por ter psiquê (processos psíquicos que podem ser conscientes ou inconscientes — origem no grego psykhé e que é usada para descrever a alma ou espírito), sofre influências diárias nas suas atitudes, pois o processo do pensar permite que seus medos e sua coragem variem muito de situação para situação e de pessoa para pessoa, principalmente dependendo do ambiente na qual viveram desde crianças, da educação que receberam, de suas crenças, de com quem convive socialmente, etc.
A vida social e civilizada exige do homem uma atividade concentrada e dirigida da consciência, acarretando, deste modo, o risco de um considerável distanciamento do inconsciente e, quanto mais nos afastamos deste por um funcionamento dirigido, maior é a possibilidade de surgir uma forte contraposição àquilo que se pode ser de fato.
Aqui não se trata de fazer nenhuma alusão contra as regras e normas sociais, até mesmo porque as atitudes coletivas nos capacitam para nos ajustarmos, sem atritos, à sociedade, como a qualquer outra condição da vida. Trata-se de fazer uma reflexão de que a solução para um conflito pessoal jamais pouse sob normas coletivas, afinal, nenhuma solução racional pode fazer justiça a esta tarefa, e não existe absolutamente nenhuma regra social que possa substituir uma solução individual, sem perdas a ninguém senão ao próprio indivíduo.
Pela filosofia, o Homem tem uma existência e uma essência, segundo Platão afirma, a liberdade absoluta do homem, reconhecendo-lhe uma natureza espiritual que não pode ser, em hipótese alguma, acorrentada às forças do mundo.
Para Platão, o homem é essencialmente alma, espírito e, por isso, o único problema, para o homem, é o de resgatar a sua alma da prisão do corpo. Isto é filosofia, e ele não detém a verdade. Mas, que tal conceber a ideia de que existe algo imortal, a Psiquê como já mencionado, por trás de uma aparência? A matéria é finita, a alma não. Imaginem que isto exista, mas sem impor uma medição materialista e redutiva.
Já é sabido da existência de algo divino e além da matéria, mas queremos a todo momento ter provas disso, e provar o que não é mensurável não é possível, porque o EU é um mar sem limites e sem medidas. Essência pertence ao mundo da unidade, e o teu corpo pertence ao mundo da multiplicidade — são duas coisas tão diferentes que você não conseguirá conhecer usando as mesmas ferramentas.
É como uma pérola, por onde passam tantos fios, onde somos apenas um pequeno fio de todas as redes de fios da história da vida.
Então, já temos provas disso, ao estudarmos todos os escritos sobre a origem do mundo e, mesmo assim, duvidamos. Queremos prova disto o tempo todo, por isso, não concebemos aquilo que é desconhecido, pois não há provas, não há fita métrica para medirmos e, então, justificarmos.
O que desconhecemos de nós é muito maior do que aquilo que conhecemos, assim, a parte que desconhecemos é gelo, duro, frio, que nunca foi tocado. Segundo o conceito do Iceberg, apenas cerca de 10% da sua massa emerge à superfície. Os demais cerca de 90% permanecem submersos.
Comparando-nos ao iceberg, deixamos perceptível para as pessoas cerca de apenas 10% do que somos de fato, e os outros 90% estão bem guardados, onde concentramos as lembranças, os registros ao longo de nossa vida, as dores, as alegrias, derrotas, defeitos — isso inclui a inveja, o ciúme, o despeito, a arrogância, a falta de perdão, a dor de ser traído, o orgulho, a vaidade, a ignorância, os medos.
No aglomerado de arquivos, está a autoestima que foi esmagada, a rejeição, os traumas sofridos, as vontades não reveladas. Por vezes, aqui ou ali, alguma dessas características “vem à superfície” e se mostra em uma porção pequena dos 10%, mas, na maioria das pessoas, isso é mais raro de acontecer. E quando algumas destas lembranças vem à superfície, muitas vezes, ficamos inerte sem saber como agir ou ainda negamos e desviamos o foco buscando dar uma explicação racional para a sensação sem aprofundar em suas raízes.
Assim como o iceberg, nós não somos apenas o que mostramos ser. E o que representa o gelo em nós? ÁGUA, momentaneamente diferenciada daquilo o que tem a sua volta, e o que tem em sua volta? Água. Então, é como se você fosse um momento em que a água se condensou e se tornou ilusoriamente algo íntimo e particular, mas continua sendo água.
Pela visão da Alquimia e outros conceitos da psicologia e de algumas vertentes espiritualistas, nossas águas são comparadas às nossas emoções, e assim como não devemos bloquear as águas de um rio, não devemos bloquear nossas emoções, mas sim fazer com que elas fluam harmoniosamente como as margens de um rio.
Pensando nisso, o que acontece, com águas paradas, as pedras de gelo que permitimos construir? O que acontece quando bloqueamos nossas emoções? O que representa em nossa vida os nossos gelos dentro do mar submerso de água que somos?
Emoção parada, assim como água parada, sem movimento, cria sujeira, cheira mal, procria “bichos”, assim como a dengue…imagina o que esta água parada (emoção) causa em teu Ser, no teu corpo físico, na sua alma e espírito (psiquê)? Isto mesmo que você pensou….causa dor, angústia, sofrimento, doença.
A água é um símbolo de criação, regeneração e purificação, porém, contaminada, não pode continuar sendo o repositório destes valores. A posição intransigente ao seu fluxo pode apontar o motivo de doenças sérias ao longo da vida. Hora de repensar as opiniões, situações, fatos e “verdades” ultrapassadas.
O Homem é do tamanho da sua entrega, da sua Generosidade, os grandes Homens da história não foram os que tinham muitas coisas, mas os que davam muitas coisas. Não digais: “Encontrei a Verdade”, dizei de preferência: “Encontrei uma verdade”. Só existe um momento de verdade, onde você olha para a vida e diz: “Não é possível que isto seja só aparência, tem algo por trás, algo nos bastidores, algo além”.
O Homem não acredita que a bondade, que a justiça, que a beleza cesse, ele percebe que elas se refletem, perpetuam, mas que são dinâmicas, existem, são marcantes, deixam pegadas no mundo, logo, não pode ser irreal, ilusório.
Então, se você teve um momento de vida, de vivência interior, você teve uma verdade, você vislumbrou a verdade, mas não a grande verdade, e sim apenas um momento dela, um flash, um ângulo do prisma. Pela vaidade do homem, muitas vezes, pela inflação (inflar) do Ego, entramos num processo de delírio desta fração da verdade, e queremos convencer o mundo de que se está com a razão e novamente quer se dar a medida.
Para o autoconhecimento, devemos guardar as pequenas parcelas de uma verdade, pois só foi um pedacinho do véu da ilusão que se descortinou, para dar uma olhadinha na Luz, e de que se está aqui embaixo ainda, com muito a aprender.
Por isso, Deus fala tanto em humildade, reconhecer os quão pequenos somos diante de uma verdade maior da alma, da essência. Não digais: “Encontrei o caminho da alma”, dizei de preferência: “Encontrei a alma andando em meu caminho”. Fato este que ninguém pode tirar aquilo que és. Assim, não precisa estar tão inseguro, tão ferido pelo o que as pessoas fizeram contigo, porque aquilo que elas atingem não é realmente quem tu és.
Aquilo que somos profundamente, ninguém pode tocar, ninguém pode ferir… Então, você sente um estado de segurança e liberdade que o permite dançar e buscar seu EU maior. Não espere mais, construa uma nova verdade a partir de um novo olhar, permita-se mergulhar no mais profundo do teu SER e entender as tuas dores, as emoções estagnadas que te levam ao sofrimento. Tenha um ato de Coragem.
O autoconhecimento começa pela autoaceitação. Aceite-se e se conhecerá melhor, já dizia Jean-Jaques Rousseau: “Ninguém pode ser feliz se não apreciar a si mesmo”. Pare de negar fatos, de querer esquecer, pois o que é vivido não se esquece, não se apaga. Busque compreender, investigar a causa de suas emoções e não apenas os sintomas aparentes, mergulhe fundo na raiz, na Célula núcleo da DOR, saia da superfície, da ponta do Iceberg.
Quando chegar até a sua ferida mortal, não vitimize-se ou culpe, apenas perdoe a si por ter sentido tudo o que sentiu, por ter permitido vivenciar tal situação com aquela condição, que na ocasião foi a única que encontrou para lidar, e perdoe o outro, o agressor, pois ele também não teve outra forma de atuar naquele momento, por falta de maturidade, consciência acometida pela ignorância do pensamento ou outros motivos que ninguém compete julgar.
Apenas com o perdão se chega ao Amor, ao cuidado com o teu próprio SER, a sua essência, aquela que você ainda não admite que exista e tenta sucumbi-la por meio das medidas morais e sociais, logo, julga, condena, tornando-se vítima e refém da sua própria prisão. O desconhecido é o lugar mais generoso que eu já encontrei na vida, exatamente porque ele sempre me permitiu recomeçar.
No fundo, jamais conseguiremos provar que tais verdades sejam ou não absolutas. É suficiente, porém, que elas existam como inclinações da psiquê, e sabemos demais o que seja entrar levianamente em choque com essas “verdades”. Equivale à negação consciente dos instintos, isto é, a um desenraizamento, a uma desorientação, à falta de sentido da existência, ou que outros nomes possam ter estes sintomas de inferioridade.
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Saia da escuridão, aquela que impede a sua evolução, viemos aqui por um propósito como todos os demais seres da vida, o de evoluir, e sem conhecer-te a si mesmo, passará pela vida sem ter cumprido o propósito maior do teu Espírito — se é que você deseja continuar negando que ele exista. Se for assim, use suas métricas limitadoras, tudo é questão de Escolha! Bons caminhos para a descoberta do seu Eu maior, Eu Superior!