Música de Zezé di Camargo e Luciano à parte, o dia em que nossos filhos saem de casa — com mãe chorando a abençoar na porta ou não — é doloroso não importa o que digam. Mas realmente tem que ser assim? Qual é o lado deles?
O tempo é misterioso, e eu não canso de dizer isso. Não por passar rápido, afinal isso é questão de ponto de vista, mas sim pela capacidade que ele tem de transformar as pessoas. Se o tempo não passasse, não viveríamos coisas novas e muito menos sentiríamos a necessidade da mudança. E é exatamente isso que acontece com nossos filhos: seja por acidente ou não, um dia ele nasce, e com ele nasce o amor mais inexplicável e imensurável que existe; no outro, ele já está sorrindo, engatinhando, falando, andando… E, quando damos por nós, eles parecem estar indo mais longe do que gostaríamos. Mas, espere um pouco, mais longe do que GOSTARÍAMOS? Quem somos nós para impor limites?
Sim, nós somos seus pais, mas não seus donos.
O papel de um pai ou uma mãe — ou quem cria — é amar, educar, ajudar e guiar. E, no papel de guia, é quase como se fosse uma viagem. Você pontua e explica os pontos turísticos dessa viagem chamada vida, e cabe a ele decidir se vai querer fazer um turismo aventura ou não.
Todos sabem, ou imaginam, a sensação de vazio que fica só com a ideia do seu filho não estar mais em casa. De repente, o quarto dele fica vazio, a cama que vivia desarrumada não tem mais uma dobra fora do lugar, a cadeira que era quase o cesto de roupa suja está impecável e aquele lugar na mesa em que você cansou de vê-lo crescer está daquela forma que você sempre temeu: vazio. É claro, não falei nenhuma novidade, a sua dor você conhece, mas e a dele?
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Sair da zona de conforto não é tarefa fácil
No papel de filhos, nós vivemos sempre à mercê de nossos pais, quase como bichinhos de estimação. Eles nos limpam, nos alimentam, pagam nossos estudos, mimam, nos levam para conhecer novos lugares, e nós ficamos numa situação extremamente cômoda, tanto que é por isso que muitos de nós preferem essa vida por longos e longos anos. Mas existem aqueles filhos que sempre esperaram mais do mundo, ou que desejam encontrar a si mesmos não no posto de “o filho amado”, mas no lugar de um homem ou uma mulher em busca do seu verdadeiro eu e, consequentemente, do seu lugar no mundo. Para esses filhos, a luta não é fácil, sair da zona de conforto exige muita reflexão e principalmente coragem. É importante lembrar que um filho tem coração, alma e vontade próprios, portanto, tenha em mente que ele não está saindo de casa porque te odeia nem porque a família é ruim ou porque você não foi bom ou boa o suficiente, mas simplesmente porque ele deseja saber até onde pode ir.
Ele quer finalmente andar de bicicleta na vida sem as rodinhas extras para dar o equilíbrio, rodinhas essas que vocês — pai e mãe — antes representavam. Ele vai cair, vai se levantar, vai andar de novo e um dia chegará onde tanto almeja alcançar. Por isso, não tentem desequilibrá-lo, não subestimem a relação que vocês criaram, ele sabe que é difícil para vocês e isso ainda representa o breque para ele de vez em quando. Sejam fortes, deixem-no ir, deixem-no encontrar seu próprio ponto de equilíbrio.
Ele venceu a luta dele, mas e você?
A batalha do filho é vencer a zona de conforto, seus medos e dúvidas e, quando essa batalha é vencida, a sua começa: entender que você tem uma vida fora o papel de pai ou mãe.
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Foram anos dedicados a essa ocupação, é quase como sair de um emprego sem fundo de garantia, é um choque, é difícil, mas assim como seu filho vai recomeçar, você também deve seguir o mesmo caminho. Redescubra antigos prazeres, descubra novos, ocupe sua mente. Será uma situação incômoda, mas não é porque você não pode voar ao lado de um pássaro que isso diminui a beleza do voo. Ele não está indo para sempre, vocês podem se comunicar sempre que quiserem. Portanto, aprecie o alçar das asas do seu filho, você trabalhou duro para isso. Ainda que ele tenha suas falhas e dificuldades, o mundo vai ensiná-lo a se virar e o vento o guiará. E como diria a trilha sonora do Tarzan… Tenho certeza de que tanto seu filho quanto você sempre terão essas palavras em mente:
O amor nos une para sempre
Não há razão pra chorar
Pois no meu coração
Você vai sempre estar
E o meu amor contigo vai seguir.