Energia em Equilíbrio Yoga

Como lidar com os desejos e a tristeza

Escrito por Pedro Kupfer
Em diversos momentos a insegurança toma conta da nossa mente. Quando temos alguns pensamentos questionadores, como “será que realizarei aquilo que desejo?” ou, “será que conquistarei aquilo que preciso para me sentir mais seguro?” percebemos a presença da insegurança. O problema está na prisão que este padrão de pensamento influi, nos impedindo de crescer e podando a nossa liberdade.

Ficamos presos à tristeza quando algumas coisas não acontecem conforme nossa expectativa, assim como obtemos aquilo que queremos, mas logo a perdemos. A tristeza se apresenta como uma sombra sobre nossa vida ao não alcançarmos aquilo que desejamos mais, nos tirando o sossego.

Nos momentos de frustração e tristeza nós não podemos fazer muito, além de compreender e aceitar que os desejos fazem parte da nossa mente e que são naturais. Este é o primeiro passo para que possamos nos libertar de tudo que venha dos desejos. Entender que a felicidade não está na realização de desejos, bem como saber que não há nada de errado em desejar é o segundo passo para a libertação da tristeza.

É errado achar que a felicidade e a alegria podem derivar da realização dos desejos. A tristeza, assim como as demais emoções, vem e vai como as nuvens no céu e nós não podemos fazer nada para impedir isso.  Não é errado acordar triste, ter momentos de melancolia, pois isto faz parte das emoções humanas, que são perfeitas como são.

(...) deve ser entendido para que vivamos de forma tranquila, apesar das dificuldades da vida humana.

(…) deve ser entendido para que vivamos de forma tranquila, apesar das dificuldades da vida humana.

Aceitar isso é apreciar a tristeza de uma canção e, ao invés de negá-la, usá-la positivamente, em seu benefício.

A vida como ela é

Compreender a dinâmica da vida é a chave para entender como apreciar objetivamente as emoções. A lei da natureza é esta, as coisas vêm e vão, não há como mudar isso. Nada daquilo que chamamos de nosso é realmente nosso, e é preciso que reconheçamos isso.

Pense no seu cabelo. Podemos dizer “este é o meu cabelo”, mas quando um fio decide cair, não há nada que possamos fazer para atrasar este processo, assim, não há como dizer que ele seja realmente nosso. Este mesmo pensamento se repete em relação à memória, ao vigor e à resistência física. Essas capacidades começam a diminuir e até a desaparecer com o passar do tempo e da idade, e não há nada que possamos fazer para conservá-las. Objetivamente falando, nenhum destes elementos é nosso.

Não somos donos de nada. Este é um olhar desapegado e objetivo em relação ao corpo e a mente, e isto não significa que estamos sendo descuidados, ou irresponsáveis.

Livrar-se das influências das limitações é fácil. Olhe com objetividade e desapego à perfeição presente nas leis da natureza. Se apegar àquilo que você considera seu aproxima a tristeza da sua vida, principalmente quando a perda ocorre, e esta é a consequência da ignorância existencial.

De tal forma, a “perfeição na ação”, como ensina a Bhagavad Gita, está em conseguir se desligar da tristeza, e das diversas formas que o sofrer pode assumir, compreendendo aquilo que se é verdadeiramente. Esse é o sentido real do Yoga: unir-se àquilo que se é, e separar-se daquilo que não se é.

A natureza como ela é

É impossível se separar de sua própria natureza. Pense por exemplo na água quente, o calor não é da natureza da água, ou seja, ele só acontece quando associado ao fogo.  A água pode se separar da natureza do calor, porém o fogo não consegue, já que esta é a sua natureza.

Não é possível negar aquilo que é natural a nós. Pense em sua própria temperatura corporal, de 36,5 graus, isso não te incomoda, pois esta é a natureza do seu corpo. Já quando o seu corpo se aquece você irá se sentir impaciente e desconfortável, e desesperado para voltar a sua natureza.

Será que a tristeza é algo natural? Se fosse, você não poderia, nem deveria desistir dela.
Mas todos queremos ver a tristeza bem longe, e da mesma forma, ninguém quer se ver livre da felicidade. Isso acontece porque no fundo todos sabem que a tristeza é algo que foge a naturalidade, e temos a convicção de que a felicidade é natural.

O seu agir no mundo lhe dá frutos. Em alguns momentos estes frutos são vistos como desejáveis, em outros como indesejáveis. Independente de nossa ciência ou não, experiências vêm e vão, e até mesmo os sábios passam por adversidades, a diferença é que eles sabem como enfrentá-las ao olhar para as coisas de forma objetiva e apreciam a verdade. Pensando nisso é importante entender que agir dominado pelo desejo ou pelas emoções é arriscado.

Eu, como sou

Lembre-se: você já é toda a felicidade que busca. As limitações do seu corpo e da sua mente são restritas apenas a eles, e pertencem unicamente a eles. Entenda que o Eu não tem posses, o Eu apenas é.

Fisicamente temos limitações, às vezes em termos de força, em outras em termos de saúde ou longevidade. Intelectualmente também somos limitados, podemos não conseguir memorizar números, ou então em termos dificuldades com a tecnologia.

O Eu está muito além de todas estas limitações. O fato de não saber falar diversas línguas ou então, não conseguir entender teorias complexas são limitações ligadas ao intelecto, não ao Eu. E isso não te torna limitado.

O Eu que você é está além de limitações. Mas, quem é este Eu? É aquele que pode ser apreciado, não com os olhos ou a mente, mas com a Consciência. Os Vedas nos ensinam a afirmação “você é Isso”, ou seja, o ser individual é igual ao Ser ilimitado, deve ser entendido para que vivamos de forma tranquila, apesar das dificuldades da vida humana.

Mesmo que haja uma distinção entre o sujeito que eu sou e os objetos que aprecio, há também uma identificação com a plenitude. Essa distinção não contradiz a visão quer permeia todo o ensinamento do Yoga, mas sim se conecta ao conhecimento eterno, aquele que é sempre significativo e atual, e que nos traz inspiração para viver de forma plena e feliz.

Namaste!

Sobre o autor

Pedro Kupfer

Pedro vive de vegetais, praia e surf. É casado com Ângela Sundari, com quem viaja com frequência para surfar, estudar, ensinar e compartilhar momentos bons com os seres humanos, plantas e animais deste belo planeta. Ensina Yoga há 30 anos. Move-se entre Portugal, Brasil, Índia, Indonésia e Chile, lugares que ama por diferentes motivos, sendo o mais importante de todos, as pessoas que conhece neles.

Oṁ Gaṁ Gaṇapataye namaḥ!

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