Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Alberto Caeiro
Sempre pensei no nome da nossa moeda brasileira como algo demasiado anacrônico e com pouco sentido. Uma vez que o dinheiro, para mim, nunca teve ou terá uma conotação próxima do real. Essa colocação serve para exemplificar e deixar ainda mais clara a forma como temos sido negados de conhecer a realidade. O real está longe de ser mostrado claramente em um mundo como o nosso. Somos levados a crer diariamente que o mecanismo é a vida e que encarar isso da melhor maneira possível é a felicidade.
Numa perspectiva Zen Budista, devemos vislumbrar, como atributo da realidade, a impermanência de todos os fenômenos. O que é evidente, já que nada, nem mesmo o que defendemos em nós como nossos ideais, duram para sempre. Em contrapartida, com o nosso “real” monetizado, acabamos entretidos numa ilusão com uma aparência de imortalidade. Uma sensação de que as coisas não acabam.
É preciso e precioso reconhecer a sabedoria que se expressa naturalmente em nós através da realidade.
Ter em mãos a vanguarda de estar presente, observando e entendendo as coisas pelo que elas são, leva a uma expressão geral do que somos. A uma aceitação ampla da nossa natureza e, por tanto, também da de todos os outros. Aceitamos o mundo e conseguimos encontrar meios hábeis para lidar com isso.
É preciso e precioso reconhecer a sabedoria que se expressa naturalmente em nós através da realidade. Quando não temos medo, é possível encararmos o que nos é imposto, vendo o que há de verdadeiro com serenidade. Se não julgarmos, atingimos este espaço que tivemos que renegar da nossa existência. A experiência real, neste sentido, não está em buscar, mas em perceber.
É só assim que podemos conhecer o mundo e a vida. De outra maneira, somos levados apenas a acreditar no que é alheio e acabamos numa limitação. Hoje, o fundamentalismo tem dado rédeas soltas para a criação de figuras emblemáticas, com discursos enraizados em separatismo e negação da amplitude de possibilidades do nosso Universo.
Uma saída é tornar a consciência uma meta, através da autodescoberta, da boa vontade em observar o presente, sem julgar, sem continuar dando margem à repetição de padrões mentais que não nos ajudam a evoluir.
Acontece que, como comenta Tsoknyi Rinpoche, a “base da experiência está além da nossa capacidade de perceber com nossos sentidos ou de ser capturada em um belo e bem arranjado conceito”. É preciso mais que dedicação ou estudo para conseguir driblar o apego que criamos às imagens às quais confiamos até o sentido da nossa vida.
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Estar na realidade implica ser a realidade. Com suas contradições, com suas turbulências e com sua paz. É ir fundo nisso e perceber um espaço não criado. Sem começo e sem fim. Nessa compreensão, cessam os intempéries da mente e surge a compreensão.