“Aquele que ama a sua vida, vai perdê-la; ao passo que aquele que odeia a sua vida, neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna.”
João 12:25
Encontramos, no Evangelho de João, essa frase rica em significados. Por mais que nos pareça contraditória, não podemos negar que o seu caráter iniciático é um convite a reflexões profundas.
Seria muito difícil concordar com esse enunciado, pois faz parte do senso comum desenvolvermos amor pela vida, buscarmos a realização, alcançarmos a plenitude da existência através das conquistas sonhadas, assim por diante. Desta forma, como então poderíamos odiar a vida?
Para ter uma compreensão perfeita daquilo que o Mestre queria nos propor, teremos que nos despir de preconceitos, crenças, certezas, enfim, de todo um programa que se desenvolveu em nossa mente e que nos impede de acessarmos os princípios iniciáticos desses ensinamentos, sem adulterá-los com “achismos”. Não se pode colocar vinhos novos em odres velhos nem colocar remendo novo em roupa velha, isso é fato. Portanto, para entendermos a Dinâmica Universal presente na essência dessa boa nova cristã, teremos que nos despir de todo o conhecimento anacrônico que trazemos. Na verdade, não sabemos absolutamente nada acerca da Verdade, apenas acreditamos naquilo que as tradições nos revelam.
A vida que desperta tanto apreço por cada um de nós é a vida do corpo e da mente, simplesmente, aquela que está representada por um personagem, que foi construído com a argila dos nossos desejos e necessidades, portanto, é a vida de um falso eu, de um não atman, de algo artificial que precisa ser destruído, enfim, a vida do ego, nada mais. Por isso o Mestre incita o ódio contra essa vida.
Essa vida, com ou sem o nosso consentimento, será destruída pelas ações do Universo, pois tudo conspira para promover uma desidentificação da Consciência com a ideia de um ego. Toda a Natureza se articula a favor do nosso despertar e, enquanto estivermos tentando realizar esse personagem, sonhando com pódios, reverências e conquistas vãs, estaremos na prisão dos desejos, escravos de necessidades, presos na Roda de Samsara, ajustando e desajustando, o tempo todo, o próprio psiquismo.
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O ego, portanto, é apenas uma ideia que sofre um reforço constante das nossas crenças, ou seja, não é absolutamente nada. Existe apenas como um conceito, portanto, estamos identificados mentalmente com algo que só existe de forma simbólica, semiótica, nada além de uma crença. Procure o ego e ele desaparece, simples assim. Então, o que o ensinamento do Nazareno propõe é destruirmos essa crença e, desta forma, deixarmos de nos identificar com essa ideia, deixarmos de acreditar nesse conceito e abrirmos espaço para a Consciência. É preciso realmente “odiar a vida desse mundo”, a vida conceitual, egoica, para que a Vida Eterna, representada pela a nossa Consciência Pura ou pelo nosso Self – usando uma terminologia Junguiana – se manifeste.