Os Guaranis, antes da chegada dos europeus, habitavam a parte sul do continente sul-americano, em extensas áreas do Paraguai, Bolívia, Argentina e Brasil. Foram os primeiros a terem contato com os europeus.
“Guarani” significa “pessoa”. Existem 3 grupos principais, que se diferenciam pelo modo de falar, no comportamento religioso e na organização social: Kaiowá (o “povo da floresta”, maior grupo a viver no Brasil), Ñandeva e M`byá.
Para os Guaranis, a terra é uma extensão de suas próprias almas. Seu mundo é visto como uma região de matas, campos e rios. Sua rica mitologia só foi registrada por escrito pelos colonizadores, pois suas tradições eram passadas de modo oral. Os mitos e lendas variam de uma região a outra.
De modo geral, os Guaranis ainda mantêm suas tradições nos lugares mais remotos, enquanto outros acabaram por assimilar a cultura dos colonizadores — inclusive após a forte influência imposta através dos missionários jesuítas, que estabeleceram diversas missões no continente.
Ao lidar com o sistema de cura xamânica Ama Deus, é importante conhecer também suas histórias, a fim de melhor compreender e mergulhar no sentido profundo da alma desta nação. Além de ser uma atitude de respeito com esta cultura, incorporamos o verdadeiro sentido dos símbolos usados nas sessões de Ama Deus. Caso contrário, estaremos apenas usando alguns desenhos, completamente dissociados de seu sentido sagrado.
A principal figura na mitologia Guarani da criação é o deus supremo Tupã. Contam as lendas que no princípio do mundo, Tupã e sua auxiliar, a deusa da Lua Arasy, desceram até a Terra, em um monte (localizado no Paraguai) e lá começaram a criar tudo que há no mundo: oceanos, florestas e animais. Também, nesta ocasião, colocaram as estrelas no céu.
Tupã cria depois a humanidade, a partir de estátuas de barro e outros elementos da natureza. Após inserir vida nas estátuas, ele partiu deixando vários espíritos (bons e maus) aqui na Terra.
O primeiro casal criado por Tupã, Rupave (“Pai do Povo”) e Sypave (“Mãe do Povo”) tiveram inúmeras filhas e três filhos: Tumé Arandú, o mais velho dos três, considerado o homem mais sábio e o grande profeta do povo Guarani; Marangatú, o segundo filho, líder benevolente e generoso; e Japeusá, que desde cedo mostrou-se um mentiroso e trapaceiro, enganando as pessoas para tirar proveito delas. Japeusá acabou se matando, mas ressuscitou e foi transformado em um caranguejo.
A filha de Maranguatú, Kerana, foi capturada por Tau, o espírito do mal. Eles tiveram sete filhos, amaldiçoados pela deusa Arasy e transformados em monstros — são considerados figuras primárias na mitologia Guarani, presentes em todas as lendas. Alguns deles ainda hoje são cultuados em áreas remotas. São eles: Teju Jagua (espírito das cavernas e das frutas); Mbói Tui (deus dos cursos de água e das criaturas aquáticas); Mo`nái (deus dos campos); Jasy Jatere (deus do descanso — o único que possui forma humana); Kurupi (deus da fertilidade e sexualidade); Ao Ao (deus das montanhas); e Luisõ (deus da morte).
Diversos grupos Guaranis foram se estendendo pela América, mediante sucessivas migrações aliadas ao crescimento demográfico, que começaram há uns dois mil anos e que continuam até hoje. Atualmente, os Guaranis lutam para continuar vivendo onde sempre estiveram, apesar de inumeráveis pressões, ameaças e mortes.
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Um dos maiores males que os Guaranis têm que suportar é a invasão e destruição de sua terra, a ameaça contra seu modo de ser, a expulsão, a discriminação e o desprezo que vieram com a chegada dos “outros”, dos colonos e dos fazendeiros e, mais recentemente, dos produtores de soja e de açúcar.
Referências