Existe um fenômeno interessante, que pode ser verificado com facilidade nas redes sociais: pessoas que insistem em forjar um estado de felicidade.
Isso pode ser verificado por meio de eventos que são amplamente registrados com selfies, que quase sempre são produzidas em lugares agradáveis, algumas vezes paradisíacos ou, até mesmo, um simples acontecimento corriqueiro.
O Facebook transformou-se em uma espécie de palco, um espaço para encenações de atores expondo-se com máscaras. Nele assistimos o desfile de personagens desesperados em convencer o público de que não são as pessoas problemáticas que, de fato, são. Tentam dissimular com poses e indumentárias enganosas, usando recursos que apenas maquiam a realidade.
Para isso, todo um arsenal de caras e bocas é utilizado, todo um acervo de closes e sorrisos falsos é verificado na simples foto de um jantar ou num encontro com amigos e isso citando simples exemplos de publicações. Qualquer incauto que navegar por esses sites poderá fazer avaliações que não condizem com o verdadeiro estado destes atores e muitos até sentem inveja de tanta felicidade expressa nesses registros.
A preocupação em ser aceito, aprovado e bem avaliado pelo grupo leva o indivíduo a comportar-se como um tolo, e o curioso é que quanto maior for o nível de exposição do seu personagem, mais claro torna-se o seu desespero.
Pessoas deprimidas e solitárias adoram fotografar-se em grupos, afinal, precisam convencer-se do contrário, precisam disfarçar aquilo que trazem de mais angustiante dentro de si. Seria uma espécie de ‘felicidade nutella’, ou seja, pura hipocrisia.
Na verdade, é o velho equívoco que consiste em querer realizar-se no exterior, tentando ajustar-se a um mundo doente e ilusório em detrimento do mundo interior, onde certamente estão todas as possibilidades de realização.
A vaidade sempre foi um vício mental, entretanto, na contemporaneidade, parece recrudescer, pois o mundo se transformou em um imenso palco e isso é uma das maiores distorções neste cenário atual.
A profecia do artista plástico americano, Andy Warhol, parece estar se confirmando. Ele previu que um dia todos teriam 15 minutos de fama e, pelo visto, estava certo. Nunca se viu tanta ânsia por holofotes, nunca deu-se tanta ênfase ao talento e, em contrapartida, nunca negou-se tanto a própria sombra, tratando-se de suprimir tudo aquilo que precisa ser enfrentado e ressignificado na estrutura do próprio ser.
A grande maioria não se dá conta de que existe um equívoco nesse comportamento, pois é justamente por meio do enfrentamento da própria sombra que poderemos encontrar uma condição mais feliz nesse mundo, portanto, estamos diante apenas de mais um mecanismo de fuga.
O grande psicólogo Carl Gustav Jung dizia: “Eu prefiro ser inteiro a ser bom”. Percebam a profundidade destas palavras, pois ser inteiro implica em integrar todos os conteúdos, por mais indesejáveis que possam parecer, para que possamos dar um novo significado para a nossa existência.
O homem vive o desespero da autopromoção, quer de todas as formas publicar o que acredita ser aquilo que tem de melhor, com isso, não percebe está de pires na mão em busca de aprovação.
É claro que existem aqueles mais sensatos, que já compreendem que o grande segredo da existência é tirar toda a importância que, quase sempre, somos compelidos a dar a ela. A vida não precisa ser mais do que já é: eterna, perfeita, indestrutível e incontaminável.
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Se você não percebe isso, sinto muito, ainda não despertou e vive como um cadáver ambulante, vivendo como um zumbi do Walking Dead que se move em direção do barulho.