No instante em que esquecemos — por descuido, talvez — aquela lista de pré-requisitos para o amor, ele chega.
O amor surge sambando na cara de qualquer um para provar que quem manda não é a sua cabeça com inúmeras restrições. Aliás, em se tratando de amor, ninguém manda, ninguém obedece, apenas ama e é amado.
Depois de passar por certas experiências na vida, tudo o que se deseja é um amor sereno e receptivo, que seja real e que se preencha pelo simples fato de ser amor. Sem combinados, sem restrições, sem preocupações com o passado alheio ou o futuro incerto. Apenas amar, amar, amar.
E o que é amar senão uma jantinha composta apenas com macarrão e boa vontade? Amar é espremer ambas as rotinas para encontrar uns minutinhos para apenas amar. Companhia no trajeto até o metrô, uma poesia que cita a cor dos seus olhos combinando com a cor do seu batom, uma rosa, um carinho discreto na mão.
Quando esquecemos as inúmeras restrições e pré-requisitos, finalmente notamos o amor – talvez, ele já estivesse ali há tempos. É óbvio que levamos um baita susto e tentamos espantá-lo alegando que não é o que queremos ou planejamos. Por falta de treino, muitas vezes, nos deparamos com o amor, mas não o reconhecemos, tal qual aquele parente distante.
Como um cachorrinho abandonado, depois de rejeitado, ele pode lembrar o caminho de volta e de fato retornar. Ou pode, simplesmente, encontrar um novo lar, mais aconchegante, mais amoroso, mais pacífico.
Descobri o amor em alguns segundos de um novo abraço. O amor chegou, parou à minha frente, mas eu não o reconheci de imediato. Após a troca de algumas poucas palavras aleatórias, um abraço involuntário me fez ter a sensação única de estar de volta ao lar.
Nas minhas décadas de vida, nunca havia sentido algo tão avassalador e incomum e, ao mesmo tempo, tão cheio de ternura e sinceridade. Era uma cor nova na paleta da minha vida, um tom diferente, aberto e cheio de brilho. Meio como se eu tivesse feito um download espontâneo de algumas lindas canções de amor, dessas que fazem o coração se encher de luz e fé.
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Eu não conhecia aquele sentimento e a minha racionalidade dizia que tanto o local quanto a pessoa eram inapropriados. Eu tinha muita certeza de que todas as cores, aquela luz refletida — tão linda — não poderia ser minha.
Como de costume, me assustei, refugiada em minha covardia. Contudo, desta vez, eu não fugi.