Na primeira e segunda parte deste artigo, exploramos algumas percepções relacionadas ao arquétipo de Lilith, como representante da independência feminina, em relação aos arquétipos de Adão e do Barba Azul, como representantes do patriarcado, e as táticas deste Masculino ferido para desempoderar o Feminino ao desconstruir seu legado milenar.
Nesta terceira parte, poderemos nos encontrar com ideias harmoniosas sobre o que pode ser feito para curar estas feridas, tanto as femininas quanto as masculinas.
Se você é mulher, poderá refinar sua percepção para fortalecer-se e libertar-se dos níveis de toxidade de uma relação estruturada no patriarcado.
Se você é homem, terá a oportunidade de alinhar sua percepção com essa “Lilith interior” que é encontrada em toda mulher, conscientizando-se sobre o aspecto adâmico de si mesmo, sobre como e quando você age para ferir mesmo que não tenha a intenção, pois é sabido que toda ação que gera sofrimento foi aprendida. Conhecendo como essa programação também o faz sofrer, poderá mudar de comportamento através do esclarecimento, escolhendo uma forma harmoniosa e leve de se relacionar. Só podemos transformar o que conhecemos.
CURANDO A SI MESMO
E aqui recebemos algumas sugestões para auxiliar no processo de cura das relações de gênero.
Dentro da Consciência, a relação entre Masculino e Feminino deve ser equilibrada, respeitosa e harmoniosa. Isso só é possível se o Masculino está em harmonia com sua anima (sua “mulher interior”) e o Feminino em harmonia com seu animus (seu “homem interior”).
Essa relação harmoniosa não é possível quando o nível de toxidade da relação aumenta, tornando-se insuportável, pois, com o tempo, quanto mais intoxicados pelas mágoas do passado em relação ao sexo oposto, mais a nossa natureza exige um processo de esvaziamento interno, o esvaziamento do outro. Porém, não fomos treinados para perceber essa necessidade.
Esse esvaziamento pode ser melhor aproveitado através de práticas e atitudes que favoreçam a contemplação e a liberação destas angústias, em que uma instância interna de nós entra em um período necessário de tempo em solitude, para conseguirmos nos esvaziar em estado de desapego do passado.
A força arquetípica de Lilith na humanidade tem mostrado que não é possível para a mulher esvaziar-se da energia masculina que a intoxicou, se ela ficar pulando de uma relação para a outra sem dar um tempo e espaço a si mesma, e isto equivale também para o homem, sendo que o mesmo princípio pode ser útil nas relações conflituosas entre pais e filhos.
Às vezes precisamos de um tempo daquilo que nos feriu, e não é através do escoramento em outra pessoa que conseguiremos nos curar com eficácia, pois é um peso muito grande colocar a responsabilidade de nossa felicidade sobre os ombros de alguém. Somos os únicos responsáveis pela nossa própria felicidade, e jamais nos realizaremos de fato, enquanto não tomarmos consciência da ilusão deste automatismo social, que nos estimula a procurar fora aquilo que só encontramos dentro de nós.
Doença de amor não é curada por outro amor doente. E amor saudável só existe quando estamos inteiros. Duas pessoas pela metade não conseguem sustentar uma relação integrada.
No mito adâmico, Lilith percebeu que para ter espaço para si mesma, precisaria aceitar a perda de Adão como homem ideal, que não a aceitava como mulher plena. Ela precisou elaborar a rejeição de Adão em sua consciência para sentir-se capaz de deixá-lo. E aceitar igualmente o fardo de ser demonizada por não querer retornar para Adão. Era preferível ser um demônio livre a viver em uma ilusão patriarcal que desejava aprisioná-la.
Assim, sabemos que a sensação de fracasso pela perda é muito comum, entramos em um período de luto. Não é comum alguém pensar: “nossa, a vida me deu um presente – ou livramento”. Para esta questão, um outro aspecto arquetípico e vivo de Lilith em nossa consciência, que é a aceitação de si mesmo, sugere uma mudança de paradigma para sanar essa vicissitude: às vezes quando você perde, você ganha. Na lenda hebraica, a nossa heroína perdeu o status de esposa para ganhar o status de mulher livre.
Logo, para curar feridas, é necessária uma ação compassiva em relação a si mesmo(a) e ao agressor(a), uma autopreservação, um respeito à própria integridade que nos leva a enxergar que o outro também merece amor e respeito, embora não tenha o direito de exigir de nós o que ele não se dá. Mas isso só é possível através do que este arquétipo de independência pede em nós como “esvaziamento do outro”, um corajoso ato de desapego e amor-próprio.
Um coração cheio de sujeira emocional não está apto para perceber quando outro amor chega.
Quando um cão é mordido em uma briga, o que ele faz depois? Isola-se para lamber as feridas a fim de saná-las.
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Neste processo, o afastamento saudável é fundamental para a cura, lembrando que toda intenção e decisão final deve partir do coração, pois somente o coração é portador da vontade que transforma.