Doutrina Espírita Espiritualidade

Vida e dever

Escrito por Antônio Navarro

Sendo variável o grau de consciência diante da vida, em função da individualidade e diversidade da maturidade humana, também o é a aplicação de valores morais na vida de relação.

As leis humanas, que têm se desenvolvido ao longo do tempo em busca de melhores condições de convivência social, não só não são conhecidas em sua totalidade por todos os membros da família humana, como não são compreendidas em sua extensão e aplicabilidade, mas nem por isso exime alguém de suas responsabilidades diante da vida e da sociedade.

Temos, então, instalado o Dever como obrigação moral, individual e coletivamente. 

Em Paris, no ano de 1863, o Benfeitor Espiritual Lázaro ditou uma orientação intitulada ‘O Dever’, que posteriormente foi inserida por Allan Kardec no livro ‘O Evangelho Segundo o Espiritismo’, e pretendemos, abaixo, tecer pequena análise do texto – em itálico – para nossas reflexões.

“O dever é a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida: encontra-se desde os menores detalhes, assim como nos mais elevados atos. Refiro-me apenas ao dever moral e não ao dever que as profissões impõem.”

Estabelecido como Lei Divina, o Dever se apresenta em diversos níveis, sempre vinculados à Moral, ou seja, aos valores humanos no que eles tem de mais sagrado.

“Na ordem dos sentimentos o dever é muito difícil de ser cumprido, pois se encontra em antagonismo com as seduções do interesse e do coração. Suas vitórias não têm testemunhos e suas derrotas não estão sujeitas à repressão. O dever íntimo do homem é governado pelo seu livre-arbítrio, este aguilhão da consciência, guardião da integridade interior, o adverte e o sustenta, mas permanece, muitas vezes, impotente perante os enganos da paixão. O dever do coração, fielmente observado, eleva o homem, mas, como este dever pode ser determinado? Onde ele começa? Onde termina? O dever começa precisamente no ponto onde ameaçais a felicidade ou a tranquilidade de vosso próximo, e termina no limite em que não desejaríeis vê-lo transposto em relação a vós mesmos”.

Como sentimento, o Dever precisa ser trabalhado no sentido da desvinculação com o orgulho, o egoísmo e a vaidade, que são as paixões mais difíceis de serem exterminadas, por isso, vitórias e derrotas são de foro íntimo, e dizem respeito à consciência individual de cada um. Só com a firmeza de propósito se adquire progresso nesse campo, que tem como balizamento a figura do “próximo”.

Nesse sentido é que o Senhor Jesus apresenta a recomendação de se fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fosse feito.

“Deus criou todos os homens iguais perante a dor; pequenos ou grandes, incultos ou esclarecidos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um avalie com sensatez o mal que pôde fazer. O critério para o bem, infinitamente mais variado em suas expressões, não é o mesmo. A igualdade perante a dor é uma sublime providência de Deus, que quer que seus filhos, instruídos pela experiência comum, não cometam o mal, alegando a ignorância de seus efeitos”.

O princípio da igualdade entre as criaturas atende o princípio da Justiça e Inteligência Divina, mas com a liberdade de escolha diante da vida, cada Ser a experimenta de acordo com seu estado de consciência.

“O dever reflete, na prática, todas as virtudes morais; é uma fortaleza da alma que enfrenta as angústias da luta; é severo e dócil; pronto para dobrar-se às diversas complicações, mas permanece inflexível perante suas tentações. O homem que cumpre seu dever ama mais a Deus do que às criaturas, e às criaturas mais do que a si mesmo. É, ao mesmo tempo, juiz e escravo em sua própria causa”.

O entendimento da necessidade de se cumprir com os deveres não só fortalece a Criatura para os embates da vida, como a fortalece para vencer as tentações do mundo, e a prática das virtudes é demonstração de amor a Deus e a seus filhos, nossos irmãos.

“O dever é o mais belo laurel da razão; provém dela, como um filho nasce de sua mãe. O homem deve amar o dever, não porque o preserve dos males da vida, aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas sim por dar à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.”

No parágrafo acima o Benfeitor vincula o Dever à Razão. A lógica nos direciona para a necessidade de cumprirmos com o Dever, porque os benefícios decorrentes são experimentados exatamente por quem os cumpre.

Daí resulta o que se chama Fé, que já não mais pode ser cega e fundamentada em dogmas, mas sim raciocinada e vivida com a tranquilidade proporcionada pelo conhecimento de como e para que o mecanismo Divino trabalha.

“O dever cresce e se irradia, sob forma mais elevada, em cada uma das etapas superiores da Humanidade; a obrigação moral da criatura para com Deus nunca cessa; ela deve refletir as virtudes do Eterno, que não aceita um esboço imperfeito, pois quer que a beleza de sua obra resplandeça perante Ele.”

Benfeitor Espiritual de alta envergadura moral, Lázaro finaliza a instrução ratificando o entendimento que o sentimento do Dever se desenvolve à medida em que avançamos em termos morais, em direção a Deus, e que a obrigação de se cumprir com o Dever nunca desaparecerá, ao contrário, sempre estará presente atendendo ao amor infinito de Deus por seus filhos.

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A Divindade deixa, em nome do amor que respeita, nosso livre arbítrio, o campo em aberto para que cada um, recebendo segundo suas próprias obras, conforme asseverou Nosso Senhor Jesus Cristo, possa amadurecer em tempo próprio, conscientemente.

Pensemos nisso.

Sobre o autor

Antônio Navarro

Orador espírita e Membro da Diretoria do Centro Espírita Francisco Cândido Xavier em São José do Rio Preto - SP.

Articulista espírita dos seguintes meios de comunicação:

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