Na perspectiva da Meditação, a maior doença do ser humano é o excesso de pensamentos involuntários, pois eles são a causa raiz da enorme maioria das dificuldades pelas quais passamos na vida.
Em algumas pessoas, prevalece determinado grupo de pensamentos involuntários que gera uma ou outra perturbação específica, enquanto que, para outras, esse grupo de pensamentos é diferente, gerando outras perturbações.
Assim, umas tendem a ser, por exemplo, mais depressivas, outras mais ansiosas, outras mais raivosas, outras mais gananciosas, outras mais medrosas, outras mais prepotentes, outras mais orgulhosas, como se cada pessoa tivesse seu “aparelho de rádio” ligado em determinadas “estações” com programações voltadas a manter e a fortalecer esse ou aquele distúrbio.
Da mesma maneira que uma pessoa que mora em um lugar com o ar muito poluído acaba se acostumando com essa poluição e deixa de se dar conta dela, também nos acostumamos com a nossa poluição de pensamentos e deixamos de nos dar conta dela. Em ambos os casos, esse acostumar-se com a poluição não significa deixar de ser afetado e prejudicado por ela.
Dessa maneira, o primeiro passo para serenamente procurarmos soluções é nos darmos conta da nossa real situação e dos malefícios que ela traz.
A Meditação gera o aflorar do antídoto dos pensamentos involuntários, e o nome desse antídoto é “Presença”.
Presença: período de perceptividade contínua à realidade sem pensamentos intercalados entre as diferentes percepções.
A Presença é o nosso Ser Verdadeiro, não contaminado pelo ego, pelos pensamentos desnecessários e pelos condicionamentos.
À Presença estão intrinsecamente associadas qualidades como a criatividade, a sabedoria, o bem-estar pleno, a serenidade, a amorosidade e o silêncio interior, por exemplo.
Ela não é o acúmulo do passado e não é uma entidade previsível, como é o ego, mas simplesmente a consciência que observa, de uma maneira neutra, tanto a realidade externa como o próprio corpo, as emoções e os pensamentos disponíveis à nossa percepção no momento presente, e a partir dela surge o fluir adequado à situação vivida.
Parece simples, banal, mas a tendência de nossa mente é logo provocar algum pensamento involuntário desnecessário, o que imediatamente nos tira a consciência da realidade presente, podendo esse pensamento adquirir a forma de um julgamento, uma opinião, um desejo, uma imagem mental, uma lembrança… Esses pensamentos involuntários desnecessários são o que chamamos de “dispersões” durante a Meditação.
No início das práticas de Meditação, os períodos de dispersão são muito longos, e o objetivo é torná-los cada vez mais curtos. E como torná-los mais curtos? Pegando em flagrante os pensamentos involuntários que surgirem, pois só assim conseguiremos interrompê-los e voltarmos nossa atenção para a realidade presente. Sem pegá-los em flagrante, os pensamentos involuntários prejudiciais seguem em frente…
Nossa intenção na Meditação é permanecermos continuamente presentes, embora nela, em geral, conseguimos estar apenas em um grau maior de Presença do que o nosso normal, e não em nosso auge de Presença. Sim, devemos nos mobilizar a chegar a esse auge, mas basta um grau maior de Presença para já considerarmos a nossa prática como proveitosa.
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Por isso, não convém definir Meditação como não pensar, pois nela é muito comum os pensamentos ocorrerem, e nem por isso essa prática deixará de ser uma Meditação. Assim, ao ocorrerem pensamentos durante nossa mobilização para permanecermos continuamente presentes, o ponto importante passa a ser pegá-los em flagrante, não nos identificarmos com eles e interrompê-los, ao voltarmos nossa percepção para a realidade presente.