Pensemos que o amor é um carro sendo conduzido por uma estrada imensa e cheia de vias duplas, cruzamentos, subidas, descidas, curvas e até paragens. O bom é que este carro pode fazer o que quiser nesta estrada. Se estiver numa via única, pode ser que este automóvel seja tão evoluído que se baste e só precise seguir o seu trajeto.
Talvez nosso automóvel precise e goste de permanecer sozinho na estrada por um determinado tempo da viagem. Acredito que todos precisamos aprender a conduzir apenas apreciando a paisagem da estrada, sentindo aquela brisa no rosto, sem um único som, apenas admirando e respeitando a sinalização.
Pode ser que o motorista tenha derrapado em alguma curva sinuosa e avariado um pouco a lataria, quebrado a lanterna e até se machucado. Mas nada que não tenha conserto e cura. Alguns arranhões contam aventuras incríveis. E, com certeza, torna este carro e seu motorista únicos.
Pode ser também que este carro precise de uma paragem para trocar pneus, abastecer ou simplesmente descansar o motor. Porém, atenção com o tempo. Ele pode apenas descansar as engrenagens para prosseguir serenamente ou esfriar demais, travar e causar danos irreversíveis ao motor. Mas, se seu automóvel está nas vias duplas, atenção ao que a estrada te reserva. Atente-se ao percurso e sua sinalização.
Muitos carros vão cruzar seu caminho, alguns vão ultrapassar, outros te seguir por um período e até descansar com você, alguns vão pedir carona e uns poucos vão dividir a condução deste carro contigo. Esta é a melhor viagem, independentemente da estrada. Deixe dirigi-los com você. Não seja o único a percorrer o caminho. O outro motorista também precisa de treino e descanso. Retribuição e condução conjunta ainda é o melhor combustível para o amor.
Eu, embora seja bastante espiritualizada, ainda não elevei a minha alma a ponto de não precisar de um amor carnal. Portanto, penso que amor sem retribuição pode ser uma grande forma de punição. Acredito em distribuir amor, seja a quem for, mas quando você está num relacionamento precisa ter a atenção, o carinho e o respeito que você dá. Do contrário, parece sentimento para mártires!
Imagine ter uma amiga que você está sempre ouvindo, aconselhando e comemorando suas glórias, mas que nunca pode ouvir, sofrer ou comemorar por você? E um casal onde o outro está sempre a compreender, tolerar, aceitar, esperar? Será mesmo uma parceria benéfica?
Sei que é melhor criar elefantes rosas do que expectativas, mas faz parte! E nem sempre a falha e o desamor está em você, na sua visão. Às vezes, o outro realmente não está pronto para aquela experiência ou simplesmente não está pronto para você e o seu amor.
Não é a velha história de que alguém vai te completar, pois já entendemos que isto não existe, mas entendermos que talvez, naquele momento, aquela pessoa e/ou experiência não se adeque a nós e às experiências que queremos. Então, precisamos saber a hora de amorosamente nos retirarmos de um relacionamento que não nos honra. Não é que você deixe de amar, apenas vai amar à distância, de uma nova maneira, pois o seu tempo de receber aquela experiência pode ter esgotado.
Se uma situação amorosa não lhe deixa confortável, é melhor transmutá-la e dar a chance das partes serem amorosamente felizes de outra forma. É o deixar de ser mártir e usar o poder que há em você para seguir adiante. É se desapegar para evoluir. Evolução implica escolhas e cada escolha traz uma renúncia.
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No entanto, se você tem medo ou culpa pode se prender numa situação embaraçosa, na qual você fica numa condição de não receber o que distribui. Isto é um erro capital. É desamor por você mesmo e, quem não ama a si, verdadeiramente não ama o outro, apenas tem uma necessidade de viver aquela experiência.
Portanto, saiba que se você ama sozinho, talvez seja melhor guardar a história no coração e seguir sua vida adiante, pois quem tem tanto amor a ponto de não precisar ou querer retribuição, deve continuar a distribuí-lo a todos, sem exceção.