Relacionamentos talvez seja um dos temas mais difíceis de serem abordados, mas não há como negar que todo mundo gosta de dar um pitaco quando o assunto é esse. Opiniões se divergem, pontos de vista são colocados em cheque, porém é quase certo que há uma unanimidade declarando aos quatro ventos a dificuldade de conseguir começar e manter um relacionamento nesta era moderna.
O sociólogo polonês Zigmunt Bauman é considerado o pai do pensamento moderno e escreveu, ao longo de sua vida (ele morreu em janeiro deste ano), uma obra extensa, com mais de 50 ensaios sobre o discurso que envolve as relações humanas pós-modernidade. O termo batizado por ele de “líquido” se aplica à superficialidade dos vínculos e demonstra como a humanidade está caminhando rumo a uma existência cada vez mais individualista. Como estudioso do caso, Bauman abordou essa temática no livro “Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos”. O próprio título já oferece uma introdução do que ele pensava.
Aparelhos eletrônicos, celulares, notebooks, tablets e uma parafernalha sem fim são alguns dos itens levantados pelo pensador que nos leva a uma realidade não mais tão real, mas virtual. A facilidade de manusear tais utensílios e os serviços inclusos em ambos representam, sem dúvida, um marco histórico do qual não podemos nos queixar. A civilização avança em meio à tecnologia e não há como retroceder tais avanços, já que a tendência é uma evolução ainda maior neste campo. Mas o que se levanta em meio a este cenário é o fato dessa facilidade estar mexendo com as pessoas a ponto de desequilibrá-las emocionalmente. As redes sociais, os aplicativos de encontros e as plataformas digitais que viabilizam o contato com pessoas que possuem os mesmos gostos musicais moram perto ou até mesmo do outro lado do mundo, por exemplo, nos deram um meio de medir o quanto estamos conectados aos outros e o quanto essa conexão possibilita a abertura de um leque recheado de opções.
Você conhece uma pessoa, começa a conversar, vocês se dão bem, o papo é legal, marcam de se conhecer, saem, acontece todo um processo que dá a entender que as coisas estão indo razoavelmente bem, mas depois de um tempo algo já começa a incomodar: questionamentos e suposições surgem e o primeiro ato bobo que o outro cometer será a deixa para dispensar o pretendente, que agora compõe a lista dos “não deu certo”. Em seguida, o andamento é o mesmo. O ciclo vai se tornando rotina e, com o tempo, as perguntas do tipo “por que não consigo ficar com ninguém?”, “o que estou fazendo de errado?”,“ qual será o meu problema?”, “vou morrer sozinho(a)?” surgem e só se intensificam.
O que muita gente não sabe é que este comportamento é mais comum do que se pensa. A nova geração cresceu num mundo dependente da tecnologia. As chamadas “facilidades” já citadas acima nos tornam impacientes, nos tiram a sensibilidade com o outro, já que na bandeja de ofertas outros virão e poderão ser ainda melhores do que os anteriores. Ficar com alguém por muito tempo começa a assustar e a estabilidade se mistura ao tédio e ao medo. O sexo agora é uma questão normal, sem tabus, sem dogmas ou caretice, não mais vista com olhos puritanos de antigamente. E o cardápio, que ao mesmo tempo é vasto, se transforma em uma mesa posta com aperitivos rápidos, sem muito sabor.
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Infelizmente, o panorama que temos é o de uma mercadoria sendo comprada no mercadinho da esquina. Quando um acabar, outro repõe e supre as minhas necessidades. É muito simples fazer a troca e não há dores de cabeça. E assim caminha a humanidade, com seus anseios e desejos em meio a um ambiente de adaptação. É fato que as críticas aparecem; no entanto, se enquadrar nesse emaranhado de mudanças também não é nada fácil, já que fomos empurrados, de certa forma, a esses hábitos. O que nos resta é a tentativa de nos mantermos sãos e despertos, sempre conscientes. Tentar criar outras alternativas de interação, sair mais com os amigos, prezar as chamadas telefônicas e o contato com a família, além de fazer um resgate de valores antigos; tudo isso na dosagem certa. A perda de tato humano pode levar à destruição de nossa espécie e não se sabe aonde vamos depois daqui, só o futuro dirá…
Antes de mais nada, permita-se algum espaço para mostrar a sua essência. Permita que os outros também mostrem. Entenda que todos temos defeitos, que somos imperfeitos em nossa condição de humanos e que não existe nenhuma fórmula mágica para construir um relacionamento perfeito. Tenha empatia, seja sábio, honesto e, acima de tudo, amigo. Esses são alguns elementos básicos para construir qualquer tipo de relação saudável. Busque dentro de si aquilo que deseja do parceiro. Lembre-se sempre de que semelhante atrai semelhante. Assim, não há como essa conta dar errado.
Juliana Alves da Equipe Eu Sem Fronteiras.