Me correspondo com o silêncio como quem discursa com o tempo a teimosia de não passar. Sem ato falho e sem procurar clima ameno, percebo, na inconstância, um jeito sutil de se comunicar. As falas perdidas me soam bagunçadas e sem necessidade de prescrição. As pessoas têm se perdido em meio a tanto barulho, quando talvez o remanso da própria consciência fosse a melhor solução.
Todos os passos estão inconscientemente fadados aos julgamentos alheios, e isso me entristece por não ser a aura que necessariamente precisa corresponder. Entendo que os limites são ecótonos sempre recentes, daqueles que só com a vida aprendemos a obedecer. Minhas paixões são profundas e minha observação é um canal infindo. Talvez por isso me acusam de ser tão séria, entendendo que minha preocupação é perder o tal do tino.
Pelo contrário, meu peito infla e se envaidece a cada olhar de quem procura. Sentada no bar, olhando o entorno, na verdade, estou dialogando com quem se perde, nem que seja um pouco na minha compostura. Sou a orelha fria dos sonhos mais bizarros, a plataforma que varia entre o disforme e o destoante. A olhar pelas brechas de quem anda distraído, sou a inocência que sabe exatamente o que as pessoas querem que se leve adiante.
Perco horas percebendo e pouco, ou nada, falo sobre isso. Não sou de cantar vitória ou contar roteiros, escrever é a minha forma letrada de dividir detalhes daquilo que acredito. Ainda assim, pasme, tem quem tenha a audácia de me cobrar abertura. Nesse momento, sinto a exata realidade de quem não me conhece, pois cada texto é a maior exposição daquilo que, de outra forma, permaneceria sempre como uma coisa oculta.
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Lê minhas paixões, minhas fraquezas e minhas pessoas. O grande problema é a preguiça de quem faz vista grossa e precisa de alguém que apenas se doa. Sou uma criança madura, vestida de muita experiência em um curto período de tempo. Todas as coisas que já fiz, em um intervalo pequeno de vida, me engrandecem aos olhos de quem me contempla ao olhar para dentro.
Mas o silêncio sempre volta e intimida os arredores. É mais barulhento pela discrição e pelo jeito de entorpecer. Se eu pudesse, levaria uma placa grudada no meu peito, cujo alerta seria: não tenha medo, ela apenas escreve tudo o que lê.