Ouvi outro dia alguém dizer que a ansiedade faz a vida parar enquanto a mente se movimenta o tempo todo. Achei essa frase muito bem colocada. A ansiedade causa isso mesmo: a vida presente fica em modo “off” e a mente acelera no modo “on”. Pensa-se em tudo ao mesmo tempo, principalmente no futuro.
A imaginação fervilha entre medos: medo de fracassar, de tentar, de recuar, de dizer sim, de falar não. Medo de que as coisas não deem certo e medo de que tudo dê certo. É uma vida em suspenso no momento presente. O futuro ocupa um espaço gigantesco, vira prioridade, mas não se sabe o que fazer com ele. São tantas tragédias, tantos perigos que a mente coloca à nossa frente que não sabemos o que fazer. Qual o caminho a seguir?
É tudo tão incerto que todo aquele turbilhão efervescente começa a se espalhar pelo nosso corpo em forma de insônia, dores de cabeça, dores nas costas e articulações, falta ou excesso de apetite, sudorese, tremores, tiques, falta de ar e muitos outros sintomas. Quando a ansiedade atinge um limite insuportável transforma-se em fobias, crises de pânico, estafa e até depressão.
No mundo moderno onde temos acesso a tantas facilidades esperava-se que a vida ficasse mais fácil, mas infelizmente o que se vê são as pessoas cada dia mais ocupadas e levando uma vida atribulada. As crianças precisam ir mais cedo para a escola por conta dos pais e outros responsáveis que não podem ter o tempo que gostariam para cuidar de seus rebentos.
Além das aulas normais, os pequenos têm suas vidas preenchidas com as mais diversas atividades: natação, balé, teatro, capoeira, artes marciais, aulas particulares. Tudo isso é muito bom, mas será que é necessário? Ou melhor, será que a criança deseja tudo isso? Ou será apenas o desejo dos adultos? Está havendo espaço para as brincadeiras saudáveis? Quanto tempo elas ficam em frente à tv, computadores e celulares?
Quanto aos adultos: temos realmente tempo para nós? Um tempo saudável onde possamos desfrutar de um café, uma música, uma boa conversa? Abraçarmos uns aos outros, falarmos olhando nos olhos e não por mensagens, nos reunirmos para um bom bate-papo (sem celulares), irmos ao cinema, ao parque, caminhar, ler, escrever um diário, fazer uma caminhada, um trabalho manual, sorrirmos de verdade, ajudarmos alguém?
Já não existe tempo para o outro, pois temos quer ir fazer compras, pagar contas, ir ao médico (muito mais do que desejaríamos), comprar, comprar, comprar, nos estressarmos no trânsito, falar mal de alguém, e por aí vai. A lista de afazeres é imensa. Temos que arrumar tempo para tudo, menos para nós mesmos, para a nossa família, para nossos amigos, para a vida real.
E o que é a vida real? A vida real é aquela onde eu não me sinto coagida, eu não preciso dizer sim sem sentir vontade. É onde eu posso me sentir bem de verdade, me sentir acolhida, me sentir amada, respeitada. É onde o futuro pode ter seus imprevistos, mas eu estarei mais preparada, onde eu posso viver o presente e respirar fundo, sorrir mais e abraçar mais ainda.
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Essa é a vida real que muitos de nós perdemos pelo caminho. Mas existe sempre a chance de voltar, de retomar e escolher se assossegar, fechar os olhos, respirar por alguns momentos e pensar no bem, entender que a ansiedade é inimiga e que pensar no futuro de vez em quando é bom, mas que é no presente que devemos estar sempre. O passado já foi e não podemos alterá-lo. O futuro ainda não veio, portanto, não podemos temê-lo, e o presente é nosso. Cuidemos muito bem dele.