Cá entre nós: uma briguinha é sempre uma espécie de gás para relações entorpecidas pela rotina e pela falta de encantos dela decorrente. Por outro lado, essa história de “discutir a relação sem firulas” tem lá o seu fundamento de verdade, chega um momento em que só o confronto pode vir a ser o revitalizador da relação, a oportunidade para colocar os pingos nos “is” e tudo voltar aos tempos do “só vou se você for”. Contudo, o grande problema desses confrontos é que eles podem degenerar para trocas de insultos e para ver quem corta mais fundo no outro, o que nada tem de bom.
Em casa, não é um bom lugar, pois tudo leva a crer que exista uma regra do tipo “vale tudo”, quando se trata de discutir assuntos delicados entre as paredes de casa. Não raro, a coisa desbanca para berros, ofensas e esgrima entre argumentos cortantes, daqueles com lâminas cegas e enferrujadas e tudo dói demais. Não é um bom lugar.
Um local daqueles bem barulhentos e agitados pode vir a ser a ambiência adequada para ajustar diferenças entre as pessoas. Aquela balbúrdia das vozes ativadas pelos drinques, mais as gargalhadas, a cantoria dos mais animados e – que beleza! – com aquele ruído de turbina de aviões que vem do liquidificador com que se fazem as batidinhas disso e daquilo, realmente ajuda muito! Se tiver música ao vivo e umas TVs ligadas em jogo de futebol, aí sim é que se tem as condições ideais para uma briguinha básica!
Explico essa aparente insanidade da minha parte. Veja bem: se o ambiente é público, a tendência é que se iniba as manifestações menos elegantes, os possíveis palavrões e as mexidas na roupa suja emocional que todos carregamos, quanto mais não seja pela vergonha de se vir a “pagar um mico”. Então, essa prevenção de constrangimentos acaba vindo a calhar: ajuda muito a que sejam verbalizados os sentimentos com algum comedimento e até elegância, o que, de fato, é muito bom para pavimentar os caminhos do entendimento na briguinha básica. Funciona.
A cacofonia reinante nesse ambiente (barzinhos, pizzarias, restaurantes daqueles imensos e com precinhos atraentes), por exemplo, ajuda a que ambas as partes se esforcem muito para ouvir e entender a outra! Verdade! E esse esforço de entendimento do que diz o interlocutor leva a que se preste muita atenção nas suas palavras, que estão isoladas da zoeira do ambiente e PIMBA!
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O sentido, a emoção e a cascata de sentimentos envolvidos conseguem ser compreendidos! Isso mesmo, o esforço de se focar apenas no interlocutor cria a necessária sintonia para um compartilhamento mais elaborado e, sem exageros, possibilita a conciliação e a transformação da briguinha básica em entendimento temperado em doçuras e sentimentos de pura e quase infinita paz!