Para a maioria dos seres humanos aceitar que tem um desapego para fazer é talvez um dos trabalhos mais intensos e dolorosos para ser feito. Mas, afinal, do que se trata essa aceitação e esse desapego?
Nesta sociedade moderna e demasiado industrializada, andamos todos à procura de algo que nos mantenha em pé, sem bloqueios e, de preferência, com todas as células oxigenadas. O esforço para levarmos as nossas vidas adiante sem sobressaltos, por vezes, roça os meandros do sofrimento.
Hoje em dia sofremos por tudo e, por vezes, se parássemos para refletir, para olharmos para o nosso interior, esse tudo é quase nada – sim, quase nada. O nosso sistema de crenças aqui também nada ajuda, a crença do orgulho, por exemplo, seria desnecessária e desbloquearia muita da nossa energia.
Andamos anos a rejeitar e a lamentar o que tanto mal nos faz, muitos dos nossos dias são gastos com esta energia da lamentação, da tristeza e da vitimização, em vez de trabalhar a aceitação. Mas vejamos com calma: com todas as lacunas que vão aparecendo nas nossas vidas e estando assim mais fragilizados e “vazios” é verdade que nos apegamos a tudo e a todos com mais facilidade.
Existem muitos seres que estando integrados numa família estão cada vez mais sós. Cada vez menos se dialoga, já não telefonamos… apenas mandamos mensagens. Dá mais trabalho, mas nos escusamos de ouvir vozes… somos nós que procuramos o isolamento e tudo isso porque não nos apetece falar e porque estamos apegados aos nossos pensamentos menos positivos, ao que de menos bom nos fizeram passar.
Seria bom nunca esquecer uma máxima importante: “Nunca deixes que o dia de ontem ocupe demasiado o dia de hoje”. A insistência em procurar lá fora o que muitas vezes (ou quase sempre) temos bem dentro de nós torna-se também um processo cada vez mais aflitivo e sofredor.
Com o apego, muitas vezes sem darmos conta, instala-se o medo e a resistência, e isso acontece porque se algo não corre bem, desapegar-se do que quer que seja é tudo, menos pacífico. Muitos sentem que este apego lhes faz falta, já não vivem sem ele. Nós não sabemos, infelizmente, viver só no momento presente, no “Aqui e Agora”. É por essa razão que criamos apegos fortes ao passado e projetamos para o futuro.
Cada um deve ter sempre presente que está a criar a sua própria realidade, desde o que faz, pensa, como se alimenta e como gere a sua vida. Da mesma forma que praticamos o apego sem nos darmos conta, também existe uma necessidade imperiosa e urgente de praticarmos o desapego.
Devemos aceitar tudo na vida, o positivo e o negativo. O positivo é fácil de aceitar e arrumar. Vamos comparar o nosso cérebro ao roupeiro lá de casa com gavetas, gavetas essas que gostamos de ver arrumadas. Vamos comparar as situações ou problemas que chegam às nossas vidas a uma peça de roupa que vamos higienizar com o melhor detergente, o melhor amaciador, colocamos a secar, sem uma única nódoa. A seguir vamos engomar, dobrar amorosamente e colocar a nossa peça de roupa perfumada na gaveta.
Quando, ao fim de algum tempo, precisarmos daquela peça, iremos abrir a gaveta e ela correrá lindamente sem ficar presa, o mesmo se passa com o nosso passado quando está devidamente arrumado. Quando alguma situação vem à nossa mente, não será sofredor, uma vez que se aceitou, trabalhando-se o desapego, o deixar ir.
Quando deixamos ir as situações, mesmo as mais penosas em amor e carinho, não sofremos quando delas falamos. O desapego foi feito corretamente, ainda aprendemos algo por certo e não haverá gastos desnecessários de energia.
Se, pelo contrário, essa peça de roupa estiver mal lavada, mal engomada e toda enrugada na gaveta, quando tentar abri-la, ela não correrá, talvez até nem se abra, e volta tudo de novo: o sofrimento, ressentimento, arrependimento e, por vezes, a raiva que nos consome por dentro.
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Deixo um conselho, que dou sempre aos meus pacientes: aceite, arrume e desapegue! Irá sentir-se por certo mais aliviado! Não sofra mais…