Esse assunto é, de fato, muito falado e uma busca rápida no Google retornou cerca de 179 milhões de resultados. “Zapeando” por algumas páginas, encontrei dicas do tipo: resgate seus amigos de infância, faça contato com as “pessoas-fim” (que são as que têm poder de decisão), mas não despreze as pessoas-meio (que são as informantes e intermediárias), afinal todas as pessoas podem ajudar ou atrapalhar seus interesses, na dúvida, seja agradável com todos.
Excelentes dicas, não? Realmente, não se faz nada sem pessoas e tudo o que fazemos é para pessoas. No entanto eu fico me perguntando se gostaria de estar na agenda de alguém como um “contato-fim” ou um “contato-meio” ou quem sabe “amiga de infância – resgatar contato” ou ainda como “informante”. Acho que não e, talvez, você também não queira ter esta alcunha que soa tão egoísta e superficial.
Mas será que o networking precisa realmente ser assim? Será que podemos buscar as pessoas, não apenas com o intuito de sermos favorecidos de alguma forma, mas imbuídos de um legítimo interesse, isto é, nelas por elas mesmas desprovidas de seus cargos ou circunstâncias?
Há um livro excelente escrito em 1936 por Dale Carnegie intitulado “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, que apesar do título sugerir ser possível fazer amigos com a mesma facilidade com que compramos bananas, não é bem esta a mensagem que ele transmite. Esse livro já passa da quinquagésima edição e já vendeu mais de 50 milhões de cópias no mundo inteiro. Da leitura, é possível extrair preciosas lições como: “Para ser interessante, seja interessado”; “Se você mostrar um verdadeiro interesse pelas outras pessoas, não apenas conquistará amizades como também atrairá clientes para a sua empresa”, “Se quiser ser um bom conversador, seja um ouvinte atento”.
Essas frases revelam a essência do verdadeiro networking, em minha opinião, que consiste em: não se relacione com as pessoas simplesmente pelo que elas podem lhe oferecer, mas pelo simples fato de serem pessoas. Se formos capazes de enxergar os outros como eles são na essência, desprovidos de seus cargos e circunstâncias, poderemos dedicar ao outro um interesse legítimo, e assim seremos capazes de mais do que meros contatos para acionar num momento conveniente, fazer verdadeiros amigos.
Haenim Sunin, um monge budista e autor de um livro que gosto muito, diz que: “Quando se é genuinamente gentil, sem segundas intenções, os outros se abrem para você com mais facilidade.” Pois é, só quando nós estamos “intoxicados como o próprio ego”, para usar uma expressão apropriada de Dale Carnegie, é que nos enganamos ao ponto de subestimar o outro e atribuir-lhe a posição de mero facilitador de nossos interesses.
Quando agimos assim perdemos uma excelente oportunidade de conhecer e compartilhar o lado mais humano das pessoas e de estabelecer laços verdadeiros e profundos baseados em confiança, respeito, reciprocidade e amizade.
Com certeza, networking é um conceito que precisa ser revisitado e reformulado. Contatar pessoas com intuito de “estocá-las como provisões” para eventuais e futuras necessidades, decididamente, não é lá muito digno de um ser humano do século XXI. Eu diria até que, além de extremamente egoísta e retrógrado, é bem deselegante.
É como diz o Dr. Nicholas Murray Buttler, citado por Dale Carnegie: “O homem que pensa somente em si é irremediavelmente deseducado”, independentemente do seu grau de instrução.
Se vamos buscar construir uma rede de relacionamentos, seria interessante dar espaço e oportunidade também para as pessoas que, eventualmente, podem precisar de nossa ajuda, e não somente para aquelas que podem nos ajudar num momento de necessidade.
Afinal, todos nós temos alguma coisa, algum dom ou potencial que pode ser determinante para o sucesso do outro, não se subestime tanto. Precisamos aprender a equilibrar as correntes do “doar” e “receber” em nossas vidas. Aliás, se você quer receber, comece doando.
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