É sobre isso que esse texto vai tratar, sobre a dor de perder um pai e como é a vida após isso!
“Engraçado” como as coisas estão sempre interligadas e como somos ingênuas diante da força do Universo. Ontem, após enfrentar alguns dias não tão bons, tive uma crise muito forte de enxaqueca que me levou ao hospital. Fiquei algumas horas lá sozinha, e na volta pra casa fui tomada por uma saudade imensa do meu pai. Talvez por estar me sentindo frágil, e ele que sempre foi meu símbolo de proteção, se projetou automaticamente em mim, e foi impossível pensar pela milésima vez como seria minha vida se ele ainda estivesse vivo. (Só para situar vocês, meu pai desencarnou há 15 anos e alguns meses. 1 mês depois de eu entrar para a faculdade e 15 dias após completar 18 anos.)
Pois bem, fui pra casa descansar e ainda sob os efeitos dos medicamentos recebi a triste notícia que o pai de uma das minhas melhores amigas tinha acabado de morrer. Surreal, porque quando essas coisas acontecem é inevitável não reviver tudo, não sentir a dor que ela está sentindo, não querer estar ao lado dela, assim como ela esteve do meu, não pensar em todo o processo que ela vai enfrentar e saber que ontem se abriu uma ferida em seu coração que vai doer para sempre!
Grande parte das minhas amigas mais próximas já vivenciaram essa dor, fui uma das primeiras e isso me deixou com o um olhar mais observador sobre essa questão, que infelizmente acontece todos os dias.
E vi a vida de cada uma delas se transformar. Todas, assim como eu, tinham uma relação muito próxima com seus pais, de muito amor, carinho e cuidado. Tinham ali naquele homem a representatividade do porto seguro, do colo, refúgio e fortaleza. Sabiam que não estavam sozinhas no mundo.
Enxergo muito também como nossas mães lidaram com tudo isso, tirando uma, todas eram casadas e perderam além do pai dos filhos, o marido e amor. Algumas tomaram a frente da casa e família, já outras não souberam lidar muito bem com o ocorrido. A minha foi uma guerreira, é o meu maior orgulho! Enfrentou situações muito delicadas, já que a morte do meu pai trouxe à tona diversas questões do passado, além é claro dela ter que lidar com a criação de dois filhos adolescentes. Depois de um breve luto, ela renasceu, se reinventou, mas sei que nesse processo um pedacinho dela morreu junto e ficou enterrado lá atrás. Mas ela foi brilhante, cumpre seu papel até hoje com excelência, e nada do que eu diga ou faça nessa vida será o suficiente para dizer o quanto sou grata.
O fato é que sempre questiono sobre a minha vida e das minhas amigas quando algo bom ou ruim acontece com a gente. Como poderíamos ter tomado caminhos completamente diferentes, como poderíamos estar mais bem amparadas em certas dificuldades, como o colo deles nos confortaria e como nossas conquistas seriam ainda mais felizes vendo aqueles sorrisões e olhares de orgulho.
Mas como acredito que cada um tem seu tempo nessa encarnação, sua jornada particular, só me resta praticar constantemente a aceitação e gratidão. Porque se tem uma coisa nessa vida que eu sou é grata por ter podido conviver com um pai amoroso. Com todos seus defeitos, mas sempre amigo, compreensivo, incentivador das minhas loucuras, que trabalhou para que eu fosse uma pessoa de bem e feliz.
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Agradeço sempre cada instante dos 18 anos e 15 dias que ele esteve ao meu lado. Se sou jornalista é por sua total influencia, dos domingos que passávamos juntos lendo livros e revistas em quadrinhos da Turma da Mônica. Se amo esportes é porque ele sempre me incentivou a praticar de tudo um pouco e me acompanhou em todos os meus jogos oficias ou não. Estava lá na arquibancada vibrando e torcendo. Se tenho esse humor bobo é de tanto ouvir suas piadas que ninguém achava graça, mas que eu ria muito. E se amo música, mas sou desafinada que dói, é porque, como diz minha mãe, herdei o não- talento dele!
Enfim, cabe a nós que passamos por essa experiência buscar ferramentas para lidarmos com esse fato, que vai nos acompanhar pelo resto de nossas vidas, da melhor forma possível. Que a dor seja a menor possível, que saibamos acolhê-la, respeitá-la, mas também transpô-la. E que consigamos preencher nossos corações de amor sempre!
E que bom que eu e minhas amigas temos umas as outras pra dividir a dor e compartilhar amor! Assim nos tornamos mais fortes!