Quando você pensa em Natureza, o que vem à mente? Feche os olhos por um instante, respire fundo e deixe que sua mente apresente as imagens sem controlá-la intencionalmente. Se você não conseguir visualizar, apenas sinta. Após alguns minutos observando essa Natureza, retorne para acompanhar essa reflexão.
O que você visualizou?
Uma praia? Uma bela paisagem na montanha? Animais selvagens? Pássaros voando?
Posso apostar que a maioria dos que me leem não incluíram na imagem mental a presença de outros humanos. Não costumamos associar o natural, o selvagem ou o instintivo à nossa própria espécie.
Quando vemos as queimadas no Pantanal ou na Amazônia, como as tragédias ambientais de 2020, nós nos compadecemos pelos animais que perderam suas casas, seu alimento e sua saúde. E não é para menos, porque esse sentimento é mais do que justificado!
No entanto não conseguimos perceber que a agressão que nós, enquanto espécie, fazemos a cada um desses outros animais e ao planeta Terra é uma agressão a nós mesmos. Caso a consciência do real impacto das nossas escolhas estivesse instalada na maioria das pessoas, acontecimentos desse tipo não seriam tão frequentes ainda hoje.
Percebemos que os outros animais precisam do ambiente natural e esquecemos que essa é uma necessidade também nossa.
Também como eles, necessitamos de ar puro, de água limpa, de abrigo, de alimento saudável, de silêncio, de respeito à nossa constituição, da sensação de integração ao todo e de pertencimento. Somos mais do que corpo, mente e emoções. Assim como temos uma dimensão espiritual, que muitas vezes é desconsiderada, temos uma natureza selvagem que grita por ser vista.
O afastamento da Natureza diminui nosso poder em diversos aspectos, dentre os quais eu destaco alguns:
1. Nosso corpo torna-se cada vez mais débil
Toda a vitalidade e a força que um animal possui quando nascemos vai se esvaindo com os limites que nos autoimpomos e a que somos condicionados.
A criança é forte e flexível, capaz de fazer atividades físicas por horas, mesmo que ainda não tenha sua motricidade plenamente desenvolvida. E quando se cansa, ela se refaz em pouquíssimo tempo.
Conforme esses movimentos vão sendo limitados por meio dos hábitos adquiridos (ficar horas sentada na escola, mais outras tantas assistindo TV, na frente do computador e no celular, só para citar alguns), esse corpo enfraquece por falta de estímulo.
Depois, na idade adulta, passamos o dia todo sentado no escritório e o corpo tem, então, boa parte do seu potencial atrofiado. Até que chega uma hora em que corremos atrás do prejuízo, indo para academia, fazendo yoga, pilates e outras atividades que tentem compensar aquilo que já era nosso no início e que desperdiçamos com nossas escolhas.
Quando fui morar em um sítio no meio da Mata Atlântica, em 2015, após ter vivido a maior parte da minha vida em São Paulo, percebi o quanto o meu corpo estava atrofiado. Cada vez que eu precisava dele para fazer alguma atividade cotidiana, ele era capaz de bem menos do que minha mente supunha.
Por outro lado, percebi o quanto as pessoas que trabalhavam no campo, mesmo com a idade avançada, possuíam capacidade física e resistência incríveis. O quanto elas estavam integradas à Natureza e, por mais dificuldades que passassem, eram mais resilientes e felizes do que a maioria das pessoas que eu observava nas grandes cidades.
2. Perdemos a noção de quem verdadeiramente somos
Quando vivemos imersos na realidade de uma cidade grande, muitas vezes nos confundimos com o papel social que desempenhamos — e isso é bem menos do que verdadeiramente somos.
Portanto, se uma pessoa possui status social elevado, tende a se achar muito maior do que de fato é. Tomada pela arrogância e pela ilusão desse plano, esquece-se, aos poucos, de que ela é uma em 7 bilhões de outros humanos, e uma entre trilhões (ou mais) de representantes de outras espécies animais, vegetais e de micro-organismos. Isso sem considerar a possibilidade de vida em outros planetas e galáxias.
Do outro lado, a pessoa que está na base da pirâmide social muitas vezes se enxerga como muito menos do que é. Desacreditada que é ao longo dos anos em sua própria capacidade de criar uma realidade diferente, percebe-se como total vítima das circunstâncias ou como não merecedora de toda a abundância disponível.
Quando nos reconectamos à Natureza, percebemos nossa real dimensão e nos damos conta de que somos parte desse todo e de que todas as partes possuem importância para a proliferação da vida.
Percebemos que cada um é, ao mesmo tempo, comum e especial. Despertamos uma gratidão por árvores, pássaros, morcegos e por cada pequeno ou grande ser vivo que faz seu papel de maneira muitas vezes invisível, mas sem o qual a manutenção da floresta (ou de outro bioma em questão) não seria possível.
A consciência em cada uma de nossas células, e não apenas no discurso, de que somos parte do todo nos transforma.
3. Desrespeitamos nossos ciclos
Outro problema de viver constantemente em um ambiente artificial é que nos desconectamos dos nossos ciclos.
Como seres naturais, temos necessidade de alternância entre repouso e vigília. Contudo uma vida pautada somente pelas luzes artificiais tende a alterar esse ciclo, diminui a disposição, dificulta o sono profundo e restaurador e aumenta a tendência à insônia.
Desconsideramos os ciclos lunares e o quanto eles influenciam nossas emoções, nossos pensamentos e o próprio corpo físico. Assim como a Lua influencia as marés, modifica nossas águas internas e humores. E o impacto é ainda maior nas mulheres que são, obviamente, cíclicas por causa das oscilações hormonais e da menstruação.
Tentamos controlar as estações do ano para termos à nossa disposição sempre a mesma variedade de alimentos e matérias-primas. E, assim, deixamos de perceber a riqueza de cada um desses períodos e a contribuição que podemos receber e ser em cada um desses momentos.
Sair da ilusão da linearidade e aceitar os ciclos da vida nos empodera. Junto com a percepção dos ciclos da vida vem a consciência de que tudo passa, seja o período de escassez, seja o de abundância.
E, assim, aprendemos a desapegar, a deixar ir tudo o que não faz mais sentido sem tanto sofrimento.
Caminho de volta à nossa Natureza
Convido você a fazer o caminho de volta para casa. Reconecte-se com a sua natureza mais profunda por meio da aproximação da Natureza.
Reserve um tempo na sua agenda para pisar na grama, para um banho de mar ou de rio estando presente. Caminhe em silêncio num parque ou bosque. Fuja de vez em quando para um lugar cheio de verde e ar puro. Veja isso não só como um passeio, mas como uma prática de autocuidado.
Traga também a Natureza para dentro de sua casa. Que tal uma horta ou um jardim vertical?
Mesmo um vaso pequeno de plantas tem muito a nos ensinar sobre ciclos da vida, necessidade de cuidado, equilíbrio e beleza.
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Outras ideias fáceis de colocar em prática: utilizar ervas e óleos essenciais no seu dia a dia em banhos, aromatizando o ambiente ou em cosméticos naturais.
Tudo isso vai ajudar você a perceber o quanto a Natureza nos nutre, cura e fortalece.
Agora me conta: como é sua relação com a Natureza hoje?
Quais hábitos você cultiva para se reconectar a ela?
Quais está disposto a começar daqui para frente?
Você já se comunicou com plantas e animais? Faça essa experiência e silencie para perceber o que eles têm a lhe ensinar.