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A beleza das pequenas coisas

Imagem de um solo rachado devido à seca e em destaque uma árvore em crescimento.
Sy / Canva Pro
Escrito por Luis Lemos

Durante a maior seca em Manaus, aves buscavam refúgio no topo de uma caixa d’água, um oásis de vida. A cidade sufocava sob calor e fumaça, afetando humanos e animais. Com a chegada da chuva, a natureza reviveu, trazendo alívio e renovando a conexão das pessoas com o mundo ao redor.

Se o calor da cidade os repeliam, havia um lugar para onde escapar. O topo da caixa d’água de minha casa. Ali era o lugar ideal, o paraíso na terra. No meio da maior seca que Manaus já enfrentou na sua história, muitas aves e pássaros se alinhavam para desfrutar daquele oásis, daquelas gotas de vida.

Eram aves e pássaros de todas as espécies, tamanhos e cores. Periquitos, tucanos, andorinhas, pombos. De manhã cedo eles chegavam e à tarde também. Eles faziam uma algazarra só! Não bebiam água, bebiam vida! Água de salvação! Tudo o resto era deserto, poeira e fumaça.

Manaus estava coberta por uma nuvem escura de fumaça. A cidade fedia a queimado. Qualquer esforço físico era suficiente para uma enxurrada de suor. Para os humanos, água só dentro de nossas casas, na geladeira, no bebedouro, no banheiro, no chuveiro, na pia. O ar era pesado e fedido!

Para os outros animais, faltava opção. Os cachorros e gatos de rua viviam nas portas das casas pedindo ajuda para seus donos, situação triste e deprimente. O calor estava demais. Tudo parecia ferver. As pessoas andavam sem paciência. A violência corria solta. Tudo era motivo para xingamento.

Parece que a cordialidade e o respeito entre as pessoas foram embora com o calor. O contato íntimo e prolongado era quase impossível sem o ar-condicionado. Manaus estava pegando fogo. Tudo era muito quente. O consumo de energia foi o mais altos dos últimos 50 anos.

Carro com ar-condicionado em Manaus não é luxo, é item de sobrevivência. Ninguém aguenta mais do que 10 minutos fora do ambiente climatizado. Doenças como desidratação, insolação, problemas renais, pressão baixa, infarto e AVC tornaram-se frequentes na população. As roupas lavadas não ficavam cheirosas, não podiam se usadas. Tudo fedia a fumaça. O vento, quando vinha, era carregado de poeira.

Tradicionalmente os meses de agosto, setembro e outubro em Manaus são os meses mais quentes do ano, com temperatura média de 40 graus. No entanto, naquela manhã de setembro a chuva caiu em Manaus! “Obrigado Senhor!”. “Que benção!”. “Que glória”. Dizia a população.

Imagem de vários pássaros voando e em destaque um lindo pôr do sol alaranjando
Johannes Plenio / Pexels / Canva Pro

Nem tudo são flores! Com a chuva sobre a cidade, se foram os pássaros da minha caixa d’água. Tudo ficou em silêncio. Daquela manhã em diante os periquitos, as andorinhas, os pombos do meu quintal não apareceram mais. Voaram livres pela imensidão verde da Amazônia. E do quintal de minha casa fiquei contemplando a Natureza. Agradeci a Deus por aquele momento.

“Árvores frutíferas de toda espécie crescerão em ambas as margens do rio. Suas folhas não murcharão e os seus frutos não cairão. Todo mês produzirão, porque a água vinda do santuário chega a elas. Seus frutos servirão de comida; suas folhas, de remédio” – fiquei refletindo nas palavras do profeta Ezequiel (47:12).

Para todo o lado que se olhava, via-se a alegria nas coisas. “Que perfeição”. “Que beleza”. “A natureza é sagrada” – refletia. E passei a observar:

  1. Que as formigas andavam de um lado para o outro carregando pequenos pedaços de folhas nas costas, contribuindo para o equilíbrio do paraíso;
  2. Que os pássaros, certamente os periquitos que viviam no topo de minha caixa d’água, agora, cantavam ao longe.

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Fazia dois dias que a chuva estava presente em Manaus. Foram dois dias de pura felicidade. As pessoas estavam mais próximas. Com a chuva, a cordialidade do povo manauara voltou a ser espontânea e à Natureza voltou a viver. O amor estava no ar.

Por fim, sabe-se que a chuva é um fenômeno físico, mas para mim é um presente divino, porque foi ela que me fez ver à beleza nas pequenas coisas.

Sobre o autor

Luis Lemos

Luís Lemos é filósofo, professor, autor, entre outras obras, de “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas – Histórias do Universo Amazônico” e “Filhos da Quarentena – A esperança de viver novamente”.

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