Dando continuidade à nossa análise comportamental de pessoas manipuladoras, como os portadores de TPN (transtorno de personalidade narcisista), é importante lembrar que estamos falando de indivíduos altamente inseguros, com profundos problemas de autoestima e que alimentam forte sentimento de inveja de tantos quantos se percebem realizados com as próprias escolhas no seu entorno. A explicação é que, pela sua ótica egocêntrica, estas surgem como parâmetros de comparação que dão ainda mais ênfase a tudo que eles não conseguem realizar. Daí sua permanente irritabilidade contra os que se percebem autenticamente felizes, pois que os deixam expostos em suas vísceras e sendo atacados na falsa imagem construída e na qual eles mesmos precisam acreditar, de modo a não sucumbirem à permanente sensação de fracasso por sua condição de vida.
Diga-se de passagem, essa “condição de vida” não precisa sequer se mostrar insatisfatória, em termos reais, mas o narcisista sempre a verá como muito aquém do que ele merece, pois sua baixa estima o torna uma permanente “vítima do mundo”. Mas uma posição satisfatória também não é algo muito comum na vida dele, já que sua personalidade é toda moldada para ter o que quer pelo modo mais fácil, ou seja, obtido por meio de outros que já trazem pronto tudo que deseja, mas nunca por esforço próprio. E essa postura se apoia na segurança em sua capacidade de seduzir suas vítimas para conseguir delas tudo de que precisa. Isso funciona como um grande estímulo interno para “cortar caminho” para o sucesso: “Para que vou estudar, batalhar por um trabalho e construir uma carreira que exige tanto sacrifício, se posso ter tudo à hora que quiser, bastando achar as pessoas certas?”. Esse é o pensamento clássico do narcisista, razão para ser o que menos estudou, se concentrou numa carreira futura ou que permaneceu num emprego por anos para crescer e ser respeitado em alguma área específica de atuação. Não é à toa, portanto, que muitos se refiram a eles como “indivíduos PPP”: parasitas, pulhas e párias de um contexto social em que a regra comum é obter espaço como resultado do esforço.
Se, como vimos na primeira parte do nosso estudo, o “antes” na relação da “aranha” com a “mosca” já se mostra complicado, o “durante” de seu cotidiano mostrar-se-á ainda mais difícil, principalmente para a vítima, e com potencial para transformar sua vida – bem como a de todos que os acompanham de perto – numa sucessão interminável de conflitos e estados de humor que se alternam o tempo inteiro, podendo sair da troca de carinho explícito e exibicionista, em um momento, para uma guerra aberta no seguinte. Nessas alternâncias, não há limites nem padrões que se mantenham, podendo chegar a todo tipo de agressão, tanto física quanto psicológica.
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Dispensável dizer que o risco que se corre durante essas crises é elevado, pois é quando o manipulador perde completamente o controle sobre suas ações – por não admitir ser contrariado – e expõe, por inteiro e sem disfarces, tudo aquilo de que é capaz, algo que esconde muito bem no resto do tempo, já que está permanentemente pensando em como tirar vantagem de seu desempenho no palco. Tais conflitos, diga-se de passagem, já começam a acontecer assim que encerrada a etapa da sedução e iniciada a do domínio propriamente dito, pois que, com a proximidade física, todo o castelo de cartas erguido para construir a melhor imagem de si mesmo começa a ruir. A rigor, a vida do manipulador é um palco repleto de personagens para quantos lhe assistam da plateia – envolvendo coadjuvantes, figurações, participações especiais etc. –, desde que o protagonismo permaneça com ele. O problema, pelo menos pela sua ótica, são os bastidores, que ele faz de tudo para manter bem longe do público, e daí porque vazio e terrivelmente solitário, já que não experimenta relações construídas sobre sentimentos autênticos.
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