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A conturbada relação entre uma aranha e sua mosca – Episódio XI: aprendendo a lidar com portadores do Transtorno de Personalidade Narcisista

Um homem se olhando num espelho.
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A literatura em geral costuma concentrar seu estudo de nossa aranha nas vítimas que ela escolhe como foco de suas ações de sedução, assim como um atirador que visa acertar o centro de um alvo. Mas sabemos que, tanto no sentido literal quanto no figurado, o disparo raramente “acerta a mosca” sem atingir também o seu entorno. Significa dizer que a pessoa sobre a qual o nosso narcisista se concentrou é apenas o objetivo principal – ou a vítima direta – mas quase nunca a única.

Tomando o exemplo do alvo físico do atirador, é comum que durante as tentativas de acertar na mosca as balas se alojem nos circulos concêntricos que a rodeiam, com ênfase nos mais próximos. Acontece o mesmo no caso do narcisista, que acaba vitimando outras pessoas em volta, em grau proporcional aos laços que possuem com a vítima central, como as do seu círculo familiar.

Ainda que na figura de pais, irmãos, amigos, colegas de escola, etc., várias dessas pessoas acabam envolvidas – consciente ou inconscientemente – no drama da aranha e da mosca de diferentes maneiras e não poupando ninguém, já que se veem incluidas no rol de vítimas indiretas de tudo o que está por vir. Algumas são habilmente transformadas pelo narcisista em “macacos voadores” – como conhecidas nos anais da psicologia – um tipo de “inocente útil” que ele traz para o seu lado de modo a tornar mais difícil ainda que a mosca lhe escape. Para estes “aliados de última hora” será passada, via de regra, a melhor imagem que o narcisista consiga construir de si mesmo.

Um homem olhando-se num espelho.
KatarzynaBialasiewicz de Getty Images / Canva

Tais pessoas não imaginam o quanto podem ser manipuladas em seu papel de instrumentos do trabalho sujo que sem saber desempenham, achando que estão ajudando quando, na verdade, apenas reforçam os planos do narcisista em relação à sua vítima. A expressão teve origem no filme “O Mágico de Oz”, onde os “macacos voadores” da estória se incumbiam de fazer o trabalho de auxiliares da bruxa má, uma das personagens centrais da trama. Da mesma forma o narcisista habilmente usará seus “macacos voadores” como reforço para facilitar o alcance de objetivos que dariam mais trabalho se os buscasse sozinho.

Sem o saber, “macacos voadores” acabam atuando como inocentes úteis e impondo um tratamento ainda mais abusivo às vítimas do manipulador por acreditar em suas boas intenções, além de aumentar significativamente as dificuldades de um observador externo – consciente de suas artimanhas – que se empenhe em neutralizar tais ações.

De tão complexo o processo da vítima da “aranha” – entre favoráveis e contrários às ações do abusador – fica mais fácil entendê-lo quando se dá nome aos bois envolvidos na trama. Imagine-se, portanto, um narcisista no seio de uma família com uma maioria de membros familiarizados com suas manobras, em pleno curso da sedução de uma nova vítima que ele inseriu no convívio de todos.

Conhecedores do longo histórico de seduções e descartes, os familiares não precisarão de uma bola de cristal para antever a “hecatombe” que desabará sob suas cabeças por conta da sequência de conflitos de que serão testemunhas, com a nova “mosca” agora muito próxima a eles.

Punhos se tocando.
kieferpix de Getty Images / Canva

É natural que, antevendo o resultado, estes se movimentem para, ao menos, reduzir seus impactos sobre todos, já que são incapazes de neutralizar completamente seus efeitos.

E aí entram em cena os “macacos voadores” mais importantes desse drama na figura dos pais idosos do narcisista, que ainda acreditam que seu caso “tem jeito” e torcem para que ele “encontre a pessoa certa”. Na cabeça deles, é o que está faltando para ele acabar com as confusões em que vive se metendo, razão mais que compreensível para o desejarem com todas as suas forças! E pronto: está montado aí todo o cenário de mais uma “tragédia grega” em que, querendo ou não, todos se verão integrando o elenco de atores do novo espetáculo.

Como o narcisista não consegue interromper a sequência de suas constantes “armações” – por serem parte integrante do seu cotidiano – logo os conflitos em torno da “participante especial” dessa nova montagem começarão a surgir, evidentemente. De um lado, há o grupo de “resistência” buscando amenizar os efeitos nocivos, e do outro o casal de “macacos voadores” do narcisista sendo manipulado de todas as formas possíveis e imagináveis para consolidar os planos – sempre efêmeros – do filho sedutor, apostando em mais uma tentativa dele de “se consertar” pela chegada da “princesa de seus sonhos”.

Nem é preciso dizer que, a partir deste ponto, tudo o que quiséssemos acrescentar seria dispensável, já que não há limites para as tramóias que o narcisista poderá montar em torno desses personagens que ele reuniu no palco, dentre os incontáveis dramas que ele já encenou como protagonista ao longo de sua trajetória.

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Para o observador externo não há dúvidas quanto a tudo o que poderá advir dessa reunião explosiva de inocentes úteis, testemunhas conscientes, e personagens voluntários ou involuntários da mais recente trama montada pelo narcisista, com forte potencial para transformar suas vidas num verdadeiro inferno.

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Sobre o autor

Luiz Roberto Bodstein

Formado pela Universidade Federal Fluminense e pós-graduado em docência do ensino superior pela Universidade Cândido Mendes. Ocupou vários cargos executivos em empresas como Trimens Consultores, Boehringer do Brasil e Estaleiro Verolme. Consultor pelo Sebrae Nacional para planejamento estratégico e docente da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear (IBQN) para Sistemas de Gestão. Especializou-se em qualidade na educação (Penn State University, EUA) e desenvolvimento gerencial (London Human Resources Institute, Inglaterra). Atualmente é diretor da Ad Modum Soluções Corporativas, tendo publicado mais de 20 livros e desenvolvido inúmeros cursos organizacionais em suas diferentes áreas de atuação. Conferencista convidado por várias instituições de ensino superior, teve vários de seus artigos publicados em revistas especializadas e jornais de grande circulação, como “O Globo”, “Diário do Comércio” e “Jornal do Brasil”.

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