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A desconstrução histórica na série Bridgerton

Elenco da série Bridgerton.
Divulgação / Netflix
Escrito por Eu Sem Fronteiras

A série “Bridgerton” é uma série com produção original Netflix, escrita por Shonda Rhimes, que se passa entre 1813 e 1817, no estilo de “Orgulho e Preconceito”. A série tem o enredo concentrado numa sociedade distópica, mas com forte referência ao período em que está contextualizada: casamentos arranjados, lugar da mulher e homem na sociedade e tudo que envolve esse período específico.

Baseada na obra da autora Julia Quinn, os Bridgertons nascem dos livros da autora. A família Bridgerton Netflix é o momento. A trama se desenrola a partir de uma personagem chamada Lady Whistledown, uma escritora que publica cartas anônimas sobre as fofocas da cidade. As cartas chegam por correio e a identidade da Lady é desconhecida até o fim da primeira temporada.

Na 2 temporada de “Bridgerton”, a identidade da Lady já é conhecida pelo expectador, mas não pelos personagens. Um dos maiores sucessos da plataforma, a série coleciona número imensos números de visualizações, sendo uma das mais vistas da história da Netflix. E esse sucesso pode ser explicado por um fator inovador: o revisionismo histórico.

A autora criou um universo em que pessoas negras fazem parte da sociedade ocupando posições de poder. Os personagens mais influentes e importantes da história são negros, e isso é interessantíssimo de assistir.

“Bridgerton” tem um elenco incrível, como o personagem Simon Basset, vivido pelo ator Regé-Jean Page; a atriz Phoebe Dynevor está na pele de Daphne Bridgerton; e ainda temos a maravilhosa Claudia Jessie interpretando Eloise Bridgerton, que é irmã do Anthony Bridgerton, interpretado por Jonathan Bailey.

A importância do revisionismo histórico

A palavra representatividade tem sido disseminada e se tornou muito popular no debate público. Como representar a diversidade dentro de contextos em que ela foi negada? Shonda faz isso com maestria: uma rainha que faz parte da elite, um duque requisitado por todas as mulheres, e esses são personagens negros que, neste período, vivem de acordo com outro modo de existir. Uma outra ideia de sociedade.

À direita, desenhos que representam pessoas de cores variadas: brancos, mestiços e negros. À esquerda destes, um balão de fala.
EdvanKun de Изображения пользователя EnryKun / Canva

A arte tem esse poder de conseguir desconstruir uma realidade e criar novas perspectivas. A série consegue transcender o conceito de representatividade. Se falamos de representatividade hoje, como uma novidade, a autora coloca esse conceito para um período em que isso era uma completa impossibilidade. Revisar a história e conseguir distorcer a realidade é um acontecimento que só a arte pode fazer ser possível.

“Bridgerton” e a crítica em relação ao racismo

A Rainha Charlotte é uma personagem que tem uma história citada, mas pouco explorada. O que é possível compreender é que ela se apaixonou pelo Rei George, e isso foi recíproco. Dessa paixão surgiu toda uma mudança social que resultou na cidade de Bridgerton como ela é. A série coloca em pauta como a ascensão de pessoas negras se deu a partir de um homem branco que inevitavelmente se apaixonou e precisou agir em relação a esse amor.

A série faz críticas suaves, pois o propósito dela é normalizar a existência de pessoas negras naquele contexto, ignorando completamente a história que a gente já conhece, pois essa história, já estamos cansados de saber. Revolução é mudar o que já esta estabelecido.

A revolução da Shonda Rhimes

A autora Shonda Rhimes é uma das maiores escritoras da atualidade, dona de um império, e seu currículo é recheado de séries de sucesso. Desde de “Grey’s Anatomy”, um dos seus maiores sucessos, a autora coloca pessoas negras em posição de destaque, exercendo funções e representando lugares até então silenciados. Shonda é uma autora negra que trata da questão do racismo com inovação e uma naturalidade sem igual, normalizando corpos e revertendo lógicas irreais.

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O que “Bridgerton” pode nos ensinar é sobre como podemos reescrever a história. Ainda que a realidade não possa ser mudada, é possível buscar formas de fugir daquilo que já estamos cansados de saber, da mesma história, do mesmo preconceito, da mesma maneira do mundo acontecer. É possível mudar, é necessário mudar e a arte é a ferramenta perfeita para que isso aconteça. A segunda temporada de “Bridgerton” consagra a autora com mais uma produção de sucesso.

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