Crises de ansiedade e de pânico são condições psicológicas cada vez mais comuns em pessoas de todas as idades, religiões e culturas.
Diante de situações súbitas que causam medo, desespero, ansiedade e até mesmo sintomas físicos, é difícil contornar a crise através dos próprios pensamentos. Afinal, essas sensações não são facilmente controláveis, principalmente as que surgem em decorrência de um transtorno psicológico.
Há, porém, algumas formas e alguns tratamentos existentes para driblar essas crises. Neste artigo, você entenderá como o renomado professor budista Mingyur Rinpoche conseguiu superar suas crises de ansiedade e de pânico por meio da própria consciência. Continue acompanhando!
Direto ao ponto
Ansiedade e crises de pânico: os males do século
Com 9,3% da população ansiosa desde 2017, o Brasil é hoje o país com maior índice de ansiedade no mundo, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-americana da Saúde (OPAS).
O transtorno, que se tornou tão comum na sociedade, foi caracterizado como “mal do século”, como levantado por Augusto Cury no livro “Ansiedade: Como enfrentar o mal do século”.
A ansiedade e as crises de pânico – que se manifestam a partir do medo incontrolável e de súbito – ainda não possuem uma causa exata e um consenso da ciência sobre as possíveis origens, porém traumas, fatores genéticos, químicas do cérebro e situações que causam estresse são hipóteses citadas.
Ao sentir alguma dessas crises, muitas pessoas não sabem que isso é um dos sintomas da crise. Você sabia que até mesmo desconfortos digestivos e intestinais, como dores no estômago, gases, soluços persistentes e diarreia, podem ser sinais de crise de ansiedade ou de pânico? Confira alguns dos sinais mais comuns para se prestar atenção:
Sinais de crise de ansiedade:
- Suor excessivo;
- Tremores;
- Falta de ar;
- Sensação de desmaio;
- Náusea ou desconforto abdominal;
- Formigamentos;
- Dor ou desconforto no peito;
- Calafrios e sensação de calor;
- Medo de algo ruim acontecer;
- Batimentos cardíacos desacelerados.
- Sinais de ataques de pânico, além dos citados acima:
- Aperto no peito;
- Boca seca;
- Tontura;
- Zumbido nos ouvidos;
- Dores torácicas;
- Pernas bambas.
Como lidar com essas crises, ainda mais as que são mais recorrentes? Há alguns tratamentos, técnicas e hábitos que podem ser adotados para eliminar, ou pelo menos amenizar, esses ataques. Três dessas técnicas foram praticadas por Mingyur Rinpoche, que lida com a ansiedade e o pânico desde a infância.
“Tentei tantas maneiras de lidar com minha ansiedade: correndo, brincando, fugindo para as cavernas próximas para me esconder. Mas nada funcionou. Na verdade, aprendi que a aversão só torna a ansiedade maior, mais forte e mais sólida.” – Mingyur Rinpoche em um texto publicado no site Lion’s Roar, que serve de base para este artigo.
Quem é Mingyur Rinpoche
Yongey Mingyur Rinpoche é um renomado professor budista nascido no Himalaia. Ele é mestre das linhagens Karma Kagyu e Nyingma do budismo tibetano e autor de livros como “A Alegria de Viver”, “Amar o Mundo”, “Transformando Confusão em Clareza”, entre alguns outros.
Desde muito novo, o monge relatava sentir pânico. “Sofri uma ansiedade terrível na minha infância. Eu queria desesperadamente fugir dele ou lutar contra isso. Não sei exatamente qual foi a verdadeira causa do meu pânico, mas ele se manifestou de várias maneiras“, escreveu Mingyur Rinpoche em um texto publicado pelo site Lion’s Roar.
Quando pequeno, o monge não conseguia driblar as sensações de pânico que aumentavam sempre que havia tempestades de neve em sua cidade natal. No verão, isso não era diferente. “Também não encontrei alívio no verão, com suas tempestades cheias de trovões e relâmpagos”, relatou.
Até mesmo o barulho dos fogos de artifício aterrorizava o pequeno Mingyur Rinpoche, que tentou lidar com suas crises de diversas formas até que recebeu um conselho de seu pai, um famoso professor de meditação, instigando-o a acolher o próprio pânico.
“Comecei a saudar cada episódio de pânico com: “olá, ansiedade, bem-vinda!” Ajudou um pouco, mas como minha motivação não mudou, eu não estava lidando com isso de forma muito diferente. Minha atitude básica ainda era de aversão”, relata Rinpoche.
Depois de muitas tentativas sem sucesso, o monge percebeu que a maneira mais eficaz de acolher a sua ansiedade era colocando a consciência como uma base, em que o pânico se encontra somente na superfície. “Isso ocorre porque o primeiro passo vital para quebrar o ciclo da mente ansiosa é conectar-se à consciência”, explicou.
Se você está se perguntando como se conectar com sua consciência nessa profundidade, confira a seguir quais técnicas o monge usou para isso.
Técnicas de Mingyur Rinpoche para se conectar com a consciência e evitar a ansiedade
Meditação nos sons
Em uma postura confortável, feche os olhos, deixe os sons do presente entrar em sua consciência e observe as sensações que eles causam. Dos sons mais agradáveis aos mais neutros, faça deles uma companhia.
“Não há necessidade de se concentrar fortemente em um som específico, mas simplesmente saiba que você está ouvindo – o conhecimento é meditação. Observe como a consciência pode acomodar qualquer som, sem que você precise fazer nada“, aconselha o monge.
Após a prática, não deixe também de apreciar o fato de que seu corpo ainda consegue ouvir e ser estimulado por esses sons.
Mudança de canal
Existe o canal positivo e o negativo e, normalmente, a mente da pessoa ansiosa se concentra nesse segundo canal. Mude a rota, leve a sua mente para o canal positivo e perceba os motivos pelos quais você pode agradecer hoje.
Como exemplifica o monge em seu texto: “Tradicionalmente no budismo, nos regozijamos por ter nascido em um corpo humano, por ter os cinco sentidos, por ter nascido naquele lugar de liberdade. E, claro, todos têm consciência, amor, compaixão e sabedoria. Essas são algumas coisas simples sobre estar vivo que podemos apreciar”.
Quebrando a ansiedade em pedaços
Uma vez que você se conecta com seu corpo de forma profunda, é possível notar, por meio de sensações táteis, que a sua ansiedade tem facetas e pedaços. A experiência de pânico depende de diversos pedidos para acontecer, por isso sem sensação, imagens, som e crenças, não há ansiedade.
“Uma vez que você o decomponha dessa maneira, o pânico perde seu poder. Quando você olha para o nível mais profundo de cada peça e vê que não há nada sólido ali, nada permanente, a mente ansiosa perde o poder sobre você”.
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Descanse com isso em sua consciência
Pessoas ansiosas costumam colocar a própria consciência como uma inimiga nos momentos de pânico, mas é possível aprender a colocá-la no lugar de guardiã capaz de oferecer soluções e remédios que não só curam momentaneamente, mas para sempre.
Não desista de se acolher e de se conectar com as suas sensações. O processo de cura pode ser mais tranquilo do que você jamais imaginou.