Pode ser que você imagine nunca ter ouvido falar sobre uma religião e corrente filosófica chamada taoísmo, mas você certamente já deve ter visto o símbolo do yin-yang, conhecido no mundo todo, pelos mais diversos tipos de pessoas.
Muito relacionado à terra onde surgiu, a China, o taoísmo não é bem uma religião, mas também não é unicamente um estilo de vida. Preparamos um artigo que mostra o que é o taoísmo e todos os detalhes sobre ele. Entenda!
Tudo sobre o taoismo
O que é taoísmo?
Há muita controvérsia a respeito de como definir exatamente o que é o taoísmo. A expressão mais aceita é tradição filosófica e religiosa. De qualquer forma, o taoísmo surgiu na China há mais de 2.000 anos. O nome dessa tradição vem do termo chinês “tao” (às vezes escrito como “dao”), que significa “caminho”, “princípio” ou “via”. No taoísmo, especificamente, esse tal caminho é a fonte da vida e a força motriz por trás de tudo o que existe.
A principal obra do taoísmo é um livro chamado Tao Te Ching, supostamente escrito em algum momento dos anos 400 a.C. por um chinês chamado Lao Zi (também grafado como Lao-Tzu ou Lao-Tze). O Tao Te Ching não é considerado um livro sagrado, como a Bíblia dos cristãos ou o Alcorão dos muçulmanos, mas um livro de ensinamentos que são considerados o alicerce filosófico dessa religião.
Outra diferença entre o taoísmo e religiões tradicionais no Ocidente, como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, é que o taoísmo tem diferentes interpretações e vertentes, conhecidas como escolas, então há poucos dogmas, leis e regras. É uma tradição filosófica e religiosa que permite que cada adepto faça sua leitura e a incorpore de uma maneira única e individual.
Princípios da filosofia taoísta
Apesar de, como citado no tópico anterior, o taoísmo não ser uma religião estruturada e com dogmas, como as religiões mais tradicionais do Ocidente, há alguns princípios que norteiam aqueles que seguem essa tradição filosófica e religiosa. Confira quais são:
— É preciso agir sem agredir a natureza, inclusive a sua própria natureza;
— Em qualquer situação, preferir a gentileza e a sutileza, em vez da força;
— Todas as coisas estão conectadas e são interdependentes;
— Quando assimila-se esse conceito anterior, entende-se que somos apenas partes do momento presente, já que tudo está em constante mudança;
— Tudo é dual (yin-yang), então há luz e sombra, ativo e passivo, movimento e quietude, frio e calor, ou seja, para tudo há uma contraparte igualmente oposta;
— É preciso livrar-se ao máximo do desejo, porque sempre que um desejo é satisfeito, um ainda mais ganancioso surge. O ideal, portanto, é nunca desejar nada (conceito de wu wei, descrito em um tópico abaixo).
Lao Zi
Lao Zi (“velho mestre”, se traduzido literalmente), às vezes chamado de Lao Tse, Lao Tze ou Lao Tzu, é conhecido como aquele que primeiro compilou os princípios e a sabedoria do taoísmo, registrados num livro chamado Tao Te Ching. Lao Zi nasceu e viveu na China, em algum momento entre os séculos XIV e IV — supõe-se que teria morrido em 531 a.C.
Esse homem teria sido um erudito que trabalhou como curador dos arquivos da corte real da dinastia Zhou. Como era responsável por cuidar da biblioteca e desses arquivos, ele tinha acesso a muito conhecimento, o que o tornou um grande sábio. Ele nunca formou uma escola nos moldes tradicionais, mas sua sabedoria atraiu muitos discípulos, que se reuniam para ouvir seus ensinamentos e, em seguida, repassavam-nos.
Tao Te Ching
Tao Te Ching, comumente traduzido como “O livro do caminho e da virtude”, é considerado a obra mais importante da literatura chinesa. Estima-se que tenha sido escrito entre os anos 350 e 250 a.C., por Lao Zi. Alguns historiadores supõem que Lao Zi nunca existiu e que o livro é uma compilação de provérbios que eram comuns à época.
Além de ter inspirado o surgimento do taoísmo, o Tao Te Ching também influenciou a criação dos budismos chan e zen. A obra é, basicamente, um amontoado de provérbios e ensinamentos. Confira alguns deles abaixo:
“O tao é como o espaço vazio dentro de um vaso; mas, por mais que o enchamos, nunca ficará cheio. É incomensurável, como se fosse o Antepassado de todas as coisas.”
“O caminho que pode ser ensinado não é o caminho eterno. O nome que pode ser falado não é o nome eterno. O inominável é o eterno real. Nomear é a origem de todas as coisas separadas.”
“Livre do desejo você vê o mistério. Preso no desejo você vê apenas as manifestações. No entanto mistério e manifestações surgem da mesma fonte. Essa fonte é chamada escuridão. Escuridão dentro da escuridão [é] o portal para todo o entendimento”.
O que é o Tao?
O Tao (道, em chinês) é o conceito central do taoísmo. Essa palavra pode ser traduzida como “o caminho”, dentre outras possível adaptações.
O Tao, segundo descrito no Tao Te Ching, é o conhecimento intuitivo e intrínseco à vida. Não é algo que possa ser compreendido de maneira completa pelo ser humano a partir de ensinamentos e de sabedorias, mas que pode ser assimilado simplesmente ao viver a vida e as experiências dela.
Ao contrário de boa parte das religiões ocidentais, que têm um objetivo final (como o céu dos cristãos), o taoísmo enxerga o caminho como o meio e o fim, então não há propriamente uma recompensa no fim do caminho, já que o que importa é justamente o próprio caminho.
O que é wu wei?
O wu wei (無為, em chinês) é o princípio prático do taoísmo, ou seja, o Tao é um conceito mais filosófico e espiritual, é a metáfora do caminho como aquilo que devemos aproveitar e ao qual devemos nos dedicar. Já o wu wei é a parte prática disso: é uma palavra que se refere ao modo de viver em harmonia consigo, com o ambiente, com o mundo, com a vida e, é claro, com o Tao, isto é, com o caminho filosófico e espiritual que rege a vida prática.
Em poucas palavras, o wu wei se resume a evitar qualquer ação que seja desnecessária. É um conceito que prega que não devemos fazer nada que seja artificial ou baseado unicamente em nossos desejos ou em nossos movimentos. É tentar se eximir de suas próprias vontades para receber aquilo que a vida tem a entregar — e ficar satisfeito com isso. É, enfim, tentar não forçar que as coisas sejam como desejamos, mas permitir que elas simplesmente sejam como devem ser naturalmente.
Religião ou filosofia?
Há uma discussão muito grande a respeito de o taoísmo ser uma religião ou apenas um estilo de vida ou visão filosófica sobre a vida. Como não prega a existência de deuses, algo que comumente caracteriza as religiões, já que defende que o ser humano deve estar em equilíbrio apenas consigo mesmo e com a natureza e a vida, é normal que as pessoas questionem o taoísmo como uma religião.
A alemã Livia Kohn, professora e mestre da Boston University (Estados Unidos), uma das mais respeitadas estudantes do taoísmo e de outras correntes filosóficas e religiosas do Oriente, separa o taoísmo em três categorias:
— Taoísmo tradicional: também conhecido como religião tradicional chinesa, ou shenismo, é um conjunto de saberes tradicionais e populares que integram elementos do taoísmo, do confucionismo e do budismo, além da medicina tradicional chinesa;
— Taoísmo filosófico: é referente a um modo de ver e de viver a vida. Há pessoas que são céticas ou agnósticas, isto é, que não acreditam na existência da espiritualidade, mas que mesmo assim veem o taoísmo como um estilo de vida benéfico e agradável, então escolhem segui-lo, mas é importante ressaltar que isso se dá por meio de uma escolha;
— Taoísmo religioso: para algumas pessoas, o taoísmo não é uma escolha, mas uma verdade a respeito da vida e da espiritualidade, então não se trata de escolher viver uma vida de acordo com os ensinamentos dessa tradição, mas fazê-lo por enxergá-los como a verdade, o único caminho possível ou o caminho certo.
Outras fontes
Além do Tao Te Ching, outras fontes são consideradas por aqueles que seguem o taoísmo. Uma delas é um compilado de ensinamentos e provérbios, como o Tao Te Ching, atribuído ao sábio Huang Di, conhecido como o Imperador Amarelo. Ao contrário do Tao Te Ching, porém, seus provérbios não foram compilados em um livro, mas fazem parte da tradição oral e de sabedoria chinesa.
Outro filósofo que influencia o taoísmo é Zhuangzi, que viveu após Lao Zi. A ele é atribuído um livro que teria sido publicado com seu próprio nome. Nesse livro, ele prega o ceticismo e recomenda que evitemos quaisquer tipo de paixões ou crenças que conduzam nossa vida, já que devemos nos guiar pela vida em si.
A religião taoísta
Os escritos do Tao Te Ching não introduzem elementos espirituais ou místicos. Os ensinamentos de Lao Zi eram todos filosóficos e morais. Foi somente cerca de mil anos depois de sua morte que algumas pessoas formaram o conjunto de doutrinas e de práticas religiosas que configuram a religião taoísta. Essa corrente religiosa empresta algumas práticas religiosas e culturais do budismo, introduzindo deuses e gênios sábios que deveriam ser reverenciados.
Outros conceitos que fazem parte da religião taoísta são a alquimia, a teoria dos cinco elementos (conhecidos como wu xing, que prega que o mundo material é todo formado pela interação entre fogo, terra, metal, água e madeira), o culto aos mortos e aos ancestrais, que supostamente influenciariam a existência dos vivos e a incorporação de práticas da medicina tradicional chinesa e de artes marciais orientais. Há forte presença de conceitos como Tao e yin-yang na religião, além do qi, que é a energia espiritual e essencial que move todo o mundo.
Estima-se que pelo menos 400 milhões de pessoas (alguns cálculos chegam a 1 bilhão de pessoas) sejam adeptas à religião taoísta, o que coloca essa tradição religiosa entre as 7 crenças mais populares no mundo (cristianismo, islã, ateísmo, hinduísmo, budismo, religiões folclóricas e, então, taoísmo), segundo dados do The World Factbook, elaborado pela CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos.
O taoísmo no Brasil
O maior expoente do taoísmo no Brasil é a Sociedade Taoista do Braisl, que surgiu no Rio de Janeiro, em janeiro de 1991, com o objetivo de difundir os ensinamentos dessa tradição filosófico-religiosa. Seu fundador foi Wu Jyh Cherng (1958-2004), nascido no Taiwan, que traduziu boa parte dos ensinamentos taoístas diretamente do chinês arcaico para o português. Ele fundou o Templo da Transparência Sublime, no Rio de Janeiro, onde palestrou até sua morte prematura, aos 45 anos. Além disso, inaugurou o Templo Tesouro do Espírito, em São Paulo.
Em ambos os templos realiza-se práticas como meditação, I Ching, feng shui, astrologia chinesa, tai chi chuan, chi kung, além de acupuntura e massagem tradicional chinesa.
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No censo do IBGE realizado em 2010, o taoísmo foi incluído na categoria “outras religiões”, que tinha 11 mil adeptos, sem distinguir exatamente de quais religiões eram adeptos.
O taoísmo é uma corrente filosófica e religiosa surgida na China e que incorpora e, consequentemente, também faz parte da cultura tradicional chinesa. Baseada essencialmente nos ensinamentos de Lao Zi, prega o equilíbrio, a harmonia, a existência da dualidade e da participação do ser humano no todo. Agora que você conhece os princípios do taoísmo, o que você achou dessa tradição filosófico-religiosa?