O nosso desenvolvimento cerebral depende da genética, das vivências ambientais e da fisiologia de cada um de nós.
O nosso cérebro possui plasticidade, que é a capacidade de moldar-se conforme a demanda do ambiente.
Algumas fases são mais críticas para desenvolvimento das doenças mentais, como o final da adolescência e o início da vida adulta, época em que o córtex ainda está em formação e o jovem tem muita demanda de escola, relacionamentos sociais, etc, e se não houver um bom desenvolvimento não consegue dar conta dessas exigências.
O córtex pré-frontal tem funções superiores de abstração, funções executivas mais sofisticadas, características sociais e de resolução de problemas e, se bem desenvolvido, evita perdas neurais.
Falando do Transtorno Bipolar, sabemos que a pessoa pode ter o gene da doença e desenvolvê-lo ou não, dependendo das suas vivências e de haver ou não um gatilho que o dispare.
O ambiente também é fator muito importante para o desenvolvimento cerebral, e o gene dispara ou não conforme o ambiente que o paciente vive ou viveu.
O Transtorno Bipolar é de fato uma herança genética, e pais bipolares com sintomas podem ser o gatilho para o desenvolvimento da doença no paciente, já que o ambiente, a falta de cuidados, e a negligência de uma mãe, muitas vezes deprimida ou muito acelerada e hiperativa, causa estresse suficiente para que os filhos desenvolvam a doença.
O quadro da patologia pode alternar entre a depressão leve, moderada e severa, com os períodos de mania, e normalmente o paciente só busca ajuda na época da depressão e larga o tratamento na época da mania, porque sente-se muito bem e muito poderoso, porém o medicamento traz de volta a estabilidade o que não é interessante para ele neste momento de euforia.
Devido a depressão estar sempre presente no bipolar e seu nível de energia variar bastante, costuma ter pensamentos pessimistas, de baixa autoestima, de inutilidade, fracasso, sentimento de morte, além da Anedonia, que é a ausência de prazer em fazer as coisas, e também pode apresentar estados de hipersonia e insônia.
Os estágios da Mania também variam e dificultam o diagnóstico, pois podem ser muito diversos e de variadas intensidades, como a Hipomania, que pode inclusive passar totalmente despercebida até por um profissional competente, tamanha a confusão com uma pessoa apenas “animada”.
Somente por herdar a genética já pode haver um Déficit no Desenvolvimento Cognitivo, tanto em quem desenvolveu ou não a doença, em todas as suas fases, que são Depressão, Mania e Eutimia.
Um diagnóstico de Transtorno Bipolar pode demorar anos, mesmo com o paciente em tratamento psiquiátrico, tamanha a sua complexidade.
A psicologia faz testes neuropsicológicos para avaliar as funções afetadas, e cabe ao psiquiatra perceber o subjetivo de forma crítica para diferenciar a patologia das vivências normais do indivíduo através de avaliações psicopatológicas buscando avaliar a arquitetura do cérebro e as alterações formais do psiquismo usando a fenomenologia, ou seja, a técnica de avaliar o fenômeno à distância, saindo assim da visão do paciente.
Dificulta também o diagnóstico o despreparo de muitos psiquiatras, que sem uma base sólida podem deixar passar o diagnóstico correto exatamente devido a dificuldade em separar o que traço de caráter do indivíduo, como a irritabilidade, e que poderia ser considerada normal, e o que é sintoma.
O médico não conseguirá tratar se não fizer esta diferenciação.
A pesquisa de como foi sua vida psíquica desde a infância, bem como o histórico familiar são muito importantes.
Muitas vezes, chamar a família para auxiliar a compor o diagnóstico é essencial, pois o paciente pode não ter a visão real da própria vida, já que a alternância da percepção das situações faz parte do quadro.
Diante de tamanha complexidade, a importância de buscar ajuda cedo, e de os profissionais da saúde estarem preparados para isso, já que muitos pacientes saem medicados para Depressão, com receitas de substâncias que, na verdade, são prejudiciais para o paciente bipolar.
Infelizmente, substâncias como a Fluoxetina são receitadas por todo tipo de médico e prejudicam o bipolar.
O paciente que trabalha sua espiritualidade e desenvolve a Resiliência apresenta mais fatores de proteção também.
Uma vez corretamente diagnosticado, o paciente precisa de ajuda para aderir ao tratamento, que pode ser desagradável principalmente no início devido ao Lítio e às demais substâncias envolvidas.
Considerando que sempre há Depressão envolvida no quadro alternado com a Mania, nestes altos e baixos ele pode sentir vontade de interromper o tratamento, o que é muito prejudicial.
Como complemento no tratamento manter o ritmo biológico, evitar a privação do sono ou funções que troquem a noite pelo dia são muito benéficos ao paciente, já que a função sadia de Sono-Vigília primordial.
Manter uma alimentação saudável e praticar atividades físicas auxiliam para que tenha uma vida funcional e mais tranquila.
Via de regra, o bipolar dorme tarde e acorda tarde, e no caso de jovens, baladas, bebidas e drogas são muito prejudiciais ao tratamento.
Sim, o paciente bipolar usa mais álcool e drogas para o alívio dos sintomas, e isso pode ser o precipitador da doença. Na verdade, o bipolar em fase maníaca faz mais uso de tudo! Inclusive álcool e drogas e dependendo do grau, se não procurar um médico poderá procurar um advogado.
Em se tratando de comorbidades, que e a existência de duas ou mais doenças simultaneamente, o abuso/dependência de álcool e drogas e de longe a principal no bipolar.
Segundo os estudos do GRUDA, Grupo de Estudos das Doenças Afetivas do Hospital das Clínicas, a psicoterapia mais os psicofármacos são importantes e complementares no tratamento.
Muitas vezes, o paciente demora em buscar ajuda, causando sofrimento para si, para a família, ocorrendo em perdas profissionais, de relacionamento e financeiras.
A terapia psicanalítica auxilia muito na conscientização. Leia este outro artigo da série falando exatamente sobre isso: https://www.eusemfronteiras.com.br/transtorno-bipolar/
O tema é bastante amplo e complexo, e um pouco de informação que seja sempre colabora para o esclarecimento, conscientização e para desmistificar a doença mental.
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Informação é nossa maior arma, sempre.
Se você se percebeu ou reconheceu alguém com estas características, busque ajuda e avaliação profissional.