Quem nunca ouviu um filho dizer, frente à autoridade do pai (podendo ser qualquer figura que represente tal autoridade): “Ah! Só mais uma vez?”, “Só mais um pouquinho!” ou o famoso “Deixa, vai?”
Aposto que todos nós, em nossos currículos de vida, tivemos situações como essas. E, em algum momento, se já não transitamos nessas questões, é certo que vamos.
São nessas ocasiões em que muitas mães, possuídas pelo princípio protetor de todas as dificuldades que o mundo possa oferecer aos seus filhos, impensada, desesperadamente e a todo custo, tentam excluí-los de quaisquer desventuras que possam colocá-los em algum tipo de perigo, desprazer ou frustração. Uma atitude extremamente poderosa, que vem com força suficiente a ponto de exercer toda a “proteção” que algumas mães entendem que os filhos necessitam ter.
Filhos, porém, além de proteção, também precisam passar pelas suas experiências de enfrentamento para com o mundo para que, por fim, possam desenvolver as suas próprias asas, fazendo seus voos em suas singularidades.
Os prejuízos advindos do excesso de proteção onde se imagina que o que os filhos desejam obrigatoriamente tem que ser suprido, ou mesmo do descaso quando exime-se do trabalho de impor limites coerentes, podem ser devastadores tanto para a família como um todo quanto individualmente ou para a sociedade.
Alguns possíveis resultados do padrão educacional pautado na ausência de autoridade e de limites claros ficam evidenciados nas inúmeras condutas de muitos jovens que, ao se apresentarem em sociedade, acham que tudo podem e que qualquer outro além desses mesmos estaria na categoria de coisas a serem ultrapassadas. No fundo, estes mesmos jovens têm severas dificuldades para lidar com a vida e suas vicissitudes. Uma das principais muletas utilizadas para driblarem seus amplos e obscuros receios está sendo no uso abusivo do álcool e outras substâncias. Tentativa cega para que se promova alívio imediato deste frágil e ansioso lugar, funcionando como uma espécie de sedativo emocional.
Um artificio para sequer esbarrarem no medo e na frustração de terem que talvez lidar com um não em alguma investida afetiva. Um aditivo para se ampliarem mais ainda em seus delírios de grandeza. Em seus castelos construídos em pleno ar. E, na beirada dos seus precipícios interiores, por algumas horas, conseguem plainar por essas situações “melhores” do que naquele momento sentem que são e preferem pagar com a saúde e pondo em sérios riscos as suas próprias sanidades do que ousarem se fortalecer passando pelas experiências. Outros tantos acabam fazendo uso de lutas, artes marciais ou o que seja para que um diálogo não treinado e que exigiria algum tipo de articulação e reflexão seja substituído pela reatividade agressiva e imposição de corpos.
Notem que todo o exposto até pode fazer parte do universo juvenil em busca de identidade, como em alguns aspectos foram tempos atrás, hoje, porém, existe um hiato, uma diferença brutal, quando a garotada acaba drasticamente perdendo a noção do certo e do errado, provocando, não poucas vezes, toda sorte de desastres não só consigo mesmo como com outros a sua volta.
Sei de casos de filhos que literalmente colocam ambos os pais como reféns de seus mais inusitados desejos. E ai desses pais se ousarem desferir um não para o adolescente que já tem altura e corpo para inclusive bater neles.
Vejam vocês que o título, tema deste artigo, é a importância do pai na trama familiar, penso que já podemos cogitar qual seria essa importância, não é? Sim… A imposição dos famosos limites!
Saber dizer não a um filho e bancar este não pode ser um divisor de águas na sanidade de quem está em franco desenvolvimento. Sei que você gostaria, mas não é possível, sinto muito, mas você não pode ir para tal lugar ou fazer determinada coisa. É o caminho para que uma reflexão reparadora se instale dentro do psiquismo destes jovens. Impor limites de tempo para determinadas tarefas, aguentar filhos fazerem possíveis birras ou mesmo terem ataques histéricos quando não conseguem o que querem, incluindo as possíveis manipulações recheadas de doses de mal humor dos filhos quando se veem obrigados a respeitar os limites, faz parte do jogo do ambiente educacional saudável da família. Uma mãe suficientemente boa deveria entender que, para proteger os seus filhos e que para que eles também possam sair de casa fortalecidos, eles devem passar por frustrações para se fortalecer frente às possíveis situações da vida.
Isso não é de longe uma castração abusiva e sim a imposição de limites saudáveis que podem frustrar, mas que também fortalecem o eu, o sentimento de compadecimento e a percepção de que o outro existe. A consciência moral de que existem leis no mundo e que elas devem ser devidamente respeitadas faz parte do que se chama de saúde emocional.
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Claro que não serão todas as mães que estarão configuradas neste padrão de funcionamento e nem todos os pais que estarão expostos do modo como foi descrito. Em muitos casos, os tais aspectos de funcionamento estarão trocados e, em outras situações, podem estar ausentes ou mesmo se apresentarem pelo excesso de limites, o que também não se mostra adequado. Cabe ao pai, em sua importância suprema, honrar com consciência o sagrado que envolve efetivamente ser pai. Sua participação é de extrema relevância no desenvolvimento da saúde psíquica dos filhos. A mãe, por sua vez, na sua sagrada conexão com os filhos, ativa o vínculo e a primeira certeza de que a vontade de viver valer a pena.
Ambos os pais ou as pessoas que estiverem incumbidas na criação de crianças em desenvolvimento deveriam ter consciência da importância que têm e do que representam no processo evolutivos de seres que são a continuação deles próprios, porém com os seus próprios coloridos.
Em muitos casais do mesmo gênero ou mesmo em famílias uniparentais, essas funções também podem ser divinamente exercidas. Basta se ter consciência e amor para se oferecer.
Independe, portanto, de quem cria e sim da qualidade de como se cria.
Quanto mais despertos, melhor!