Quando criança, me era dito que quem desobedecesse à Lei de Deus iria para o inferno, sendo queimado por toda a eternidade, quem lhe obedecesse iria para o céu; na minha adolescência, estudei em seminário católico, e lá diziam coisas semelhantes. O castigo era sempre terrível, e o prêmio era a ociosidade celeste ao som de harpas.
Procurei saber mais e fiquei emperrado na Teologia; por exemplo, o segmento calvinista prega a predestinação. Ora, se há predestinação, não há justiça, existem outros segmentos, outros veres.
Essas historietas adquiriram o auge quando aparece a afirmativa do pecado original, ou seja, já nascemos em pecado. Tal doutrina, desenvolvida por Santo Agostinho, é inerente ao catolicismo, não existindo no judaísmo nem no islamismo ou em qualquer outro segmento religioso.
Deixei isso para lá, porquanto concluí que esse caminho é inerente ao pressuposto não se aplicando ao espiritualismo.
Nos dicionários, tem-se que justiça é a particularidade daquilo que se encontra em correspondência, ou de acordo com o que é justo; modo de entender e/ou de julgar aquilo que é correto.
Mais dúvidas: o que é justo? O que é correto? Isso varia segundo a cultura de cada povo, logo, também não satisfaz.
Conforme entrevista concedida à TV Brasil, pelo abade do Templo Zen das Alterosas, Mokugen Roshi (budista), temos:
“A justiça é o senso de uma ética e moral que brota, naturalmente, no coração do ser humano. O senso de justiça é intrínseco à expressão natural da natureza, da qual o ser humano faz parte. Se estamos em harmonia com nossa natureza original, de forma natural emerge em nós o sentimento de justiça. É uma verdade budista que todos estamos sujeitos à lei de causa e efeito.”
“É uma verdade que todos estamos sujeitos à lei de causa e efeito.”
Nessa fala, já passamos a entender!
Sêneca – Lúcio Anneus Sêneca, advogado, dramaturgo e filósofo romano (4 a.C. – 65 d.C.): “A natureza nos produziu relacionados uns com os outros, já que ela nos criou da mesma fonte e para o mesmo fim. Ela engendrou em nós um afeto mútuo, e nos fez propensos a amizades. Ela estabeleceu equidade e justiça (é ativa e útil). Deixe-o ensinar-me que uma coisa sagrada é a Justiça que considera o bem de outro e não busca nada para si.”
“Deixe-o ensinar-me que uma coisa sagrada é a Justiça que considera o bem de outro e não busca nada para si.”
Eis um ensinamento a ser considerado!
Na Bíblia hebraica, salmo 40, o orante fala da justiça de Deus como expressão da sua bondade amorosa e permanente, da sua misericórdia, e como manifestação da sua fidelidade à ordem por Ele estabelecida para o bem da sua comunidade humana.
“Agrada-te, Senhor, em libertar-me; apressa-te, Senhor, a ajudar-me.” (Salmo 40, 13)
Anotemos isso!
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Nos Evangelhos:
“A cada um será dado segundo as suas obras” – Jesus (Mateus, cap. 17, v. 27)
“A Doutrina Espírita explica que tudo se encadeia no Universo. Nada acontece ao acaso. Há em tudo uma sequência natural de causas e efeitos, ação e reação. Cada criatura humana se define pela sua consciência que a separa dos irracionais e lhe confere a dignidade espiritual. Conscientes do que somos e do que fazemos, somos naturalmente responsáveis pelos nossos atos.” (União Espírita Mineira – www.uemmg.org.br)
“… somos naturalmente responsáveis pelos nossos atos.”
O corpo morre, o espírito (ou alma) não, continua e recebe na vida espiritual as consequências de todas as imperfeições não vencidas durante a vida corporal, assim também ao inverso se aplica essa autojustiça.
O estado, feliz ou desgraçado, é inerente ao grau da purificação ou de imperfeições acumuladas na vida corpórea.
Concluímos, portanto, que Deus não é um ser que julga a sua obra, nós somos nossos juízes.
Obrigado por me ouvir.