A sexualidade humana é um universo vasto de sentimentos, sensações e hormônios. Quando falamos da sexualidade feminina, essa proporção praticamente se multiplica. Isso porque a libido feminina, bem como sua vida sexual plena, tem ligação direta com suas emoções e suas crenças mentais. A falta de desejo sexual é um problema que aflige um grande número de mulheres e a compreensão dos fatores psíquicos ligados a esse quadro pode ser libertadora.
A palavra “libido” vem do latim é quer dizer “vontade, desejo”. A energia libidinal é psíquica, faz parte do sistema humano, é vital para a saúde e é fundamental que não seja confundida com a excitação sexual orgânica (instintiva, hormonal, presente em todo ser humano). Para as mulheres, especificamente, essa informação é muito importante.
Estrutura biológica
A psicanálise traz grandes contribuições para o esclarecimento da fluidez da libido e da diferença de seu funcionamento em homens e mulheres. A busca pelo prazer faz parte da natureza do ser humano e o orgasmo poderia ser apontado como o primeiro dessa lista de satisfações.
No entanto, o orgasmo pleno só é possível a partir da união de dois fatores: a excitação endógena (orgânica) e a energia sexual psíquica (libido). A partir disso, podemos compreender uma componente quantitativa (física) e uma qualitativa (psíquica) em nossa estrutura sexual.
O principal hormônio ligado à excitação sexual é a testosterona, que está presente em maior quantidade nos homens. Nesse sentido, a componente sexual quantitativa do corpo masculino é consideravelmente maior, inclusive porque, sem o orgasmo masculino, não há chance para a reprodução da espécie.
Se fôssemos ilustrar em números, diríamos que aproximadamente 70% do orgasmo masculino está ligado ao instinto, enquanto apenas 30% é composto de fator psíquico.
Na mulher, essa lógica é exatamente a contrária. Fora isso, a mulher precisa de três vezes mais sangue para que o clitóris esteja devidamente energizado para seu prazer corpóreo, em comparação ao necessário para que o pênis do homem esteja ereto.
A memória do prazer feminino
A partir do que o olhar psicanalítico nos apresenta, entendemos que o orgasmo feminino tem um componente psíquico e emocional maior, em comparação com a estrutura masculina. A libido é fundamental para uma mulher com vida sexual ativa e feliz. Sim, feliz, porque vida sexual ativa nem sempre quer dizer satisfatória, certo? Essa é uma informação importante de ser compreendida.
O orgasmo feminino não é necessário para a reprodução da espécie humana e a nossa sociedade notadamente patriarcal tem um histórico de anos de opressão e tabus construídos em volta da figura da mulher. Fora isso, a mulher já foi vista como simples objeto reprodutor, o que quer dizer que o prazer feminino já passou por diversos anos de exclusão – e tudo isso está registrado em nosso inconsciente coletivo. Toda vez que uma mulher escolhe se permitir sentir o prazer sexual, está liberando memórias ancestrais de opressão.
A libido e as emoções
Para que a libido flua livremente, é muito importante tratar o prazer de forma natural. Ele é parte do ser humano, parte de nossa saúde e é tão divino quanto qualquer outro fator corporal. Se levarmos em consideração também a visão do psicanalista Carl Jung, compreenderemos a libido simplesmente como energia psíquica, energia para a vida, nosso combustível para tomar decisões. Assim, para lidar com a falta de libido é necessário compreender que fatores emocionais e psíquicos estão impedindo a movimentação dessa energia.
Se uma mulher está passando por grandes desafios pessoais ou profissionais, provavelmente está sentindo elevados níveis de estresse, tristeza, cansaço ou tem problemas com sua autoestima, então é possível que sua libido esteja comprometida. Fora isso, se em sua infância teve contato com tabus sexuais ou frases pudicas que relacionam o sexo a algo sujo, seu inconsciente pode estar habitado com crenças que inferiorizam seu próprio prazer. Cada um desses fatores tem a plena capacidade de impedir o livre escoamento da libido de uma mulher.
Libertação
Quando falamos de sexualidade, é importante entender que essa é uma caminhada que cada ser humano escolhe como realizar. Em um quadro de falta de libido, é de extrema importância acolher essa realidade e analisar quais fatores influenciam esse quadro. O prazer é vital para a saúde, então é importante não ter vergonha de buscar ajuda e informações para equalizar o bem-estar sexual.
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O autoconhecimento é uma das chaves de libertação para a mulher que deseja se relacionar com a própria libido. Primeiramente, compreendendo mais sobre seu próprio corpo, suas emoções e suas memórias gravadas sobre sua sexualidade. O útero guarda memórias de felicidade e de dor, por isso separamos algumas dicas importantes:
- Respeite seu corpo, suas emoções e suas dificuldades;
- Conheça o seu corpo: para ter prazer é preciso, primeiramente, entender como o prazer funciona para você;
- Pratique alongamento: fortalecer a musculatura corporal, inclusive das pernas e da região próxima ao ventre traz inúmeros benefícios, inclusive para o prazer feminino;
- Cuide de sua alimentação: a serotonina (neurotransmissor responsável por regular o sono, o apetite, o ritmo cardíaco e a qualidade de vida) também tem ligação com a libido e grande parte da sua produção acontece no intestino;
- Aprenda a amar cada pedacinho de você mesma – sem amor-próprio não há libido plenamente saudável;
- Busque estudos alternativos sobre o universo feminino, como a ginecologia natural e práticas como o pompoarismo;
- Se necessário, busque um profissional: você pode optar pela ginecologia tradicional ou mesmo por um terapeuta – falar sobre suas questões internas é fundamental para a liberação da libido.
Texto escrito por Raisa Covre da Equipe Eu Sem Fronteiras