Então por que você deixa seu filho criança ou adolescente com um celular na mão conversando, por vezes livremente, nas redes sociais com pessoas que não conhece? Você monitora seus filhos o suficiente???
Neste mês de agosto, foi publicada uma reportagem de uma criança de apenas nove anos da cidade do Recife/PE que, por conta do desafio da Boneca Momo no Whatsapp, cometeu suicídio por sufocamento ao tentar cumprir um desafio dado pela boneca como dizem especialistas de crimes cibernéticos.
A exemplo do desafio da “baleia azul”, em 2017, como toda lenda urbana, este jogo se utiliza de uma boneca denominada Momo – alguns dizem que é uma espécie de mulher pássaro ou de mulher peixe – inspirada em uma escultura existente no Museu de Tóquio no Japão, que seria um “espírito” que envia mensagens de terror e conversa nas redes sociais com crianças e jovens por horas a fio, desafiando-os a fazer coisas absurdas – no começo até ingênuas como vestir uma blusa ao avesso – e, posteriormente, instiga a práticas perniciosas, inclusive a de cometer suicídio por sufocamento ou outros atos, com o argumento de que, se não fizer, terá uma “maldição espiritual”, ou que algo ruim possa acontecer com a criança ou com alguém da família.
O objetivo, talvez, seria o de que criminosos fariam perfis falsos da Momo para abordar as crianças e adolescentes a fim de extrair informações, extorquir e manipulá-los.
Este artigo pretende fazer uma breve referência e análise do ponto de vista social e psicanalítico das razões e motivos do porquê uma criança ou um jovem vulnerável se envolve com pessoas desconhecidas e entram num jogo como este, de tamanho risco para a saúde física ou mental do indivíduo.
Primeiramente, como psicóloga clínica e psicoterapeuta de crianças e adolescentes vítimas de violência, entendo que as crianças e adolescentes modernos estão voltados para aparelhos tecnológicos numa medida talvez maior do que aquela que deveria existir para o bom desenvolvimento mental sadio.
Tentarei ser a mais clara possível no que quero dizer, para não deixar dúvidas: criança deve ser criança e brincar para sua saúde física, social e mental. Elas não devem passar a maior parte do tempo de suas vidas em torno de computadores, celulares, tablets, Tvs e video-games.
Crianças devem brincar, correr, se esconder, se movimentar. Ter estímulos neurofisiológicos e psicológicos voltados para os órgãos do sentido: tato, olfato, audição, visão, paladar etc. Deve-se cuidar da sensopercepção, da necessidade do diálogo e da atenção e do afeto dos cuidadores. Crianças devem brincar com crianças, de preferência, de idade parecida, ou sozinhas, para desenvolver suas fantasias, criatividades e imaginação, a fim de potencializar-se individualmente e socialmente, dentro de uma saúde mental adequada a sua faixa etária.
De maneira nenhuma, sou contra aparelhos tecnológicos e o avanço da tecnologia. Simplesmente, acredito que são apenas instrumentos de comunicação ou aprendizagem. O que não se pode é tentar pular as etapas do desenvolvimento infantil, principalmente no que se refere ao brincar utilizando o movimento do corpo de forma inerte na frente dos aparelhos. Juntamente a isto, fica difícil proteger os pequenos de pessoas mal-intencionadas como psicopatas e pedófilos que tentam conversar com crianças e adolescentes, muitas vezes vulneráveis, livres e sozinhos, batendo papo com desconhecidos na internet.
É neste contexto de tamanha vulnerabilidade emocional e social, e numa era realmente chamada de “modernidade líquida”, em que os verdadeiros valores parecem que escorregam pela mão que surgem situações criminosas como esta da Boneca Momo, que tem objetivos perniciosos, perversos e criminosos contra os mais vulneráveis: seres humanos ainda em formação corporal e psíquica, ou seja, as crianças e os adolescentes.
Por fim, irei observar algumas razões psicanalíticas que denotam o porquê, dentro da natureza humana, o homem possui condições inatas que Freud, o pai da Psicanálise, descreve como instintos de vida e instinto de morte. Resumidamente, o instinto de vida é tudo que o indivíduo faz para se voltar para a vida como autopreservação, autoconservação, alimento, sono, etc.
Já o instinto de morte pode se tratar de um movimento interno, também chamado de pulsão de morte, que seria uma carga energética a qual se encontra na origem da atividade motora do organismo e do funcionamento psíquico inconsciente do indivíduo. Isto ocorre no ser humano desde o nascimento até a velhice. Resumidamente, seria todo e qualquer ato, intensão ou comportamento do ser voltado para agressividade interna ou externa.
Relembro estes conceitos no sentido de tentar explicar as razões e os porquês uma criança ou um adolescente, naturalmente, se inclina para práticas de violência ou perversão desde que o mundo é mundo, com a presença ou não da tecnologia.
O objetivo deste artigo foi o de refletir sobre como os aspectos humanos da pulsão de morte, independentemente de qualquer fase do desenvolvimento humano, existe e se manifesta de acordo com os mecanismos existentes em cada época.
O que ocorre atualmente é que a tecnologia possibilita que toda esta agressividade – consigo mesmo e com os outros- ocorra em alta velocidade, e com fácil acesso até para com as criança.
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