VV[ocê pode até não conhecer a Rosaria Costa, mas as pessoas que conhecem ou convivem com ela não se esquecem tão rápido. Isso porque Rosaria além de ser uma pessoa muito admirada por aqueles com quem convive é uma bibliotecária do pequeno município de Venâncio Aires, no interior do Rio Grande do Sul que coloca a “mão na massa”.
Apaixonada por livros, histórias e leitura, Rosaria mantém vários projetos e recentemente ganhou um prêmio a nível federal e fez questão de aplicar toda verba nos projetos que atua. Conheça um pouco de sua história e se inspire:
Eu sem Fronteiras: Como foi seu envolvimento com a leitura desde pequena?
Rosaria Costa: Eu não tive livro de literatura infantil, eles eram poucos e caros e minha família não tinha como comprar. Meu pai me deu uma cartilha da Recreio.
ESF: De onde nasceu a inspiração e a paixão pela leitura?
RC: Meu pai hoje com 84 anos só estudou até os 12 anos, quando aprendeu a profissão de torneiro mecânico e foi trabalhar, ele chegava em casa após um dia de trabalho pesado e pegava um livro vermelho de capa dura para ler. Eu via aquilo e achava que deveria ser uma coisa muito boa para alguém cansado do trabalho fazer e eu queria aquilo para mim. Quando me alfabetizei ganhei a chave que abriu o mundo mágico da leitura e nunca mais saí dele. Mas ainda era difícil chegar aos livros, minha escola não tinha biblioteca (até hoje não tem), a biblioteca pública da minha cidade natal também não era acessível (até hoje não é), fui bolsista numa escola particular e havia biblioteca ótima, mas as turmas tinham dia e hora marcada para ir lá, então fiz amizade com Irmão que cuidava da biblioteca, ajudava ele e podia levar livros quando quisesse, mas não era qualquer um que desejasse, tinha censura, só os adequados para minha idade. Tudo isto me fez estudar, ser bibliotecária, atuar na biblioteca pública e levar livros e leitura para o maior número de pessoas que eu pudesse.
ESF: Se tornar bibliotecária foi também em relação a paixão pelos livros?
RC: Sim, pois eu queria ajudar outras pessoas a ler, a terem acesso aos livros que eu não tive.
ESF: Poderia me falar um pouco mais sobre os seus projetos de leitura?
RC: Desde quando cursava biblioteconomia na FURG, em Rio Grande-RS, me envolvi com projetos de leitura. Depois fiz vários cursos de contação de histórias e faço da arte de contar histórias um meio de apaixonar os ouvintes pelos livros. Na biblioteca Pública Caá Yari em Venâncio Aires, realizo Saraus, conto histórias em escolas, feira do livro e desde 2006 desenvolvo o Grupo de Leitura no Centro de Atenção Psicossocial -CAPS II, são pacientes depressivos e em risco de suicídio indicados pela equipe de saúde mental do CAPS II que compõe este grupo, onde leio livros de literatura infantil e levo algo relativo a história.
ESF: Como foi a sensação de ganhar um prêmio a nível federal?
RC: Foi maravilhosa, é muito bom ter um trabalho reconhecido, mas o melhor foi poder realizar o novo espaço para as reuniões do grupo, o Espaço de Leitura Mar de Histórias. Que ficou lindo e está sendo utilizado por todos os pacientes e funcionários do CAPS.
ESF: O que acredita que falta na educação para as crianças se envolverem mais com a leitura?
RC: Faltam bibliotecas de verdade nas escolas com profissionais bibliotecários atuando nelas, faltam professores e pais leitores.
ESF: Os pais precisam participar deste processo também?
RC: Com certeza, eu segui o exemplo do meu pai e é isto que falta nas famílias, os pais deixam para a escola a formação do leitor, como muitas outras coisas que são de sua competência na educação dos filhos, e quando a escola falha não temos leitores.
ESF: Quais são seus planos para o futuro?
RC: Publicar um livro infantil. Dar continuidade ao meu trabalho de formar leitores através da Contação de Histórias, dos Grupos de Leitura no CAPS II e CAPS AD e da Qualificação dos serviços da biblioteca Caá Yari.
Tenho dois sonhos que gostaria de realizar em Venâncio Aires: formar um grupo de Contadores de Histórias e uma Biblioteca Infantil com espaço onde possamos contar histórias toda a semana.
ESF: Quais os seus livros favoritos?
RC: “A Moreninha”, “Dom Casmurro” e “O Tempo e o Vento”, além de “O Senhor dos Anéis” em livro (e filmes).
ESF: Como é a sua rotina diária? Poderia me falar um pouco?
RC: Olha, ficaria um texto muito longo, sou sozinha para realizar toda a parte técnica, administrativa e cultural da Biblioteca Caá Yari, que abre das sete e meia da manhã até as seis da tarde, tenho uma professora aposentada, que faz 8 horas diárias e duas estagiárias que fazem 6 horas diárias para me auxiliar. Estou em processo de informatização do empréstimo no programa Biblivre, espero até o final do ano terminar. Mas sempre encontro tempo para fazer atividades em prol da leitura.
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Mais sobre Rosaria:
Adora o mar, cachoeira, calor, dragões. Gosta de ganhar livros, fadinhas ou pedras ametista, principalmente de presente. Gosta de filmes de animação ou magia. Gosta de café com quindim, como o autor do seu poema favorito Mario Quintana: “Aqueles que estão por aí atravancando o meu caminho. Eles passarão. E eu …passarinho”.
- Entrevista concedida a Angélica Weise da Equipe Eu Sem Fronteiras.