Autoconhecimento Comportamento

A penalização do bom

Conceito de direito. Martelo de juíz e livros em fundo branco.
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Escrito por Nina Veiga

Vivemos em tempos estranhos, onde quem age eticamente é penalizado enquanto quem ignora as regras é valorizado. Desde a Grécia Antiga, modelos e comparações permeiam a sociedade, resultando em uma inversão de valores. A seguir, exploremos o impacto dessa desética e a importância de avaliar sem comparar.

É possível viver sem instituir modelos? Como é avaliar sem comparar? O fazer do outro coloca em risco o não fazer de um? Comparações muitas vezes penalizam. O que dizer quando as comparações desvalorizam quem cumpre a regra e valorizam quem a ignora? Questões de ordem, moral e ética permeiam esses tempos estranhos em que vivemos.

Vivemos tempos estranhos.  Aliás, desde a Era Comum ou até mesmo antes dela, na época de Sócrates, os tempos já eram bem estranhos. Tempos estranhos trazem atitudes que causam estranhamento.

Por exemplo, é estranho como aquele que age de modo afirmativo é penalizado por quem é reativo. Em um mundo que se guia por modelos pré-estabelecidos, alguém que conduz a vida de modo afirmativo, sem se deixar influenciar pelos costumes de sua época, acaba criando um modo de ser fora da média.

E o que é pior: esse modo de ser criado acaba por revelar os que não fazem, mostrar as omissões dos que estão sempre assistindo à vida e não a inventando. E isso causa contrariedade em quem prefere acomodar-se.

Na sala de aula, o aluno que cumpre as tarefas, que realiza o que é preciso, é quase sempre repudiado, chamado de CDF, penalizado por ser ético e fazer o que é preciso fazer. Assim, sofre retaliações porque segue as regras do jogo.

Garota sofrendo bullying pelos colegas de sala.
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Na vida profissional, o cumpridor do dever é muitas vezes detestado, pois revela o que os outros não fazem, instituindo um padrão acima da média. Então, aqueles que agem reativamente e não sabem viver sem modelos pensam: se ele agir dessa maneira, esse será o modelo a ser seguido.

Se ele não fosse assim, ninguém iria reparar o que não fazemos e nossas omissões e acomodamentos passariam despercebidas. Por isso, precisamos penalizá-lo para saber que não pode agir assim. E foi devido a pensamentos como esses que muitos personagens da história sofreram. Mas não quero entrar no mérito do que é certo ou não, do bem ou do mal. Minha intenção é olhar de perto o hábito de constituição dos modelos e chamar a atenção para a inversão dos valores.

Olhar para o surgimento de uma ‘desética’ que institui um valor negativo, onde aquele que não age eticamente penaliza quem o faz. Esse tipo de atitude perdura desde a Grécia Antiga porque estamos sempre instituindo modelos. Não compreendemos a coisa nela mesma, mas sempre em relação à outra coisa. Isso significa que não avaliamos baseados na vida, mas por padrões que estão fora dela.

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Dessa forma, em tempos estranhos, como o que temos vivido desde a invenção da humanidade, valores arbitrários podem ser instituídos e aquele que se guia positivamente para o bem comum é penalizado por agir assim.

Sobre o autor

Nina Veiga

A artemanualista e ativista delicada Nina Veiga é doutora em educação, escritora, conferencista. Sua pesquisa habita o território da casa e suas artes, na perspectiva da antroposofia da imanência. É idealizadora e coordenadora do coletivo Ativismo Delicado e das pós-graduações: Artes-Manuais para Educação, Artes-Manuais para Terapias e Artes-Manuais para o Brincar. Desenvolve trabalhos de formação de artífices e escritores. Suas oficinas associam o saber teórico-conceitual às artes-manuais como modo de existir e à escrita como produção de si e do mundo.

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