Não me convencem as pessoas que dizem que não precisam de ninguém. São essas as que mais necessitam do outro, e de tanto precisar, sentem medo. Repelem as manifestações de amizade e auxílio, pois não sabem como lidar com isso. A falta de autoestima as impedem de receber e, por conseguinte, as impedem de se doar, pois quando damos um pouco de nós, deixamos que o outro nos perceba, acabamos ficando vulneráveis e corremos riscos.
Quando nos doamos, estamos dizendo ao outro: eu existo!
E existir é deixar de ser transparente, é se colocar no meio da roda, é ter de saber lidar com os elogios, mas também com as críticas, e isso é complicado.
Gostamos de ser elogiados, notados, mas somos muito autocríticos. As pessoas com baixa autoestima não aceitam um não da vida, não querem saber de frustrações, de conselhos e de ajuda. Por não se amarem, acreditam que cada palavra de aconselhamento dita pelo outro é uma ofensa. Sempre tem alguém a lhe puxar o tapete, alguém lhe “passando a perna” e sente que o seu mundo não pode ser violado. O mundo lá fora lhe parece muito perigoso. Então, ela cria uma zona de conforto da qual não quer sair. Criam um mundo à parte, no qual ninguém pode entrar, a não ser aqueles que a aceitem do jeito que é, aqueles os quais ela pode mandar, possuir e usar ao seu bel prazer.
Mas a vida sempre ensina, sempre exemplifica, sempre muda as rotas do caminho. Isso é ponto pacífico.
Quem não aprende pelo amor, aprende pela dor. E se não entender a lição, vai continuar repetindo de ano, com os mesmos problemas, as mesmas questões sem resolução, as doenças, os falsos amigos e a falta de sorte (que ela julga ter).
Quando deixamos o amor entrar, mesmo que for aos poucos, pela fresta da porta, a luz começa a invadir os nossos cômodos. As cores ficam mais vivas, a vida começa a ter uma dimensão maior, o caminho aos nossos pés se torna mais limpo e mais longo. A sensação de que estamos perdendo o chão vai se dissipando. Já não é tão difícil caminhar. Já não é tão ruim olhar nos olhos dos outros. Aquela tal zona de conforto já não é tão confortável assim.
Queremos desbravar lugares novos, com novas opções, com sentimentos diferentes, com sorriso nos lábios e sem ombros caídos. Os pés já não tropeçam nas pedras e as mãos já colhem as flores. Até pensamos em voar!
O processo é longo, com muitas recaídas, tombos e joelhos machucados, mas com a certeza de que vale a pena.
Descobrimos então que ninguém caminha sozinho, que o ar não fica pesado quando estamos juntos, que o sol é para todos, assim como as estrelas. Que a noite não é tenebrosa e que o leito não foi feito para cultivar pesadelos e insônia.
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Sorrir para o mundo, mesmo sem ter motivo, já é um bom negócio, mesmo porque quando você sorri para o espelho, ele lhe retribui de graça e sem cobrança nenhuma.
Sair pela porta dos fundos já não tem mais sentido e a porta da frente se torna tão larga que por ela se pode passar eu, você e todo o resto do mundo.