Ao contrário do que a maioria pensa, até por um costume ou hábito muito antigo, estar sozinho nem sempre é algo ruim. Neste Dia dos Solteiros, 15 de agosto, centenas de pessoas curtem sua “solteirice” e o fato de não estarem num relacionamento, porém a questão de estar sozinho vai muito além de não estar num envolvimento romântico “oficial” com alguém, pois é muito mais profundo e pode revelar a pessoa que você é (ou a que pretende ser).
Existe um termo perfeito para designar o estado de estar em sua própria companhia: solitude. Mas, atenção, apesar de lembrar a palavra “solidão” e até ter um pouco a ver com ela, quando alguém está em solitude, está sozinha por opção, quer estar sozinha, isolada ou reclusa dos demais e não sofre por isso. Já a solidão causa um sofrimento, um sentimento negativo em quem se sente solitário, pois a pessoa não escolheu aquilo, então a solidão gera um vazio. A grande diferença entre um e outro é que uma pessoa em solitude sabe que tem relações significativas com outros e, mesmo sozinha, se sente bem e completa.
Osho, um conhecido guru que viveu entre 1931 e 1990 e foi professor de filosofia e mestre na arte da meditação, dizia sabiamente: “Solidão é ausência do outro; solitude é sua própria presença” e sua filosofia complementa: “Milhões de pessoas continuam mantendo seus relacionamentos mesmo que sejam simplesmente um inferno! Apenas devido ao medo de que serão abandonadas sozinhas; eles continuam apegados.” Quando será que estas pessoas abrirão os olhos para praticar esta solitude que já deveria nascer com elas?
A solitude, inclusive, pode ser usada positivamente em momentos de meditação, concentração, introspecção ou oração individuais para auxiliar a pessoa a alcançar um estado de paz, consolo e ainda exercitar o autoconhecimento. Outro benefício de passar o tempo sozinho é a percepção de liberdade, uma vez que terceiros poderiam colocar infinitas restrições ao seu modo de ser, de agir e até de pensar, contudo isso não tem nenhum efeito sobre a pessoa em solitude.
Você já ouviu falar que, aos poucos, vai “guardando para si” um pouco de cada pessoa com quem convive e que isso pode te mudar? Isso é verdade e as pessoas ao seu redor também podem te influenciar nas suas escolhas e ações; com o aumento da liberdade gerado pela solitude, as escolhas de uma pessoa são menos propensas a serem afetadas pela interação com outras pessoas. Segundo o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, a liberdade de distrações tem o potencial de estimular a criatividade, e esta afirmação foi feita após ter sido descoberto, em 1994, que adolescentes que não suportam ficar sozinhos muitas vezes param de aumentar os talentos criativos.
Por meio da solitude, sobretudo, o desenvolvimento de si mesmo passa a ser algo comum em pessoas “solitárias”, pois elas passam a entender que possuem a autonomia necessária para experimentar mudanças na maneira como enxergam si mesmas, formando ou descobrindo sua verdadeira identidade, pois o julgamento externo não existe ou é mínimo. A solitude proporciona um tempo saudável para a contemplação e o crescimento da espiritualidade pessoal, além de uma autoavaliação.
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Embora muitos efeitos positivos possam surgir por meio deste estado de estar, é preciso ter em mente que o equilíbrio é a chave de tudo nesta vida; ou seja, momentos de solitude são necessários, mas o tempo social não pode ser diminuído drasticamente ou simplesmente deixar de existir. A reclusão pode desencadear respostas fisiológicas que aumentam os riscos para a saúde, então ela tem de ser muito bem pensada e planejada, para não ser um gatilho para a timidez ou para a rejeição social.
A fim de se beneficiar com esta prática, todos os dias procure marcar um encontro consigo mesmo. Pode ser por meio de uma caminhada, de um almoço sozinho, da academia, enquanto pratica meditação ou tentar ficar no quarto em silêncio por alguns minutos, pois este é o momento em que você poderá repensar suas ações do dia e também conseguirá ouvir alguns pensamentos que se escondem quando há muitas pessoas ao seu redor. Ter um tempo sozinho é essencial para seu desenvolvimento íntimo e para fortalecer sua inteligência emocional. Além do mais, da solitude sempre se pode tirar algum aprendizado.
Se você já ouviu falar em mindfulness – ou método da atenção plena -, esta é uma ótima forma de exercitar sua mente para não se sentir ansioso, entediado ou sentir que seu cérebro não consegue parar em momentos como este, em que você precisa parar de ouvir o mundo lá fora ou se desconectar das tecnologias para ouvir a si mesmo. Mindfulness é basicamente “ancorar” sua atenção em um único foco, como a respiração, o corpo e o sistema nervoso e ajuda a diminuir os níveis de estresse.
“No ,começo você se sentirá miserável, porque ninguém está lá para dizer quão bonito você é. Ninguém está lá para dizer: “Que grande artista você é!”. Não haverá ninguém, apenas silêncio ao seu redor. Mas um pouco de paciência e um pouco de atenção para não ficar identificado com a mente trará a grande revolução que lhe tornará realmente um sannyasin”, disse Osho, em seu discurso From Death to Deathlessness. É um trabalho árduo, que depende de muita paciência e tempo, pois, para algumas pessoas, ficar sozinho é tão impensável que pode gerar um pânico real. Ao treinar a sua capacidade de ficar sozinho, você começa a relaxar e até se sentir satisfeito estando sem ninguém junto. Passar mais tempo consigo mesmo aumenta sua capacidade de reconhecer as forças que você tem na sua vida, além de entender sua capacidade e suas fraquezas.
Infelizmente, nem todos ao seu redor entenderão o seu estado de solitude e alguns sequer respeitarão a sua decisão, mas, assim como a filosofia desta prática ensina, você fará isso somente por si mesmo, para se conhecer, para se admirar e para descobrir como é sua verdadeira face quando não tem ninguém olhando. Por isso não tenha medo de estar sozinho, porque ninguém nunca vai curtir tanto a sua companhia quanto você mesmo. Você só não descobriu isso ainda.