“Todo homem nasceu do amor de alguém” – Jorge Ben Jor
Que a sociedade reprime o sentimento dos homens por meio de padrões heteronormativos, isso a gente já sabe. Mas quando se trata de afeto, um gesto tão essencial para as relações humanas e até mesmo para a forma como olhamos para nós mesmos, essa repressão é ainda mais prejudicial.
Como diz o verso cantado por Jorge Ben Jor em “História do Homem”, o amor é passado de geração para geração. E, assim como o amor, a falta de afeto também é passada de uma geração para outra – e essa herança pode ser acompanhada por traumas, violência e dificuldade de se construir relacionamentos saudáveis com o outro e consigo mesmo.
Quer ler mais sobre a troca de afetos entre homens e a masculinidade tóxica? Acompanhe o artigo!
Mais sobre troca de afeto entre homens
Como a sociedade vê a troca de afeto entre os homens?
As normas de gênero arraigadas na sociedade são rígidas e, desde pequenos, homens são ensinados a não demonstrar sua vulnerabilidade humana. Aprender a mascarar seus sentimentos, por mais dolorosos que sejam, acaba por se tornar uma prática que homens repetem desde muito novos até a vida adulta.
Durante sua jornada de vida, um homem é constantemente cobrado a aderir a estereótipos de masculinidade que valorizam a força física, a independência, a agressividade e a ausência de emoções.
Portanto, ao ver um homem se debruçar em sentimentos e se permitir a trocar afeto com outros homens – sejam eles amigos ou familiares – é como se esses estereótipos de masculinidade estivessem sendo desafiados.
Esse mesmo problema, como podemos imaginar, também está entrelaçado à homofobia, já que esse afeto muitas vezes é associado a uma conotação sexual ou romântica. Isso cria uma barreira para a expressão livre de afeto, pois alguns homens podem temer ser rotulados como “gay” ou ter sua masculinidade questionada.
É preciso lembrarmos constantemente que a troca de afeto entre homens é mais do que saudável, não importa a sua natureza. E se esse afeto faz parte de uma conotação romântica entre os dois, que mal tem?
A troca de afeto masculina ao decorrer do tempo
A troca de afeto masculina tem passado por transformações ao longo do tempo. Assim como muitos outros problemas latentes na sociedade, essa questão já foi pior, mas está melhorando com o tempo. E, claro, ainda temos muito a avançar, mas a mudança gradual está acontecendo.
Por exemplo, nos últimos anos, houve um movimento em direção à redefinição da masculinidade, afastando-se dos estereótipos tradicionais e abraçando uma visão mais ampla e inclusiva. Isso tem permitido que os homens expressem suas emoções e se conectem emocionalmente com os outros de maneira mais autêntica.
Nas redes sociais, já contamos com influenciadores dedicados ao debate, como o Roger Cipó (@rogercipo), Tiago Koch (@homempaterno), Fábio Sousa (@ressignificando_masculinidades) e muitos outros.
Um outro ponto que avança junto com essa questão é o debate acerca da saúde mental dos homens, trazendo uma conscientização sobre o tema e encorajamento dos homens para buscar apoio emocional e compartilhar suas experiências. O estigma associado a expressar vulnerabilidade emocional está diminuindo, à medida que a sociedade reconhece a importância de cuidar da saúde mental dos homens.
Os padrões de masculinidade e como eles afetam os homens
Os padrões da masculinidade tóxica são normas e expectativas restritivas impostas aos homens pela sociedade, que podem ter efeitos negativos em sua saúde física, mental e emocional. Aqui estão alguns exemplos desses padrões e como eles afetam negativamente os homens:
Homofobia internalizada: Esse comportamento nasce das pressões da sociedade para definir padrões de masculinidade e heteronormatividade. Homens acabam reproduzindo atitudes e comportamentos homofóbicos, além de evitarem demonstrações de afeto com outros homens por medo de serem associados à homossexualidade.
Supressão emocional: Os homens são frequentemente incentivados a reprimir ou negar suas emoções, especialmente aquelas consideradas “fracas” ou “femininas”, como tristeza, medo e vulnerabilidade. Isso pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, além de dificultar a construção de relacionamentos íntimos e a busca de apoio emocional.
Machismo: O machismo está associado à masculinidade tóxica, pois ambos se baseiam em ideias e comportamentos prejudiciais que reforçam estereótipos de gênero e normas restritivas impostas aos homens. A masculinidade tóxica promove a ideia de que o que é másculo é superior. Além disso, a cultura da dominação e da violência está constantemente cobrando que homens resolvam conflitos na força e jamais tomem uma postura passiva diante das mulheres.
Expectativas no comportamento sexual: Você já percebeu que um homem pode ser criticado e zombado ao dizer “não” ao sexo? Esse mesmo fenômeno impede os homens de se relacionarem de forma saudável com o seu corpo e o corpo alheio. A cobrança sexual na masculinidade tóxica também se manifesta nas expectativas irreais de desempenho sexual. Os homens são pressionados a serem sempre vigorosos, insaciáveis e a terem um desempenho perfeito na cama.
Isolamento social: A masculinidade tóxica pode levar os homens a se sentirem isolados emocionalmente. A pressão para ser independente e autossuficiente pode dificultar a busca de apoio emocional e a formação de relacionamentos íntimos e saudáveis. Isso pode resultar em sentimentos de solidão, desconexão e dificuldade em lidar com os desafios da vida.
Troca de afetos é sinônimo de saúde e qualidade de vida
Se deseja se aprofundar mais no assunto, indicamos três documentários essenciais para entender a masculinidade tóxica: The Mask You Live In (2015); O Silêncio dos Homens (2019); e The Work (2017).
A troca de afetos entre homens é uma parte fundamental do bem-estar emocional e da construção de relacionamentos saudáveis.
É importante encorajar os homens a expressarem seus sentimentos, a se abrirem emocionalmente e a receberem afeto de seus amigos, irmãos, primos, colegas do trabalho e muitas outras variantes. Ao afastar o medo de demonstrar afeto, estamos cultivando uma sociedade mais compassiva, inclusiva e equilibrada para todos.
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