Vivemos em um tempo que parece não dar conta de abarcar todos os nossos sonhos, desejos e expectativas. Muitas vezes, temos a sensação de que faltará tempo, a cada dia, a cada hora, para realizar tudo o que planejamos.
Vou me utilizar aqui, para esta conversa com o leitor, do conceito de modernidade líquida que sustenta o pensamento do sociólogo Zygmunt Bauman e que é tão caros à psicologia. Ele é a ideia de que experimentamos uma transformação. O que antes era estruturado em torno de bases fixas agora dilui-se. A liquidez de Bauman diz respeito a esta inconstância e incerteza do nosso tempo.
Parece que, por mais que estejamos organizados, com nossos planos encaminhados, algo sempre escapa. Sim, a vida escapa, ela é liquida e escorre por nossas mãos.
A sensação é exatamente esta, de que parece que tudo está em nossas mãos, mas, de repente, escapa e foge. Nos organizamos o tempo todo. Temos horário para acordar, para levar as crianças para a escola, para ir ao trabalho, à faculdade, para sair com os amigos, entre tantas outras atividades cotidianas. E, para que nossos planos se cumpram, precisamos organizar tudo, seja através de despertadores, lembretes no celular, bilhetinhos ou confiando na memória mesmo.
Nosso planos contemplam ainda os desejos pessoais e profissionais para o próximo ano ou até décadas.
A questão é: Será que desejar e planejar é suficiente? Não, infelizmente pode não ser.
O que estou querendo dizer aqui é que a vida não oferece garantias, não é uma relação causal, ou seja, não é garantido que todos que se dedicarem aos estudos conseguirão bons empregos, ou que todos que forem afetuosos com seus pares receberão o mesmo em troca.
Claro que fazer planos é importante, porque nos coloca em movimento, nos desperta para a vida e ainda pode tornar mais possível que algo se dê na direção dos nossos desejos, uma vez que estaremos debruçados e investindo nossos esforços e energias para que isto aconteça.
Sonhar e caminhar em direção aos nossos sonhos é o combustível da vida.
O importante é pensarmos sobre o caráter de indeterminação da vida, de abertura, onde as coisas se dão independentemente muitas vezes da nossa vontade. E, se pensarmos que temos o controle da vida em todos os momentos, vamos nos decepcionar, pois isso seria utopia e muitos de nós poderiam se culpar por entender que falharam em algum momento. Será mesmo que precisamos carregar o peso da responsabilidade de algo que não depende somente de nós, mas também do movimento da vida?
Você também pode gostar:
Agora, pensar que a vida não oferece garantias, apenas possibilidades, pode por outro lado ser demasiadamente positivo. Assim, podemos pensar que, do mesmo modo que muitas vezes nossos planos não tenham se cumprido como esperávamos, outras vezes podemos ser surpreendidos pela vida, e isso sempre acontece!
“A incerteza é o habitat natural da vida humana — ainda que a esperança de escapar da incerteza seja o motor das atividades humanas. Escapar da incerteza é um ingrediente fundamental, mesmo que apenas tacitamente presumido, de todas e quaisquer imagens compósitas da felicidade. É por isso que a felicidade “genuína” adequada e total sempre parece residir em algum lugar à frente: tal como o horizonte, que recua quando se tenta chegar mais perto dele.”
– Zygmunt Bauman