Nutrição

Açaí: mitos, benefícios e armadilhas

Bowl de açaí com banana ao lado.
Brenda Godinez / Unsplash
Escrito por Lucas Zappia

O açaí talvez seja a mais famosa das superfrutas brasileiras, conhecida por ser o superalimento preferido de atletas e aficionados por saúde. Essa pequena fruta cresce em palmeiras de até 20 metros de altura, principalmente na região leste da Amazônia. A fruta é quase só semente, com uma casca fina em volta. O que comemos do açaí é basicamente só a casca, já que a fruta praticamente não tem polpa.

O estado do Pará produz 95% de todo o açaí do Brasil (e praticamente do mundo), totalizando 1,2 milhões de toneladas por ano. Nós não vemos a fruta em natura em quase nenhum outro lugar a não ser no Pará, principalmente no mercado Ver-o-Peso de Belém. Isso porque a fruta é delicada e não aguenta o transporte.

Da produção paraense, 60% fica dentro do próprio estado, 35% vai para outros estados do Brasil e 5% é exportado. Dada a sua fragilidade, todo açaí que é comercializado por longas distâncias passa por algum tipo de processamento. A maioria da produção vira polpa e é congelada, mas uma parte também é seca e transformada em pó ou cremes. Por causa das diferenças em processamento é muito importante se atentar a qual açaí você está consumindo para não cair em armadilhas. Vamos ver como evitar essas armadilhas mais à frente.

Ao redor do Brasil, o açaí é consumido de formas diferentes. No norte e nordeste ele é consumido como um caldo espesso, não adoçado, junto com farinhas de mandioca e tapioca ou como acompanhamento para outros pratos salgados como peixe. No centro-oeste, sul e sudeste o açaí virou uma sobremesa, quase um sorvete de fruta batido e servido com acompanhamentos doces como granola, banana, leite condensado, paçoca etc.

O mito tupi de origem do açaí demonstra o alto poder nutritivo da fruta. Conta-se que a aldeia do cacique Itaki, localizada onde é hoje Belém, no Pará, sofria de uma superpopulação e não havia comida suficiente para todos. Com o coração pesado ele então decretou que a partir daquele dia todas as crianças nascidas teriam que ser sacrificadas. Pouco tempo depois, sua filha Iaçã deu à luz e tiveram que sacrificar sua filha. A índia ficou inconsolável e rezou para Tupã para que arrumasse outra solução para seu pai suspender a ordem dos sacrifícios. Nessa noite Iaçã não dormiu, saiu na mata e viu sua filha. Ela saiu correndo para abraçá-la e no momento que a tocou, a menina desapareceu. Iaçã chorou a noite toda até falecer. Na próxima manhã encontraram seu corpo abraçado a uma palmeira. Ela sorria, tinha os olhos abertos e voltados para o topo da palmeira. Tupã havia dado à tribo a palmeira de açaí que alimentaria todos os descendentes da aldeia. Açaí foi o nome dado em homenagem a Iaçã, que é açaí ao contrário.

Mulher negra segurando bowl com açaí e frutas.
Alexis Chloe / Unsplash

De fato, o açaí provê muitos nutrientes essenciais concentrados principalmente em gorduras saudáveis e um pouco de açúcar natural. 100g de polpa de açaí puro têm 70 calorias, 50 das quais são de gordura. Além dos macronutrientes, o açaí é famoso pela sua concentração de antioxidantes. Essas moléculas neutralizam o efeito nocivo dos radicais livres pelo corpo, principalmente no cérebro.

A concentração de antioxidantes do açaí é realmente impressionante. A quantidade de antioxidantes de um alimento é medida pela sua nota de ORAC (Oxygen Radical Absorbance Capacity) baseado na sua capacidade de absorver os radicais livres. 100g de açaí têm uma nota ORAC de 15,405 comparados com 100g de mirtilos, que têm 4,669. Isso é 3x mais capacidade antioxidante que uma das frutas reconhecidas pelo seu potencial antioxidante.

Os antioxidantes do açaí reparam o dano causado por oxidação e neuro-inflamação no cérebro, efetivamente rejuvenescendo o nosso cérebro e melhorando nossa memória e capacidade de aprendizado. Estudos com animais demonstraram melhoras diretas da memória com o consumo de açaí. Essa ação reparadora do açaí também contribui para a prevenção de doenças como Parkinson e Alzheimer, dado que elas são causadas por inflamação e acúmulo de toxinas no cérebro.

Dentro de toda sua gama de polifenóis, a antocianina é o neuro-nutriente prevalecente responsável pela proteção e ativação do cérebro. Esse composto, além de proteger e limpar o cérebro, também está relacionado com melhora do fluxo sanguíneo para o cérebro e maior ativação de sinapses neurais.

Outras pesquisas preliminares apontam que o açaí pode ser eficaz para redução de colesterol e proteção contra câncer. Estudos in vitro e com animais apontam seu potencial como prevenção e tratamento dessas condições, mas ainda são necessários mais estudos humanos para afirmar e entender essas hipóteses.

O açaí que é normalmente encontrado fora do norte e nordeste do Brasil normalmente parece um sorvete de fruta com cor roxa escura. Apesar de todos seus benefícios saudáveis, esse tipo de açaí vem com uma série de armadilhas. E não são só os acompanhamentos como leite condensado e paçoca. Esses são fáceis de achar e eliminar.

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Isso não quer dizer que não exista um açaí saudável, saboroso e acessível. E melhor ainda, fácil de fazer em casa. Eu conheço duas marcas que vendem polpa de açaí pura, sem açúcar, xarope de guaraná ou banana. Elas são a Sambazon e a Native Berries. Ambas têm versões puras, em sachê para serem batidas em pastas ou sucos. A minha preferida é a Sambazon. Ela vem em um formato mais fácil de bater no liquidificador e é mais barata (R$15-R$17 por 400g). A empresa também tem iniciativas sociais na região da Amazônia, onde tem sua produção. Parte da sua receita é doada para construção de escolas e todo seu açaí tem certificação de comércio justo.

A pasta de açaí comercial é uma mistura pronta de polpa de açaí com outros ingredientes como xarope de guaraná, açúcar, conservantes, aromatizantes e até em certos produtos gordura hidrogenada, para realçar a textura. Muito daquele produto não é açaí, e sim outras formas de açúcar e aditivos. Quando quero comer um açaí saudável, não penso em comer um açaí na rua, em restaurantes ou lanchonetes. É muito difícil encontrar um lugar que tenha polpa de açaí pura e que não misture com alguma forma de açúcar.

Para preparar esse açaí eu tenho 2 receitas. Uma mais grossa e pastosa para comer como um açaí tradicional e uma mais líquida para tomar como vitamina.

Creme de açaí

  • 100g (um sachê) de polpa de açaí
  • 1 banana
  • Gelo
  • ¼ xícara de leite de aveia (ou menos)
  • 1 colher de sopa de aveia
  • 1 colher de chá de semente de chia
  • ½ colher de chá de goma xantana

Adicione todos os ingredientes em um liquidificador e bata.

O leite é apenas para que o liquidificador consiga processar e juntar os ingredientes. A quantidade de gelo depende da sua preferência. Quanto mais gelo, mais espesso o creme, mas mais diluído o sabor. Eu ponho pouco, umas 4 pedras, apenas para dar consistência.

Açaí com frutas.
Mariah Krafft / Unsplash

Sirva com pedaços de morango, banana, castanhas, sementes e coco ralado. Ou invente seus próprios acompanhamentos! Divirta-se

Vitamina de açaí

  • 100g (um sachê) de polpa de açaí
  • 1 banana
  • 1 xícara de leite vegetal ou suco de laranja
  • ½ xícara de frutas vermelhas congeladas ou morangos frescos

Adicione todos os ingredientes em um liquidificador e bata

A mistura deve ficar homogênea e líquida. Ajuste as quantidades de leite ou suco para atingir a consistência desejada.

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Referências:

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16019315/

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18693743/

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22224493/

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26618555/

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24985004/

Sobre o autor

Lucas Zappia

Empreendedor, montanhista e apaixonado por desenvolver as incríveis capacidades do corpo e da mente. Sou formado em administração de empresas, trabalhei em uma das áreas mais exigentes do mercado financeiro, fundei duas empresas no ramo de nutrição e já escalei algumas das maiores montanhas na Europa e nas Américas.

Criador do Neuro Food, meu programa sobre nutrição cerebral que ensina tudo sobre como usar o poder dos neuronutrientes de comidas comuns para elevar o nível de performance mental.

Minha missão é ajudar profissionais e estudantes ambiciosos a alcançarem níveis diferenciados de performance e bem-estar da maneira mais simples e mais fácil possível.

O foco de todo o conteúdo do Neuro Food é ajudar pessoas como você a ter melhoras significativas no funcionamento cognitivo em aspectos como memória, função executiva, aprendizado, concentração, relaxamento, e muitos outros.

Depois de anos estudando os hábitos e rotinas dos meus ídolos, empreendedores, atletas, investidores, artistas e escritores, eu percebi que todos eles, sem exceção, tinham uma compreensão de como a alimentação podia afetar a produtividade e felicidade. A partir disso, busquei os fundamentos por trás das práticas e descobri toda uma literatura científica sobre como certos compostos presentes em alimentos comuns podem oferecer ganhos na nossa saúde e desempenho mental.

Eu chamo esses compostos de neuronutrientes. Me dediquei a estudar e testar em mim mesmo e em pessoas próximas o que eu descobria. Os resultados são impressionantes.

Não sou médico, cientista ou nutricionista. Vivo uma vida corrida equilibrando trabalho e estudos, mas passei a me dedicar à missão de ajudar pessoas como você a chegarem mais longe nos seus objetivos e contribuírem cada dia mais no seu projeto de vida. Minha contribuição com o Neuro Food é trazer todo esse conhecimento científico ao dia a dia de pessoas como eu e você e aplicar isso da maneira mais simples possível: com os alimentos que você já come.

Além de comer de maneira saudável para longevidade, estética e performance atlética, nosso objetivo nem sempre é de adicionar mais anos à nossa vida. Às vezes queremos ter mais vida nos nossos anos. Isso quer dizer mais tempo livre com nossa família e amigos, nos projetos pessoais que nos dão propósito, na evolução de nossa carreira, para aprender coisas novas e ter energia e tempo para aproveitar nossa vida. É com esse foco em mente que desenvolvi o programa compreensivo do Neuro Food.

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