Onde dói? Vamos acolher a dor? Clara tinha quatro anos quando sua mãe faleceu em decorrência de câncer.
Após a morte da mãe, Clara foi morar com a tia Catarina, pois o pai não conseguiu lidar com a dor da perda da esposa e criar Clara sozinho. Decidiram que a menina ficaria um tempo com a tia.
Passaram-se 3 anos e Clara ainda morava com a tia e recebia visitas esporádicas do pai. Catarina ainda sentia dificuldade em falar sobre a morte da irmã, mas tentava seguir a vida e cuidar de Clara.
Catarina contava com a ajuda de uma amiga muito próxima, que era suporte e presença de amor, Olívia.
Olívia, porém, morava em outra cidade e não era possível se verem com tanta frequência.
Num feriado prolongado, combinaram e Olívia chegou para passar uns dias com Clara e Catarina.
Clara estava animada, pois gostava muito de Olívia e a considerava como tia.
Durante uma tarde, quando Catarina preparava algo no fogão, Clara se aproximou para ajudar e queimou o dedo.
A princípio, olhou para a tia, segurou o choro, mas o dedinho começou a latejar e a doer e Clara começou chorar.
Sua tia Catarina a olhou e lhe disse:
— Seja forte, Clara! Já vai passar. Não é nada. Vai brincar e não se aproxime do fogão!
A dor, porém, era intensa! Clara chorava, segurava o dedinho e dizia:
— Por favor, faz parar de doer! Por favor, tia! Faz parar de doer!
E Catarina:
— Já vai passar, Clara, não chore. Seja forte!
Olívia observava a cena, abriu os braços em direção à Clara dizendo:
— Vamos olhar! Deixe a tia ver o que aconteceu! Mostre-me onde dói?
Clara mostrou o dedinho e ainda chorando dizia:
— Tia Olívia, faz parar de doer!
Olívia segurou o dedinho de Clara e disse:
— Eu sei que dói. Dói porque você machucou. Olhe, veja a bolha no seu dedinho! Queimou, por isso está doendo. Se colocarmos gelo, vai melhorar um pouco, mas continuará doendo, pois você machucou e precisará de um tempo para que seu corpo cuide desse machucado.
Catarina, por um instante, sentiu raiva. Achou que Olívia estava mimando a sobrinha, já que a menina não deveria chorar, mas sim ser forte. Ao mesmo tempo, porém, sentiu vontade de fazer parte daquele abraço e foi o que fez.
Estimados leitores, assim somos nós! Únicos em nossas dores e em nosso acolhimento.
Em alguns momentos, seremos Clara, pois choraremos de dor e pediremos ajuda. Em outros, seremos Olívia, oferecendo-nos o colo. Além disso, seremos Catarina para nos dizer:
— Seja forte, levante e se reinvente!
Compaixão! Esse é o convite. Com essa pequena história, gostaria de convidá-los para observar seus sentimentos:
Como me sinto diante da dor? Não há certo e não há errado. Há sentir. Como eu sinto a dor? O que dói em mim? Onde dói?
Se for possível para você, tente escrever sobre isso. Acolha sua criança, acolha esse abraço, olhe onde machucou.
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Tente expressar em algumas palavras e dê voz para seus sentimentos.
Clara, Catarina e Olívia são personagens fictícias de Clara e o Caderno de Escrita – conteúdo dos Workshops “Vamos conversar sobre o luto?”.