Autoconhecimento

Alegrar-se com o estudo dos filhos. Você faria melhor?

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Escrito por Otávio Leal

Ouvi o sertanista Orlando Villas Bôas contar que, entre os índios, as crianças são intocáveis e, durante anos, nunca assistiu a nenhuma agressão contra elas. Quando os pais discordavam do que estavam fazendo, em vez de agredi-las, conversavam com carinho até tirá-las de um local ou de uma situação perigosa.

Nos sistemas tribais respeita-se muito quem ou o que a pessoa é. Se um índio é mais preguiçoso, ele tem tarefas mais “fáceis”; se for mais agitado, é orientado a dançar e brincar; se é violento, para extravasar a agressividade, ele é colocado em rodas onde se pratica uma espécie de judô em que um tenta derrubar o outro; se é criativo, aprende  a  desenhar;  se  é  muito  trabalhador,  coleta  alimentos.  Portanto,  “esses sistemas, aceita-se a pessoa como ela é.

Os índios se contentam com aquilo que as crianças são e dão elas liberdade para aprender.  Nas  culturas  tribais,  as  crianças  de  2  a  5  anos  aprende  tudo  o  que  é necessário para que possam viver, porque são naturalmente curiosas para aprender.

Em nosso sistema educacional, isso muitas vezes é negado. Programa-se crianças- robôs, ensinadas a pensar igual a todos, segundo a mesma filosofia de educação. Assim é o sistema, mas você pode fazer ao menos um pouco do jeito.

Portrait of smiling little school kids in school corridor

Conheço  professores  que  adorariam  despertar  ensinamentos  novos  em  seus alunos,  mas  não  conseguem  porque  os  “ministérios  da  Educação”  dão  programas preestabelecidos que devem ser cumpridos. Quando eu frequentava a escola, sempre fazia  muitas  perguntas pessoais aos professores e  desse  modo  fazia com  que  eles mudassem o programa preestabelecido. Adorava ouvi-los contar suas experiências de vida, o que sentiam, falar de suas lições de vida, hobbies, viagens, algo prazeroso.

A palavra “educação” tem origem no latim educar e, que significa “trazer para fora”, e não socar para dentro uma série de informações.

A  célebre  pedagoga  Patrícia  Sun  defende  a  ideia  de  que  as  escolas  deveriam dedicar muito mais tempo ao “fantasiar construtivo”, estimular a criatividade.

O  programa  preestabelecido  é  entediante,  repetitivo.  Não  se  fantasia,  não  há criatividade. O bom aluno não “cria caso” e fica anos sentado numa cadeira escolar, durante uma parte prazerosa da vida, para aprender coisas muitas vezes inúteis no dia- a-dia. Nunca entendi nada sobre algumas matérias, levantava a mão várias vezes e sentia o descontentamento do professor. Não entendia por que deveria decorar aquilo. Não entendi por que as pessoas ficavam descontentes comigo quando eu tirava notas baixas.

A criança finge sabedoria, faz cara de que e entendendo tudo. Hoje, até a estrutura arquitetônica das escolas lembra uma prisão. Devido a essa repressão, há rebelião em alguns desses estabelecimentos de ensino das grandes cidades, chegando até ser perigoso frequentá-los.

Há  130  anos,  em  países  agrários  os  jovens  estudavam  anos  em  média  e  já trabalhavam. Em 1900, aumentou- currículo escolar para oito anos. Em 1920, para dez anos; em 1930, para doze anos; de 1947 em diante, para 16 anos contando-se o ensino superior. Hoje existem pós-graduações, MBA, doutorados, etc.

Antropólogos  acreditam  que,  se  os  jovens  não  fizessem  o  ensino  médio  e  o superior, milhões deles “inchariam” o mercado de trabalho. Assim, é interessante fazê- los permanecer fora do mercado, estudando nas escolas, que, segundo Alan Cohen, são “um pouco mais que creches nas quais os alunos não aprendem o que querem da vida, mas o que não querem, não ficam sabendo quem são, mas o que o sistema espera deles”. Imagine um músico, um artista, alguém que tenha amor pelas artes ou alguém que goste de exercícios físicos, jardinagem, religião e seja obrigado a aprender química – tabela periódica, por exemplo -, física e operações matemáticas – divisão de fração, regra de três, raiz quadrada organização social e política brasileira (OSPB). Para que isso serviria?

O que você aprendeu na escola e usa em seu cotidiano? Do que aprendeu, o que lembra? Nada? Quase nada? Um pouco? Tudo? E será que não fazem falta para você o lúdico, a brincadeira, os namoros, as viagens que deixou de fazer? A indústria da educação faz com que se gastem 20 bilhões de dólares anuais para pagar cursos superiores, livros escolares, lanches, transportes computadores. E quem são os donos s escolas superiores? Monges budistas mendicantes ou bilionários?

Pense que para seu filho conseguir sobreviver no mundo, muitas não são necessários anos de aprendizado, mas sim estimulo para que aprendam sempre mais o que  mais  o  que  desejarem,  com  orientação,  mas  sem  imposição.  Já  que,  para  as crianças não entrarem no mercado de trabalho tem de mantê-las distraídas e ocupadas, será que não haverá alternativas prazerosas? Existe trabalho para o aluno formado?

Muitos estudam tanto, mas, depois de formado trabalham para alguém porque não sabem se virar sozinhos e não se sentem seguros para criar nada. Há pessoas que, depois  de  formadas,  sonham  ser  funcionárias  públicas  para ter  mais  segurança  de emprego e se aposentar com certa tranquilidade. Tudo isso para quê? Se você gosta dessa situação, ótimo- se não, trabalhará toda a vida sem prazer algum. Qual o sentido de exercer uma profissão sem coração e prazer?

Repito: seja mais tolerante com seu filho, não se importe tanto com suas notas nem com o que decorou. As crianças têm o desejo natural de experimentar, conhecer, vivenciar.  Não  ensine  apenas  como  decorar  milhões  de  datas,  nomes,  histórias, números que o obrigam ao ato, esse sim criativo, de colar.

education, elementary school, learning and people concept - group of school kids sitting and listening to teacher in classroom from back

Estudos mostram que as crianças deveriam começar a decorar a partir dos 13 anos, mas, antes disso, aprender o que desejam ler muito, criar, brincar, desenhar, jogar, interagir, sociabilizar-se. Dê liberdade para seu filho ser o que quiser, para ele explorar o mundo. Nós vemos quanto as crianças são felizes quando toca o sinal da última aula e então  podem ir para casa brincar ou simplesmente sair para o recreio.

Conheço pais que têm filhos excepcionais – autistas ou com síndrome de Dawn – e aprendem a amá-los como eles são, aprendem a praticar o contentamento com os filhos, conheço outros pais tão exigentes com os filhos que nunca estão contentes com nada. Por que exigem tanto dos filhos?

O consagrado escritor e ecologista Daniel Quinn acre que, para educar crianças contentes, o ideal seria algo pare com um circo-escola que unisse arte, teatro, dança espontânea artes marciais sem competição nem faixas coloridas, escola escritores, de cinema, de criatividade, de carpintaria, culinária e um pouco da “escola normal”, só que sem notas, nenhum tipo de comparação, de competitividade, onde tudo fosse aproveitado, onde se pudesse “curtir” mais a vida. Enfim um local onde se pudesse trocar a física pelo teatro, a química pela dança e celebração, o latim – que há algum tempo era obrigatório nas escolas – por aulas de sedução no namoro ou culinária (que será utilizada por toda a vida), por aulas sobre como “viajar” pela vida com mais qualidade ou sobre como respeitar e cuidar da natureza e dos animais.

Osho ensina que a educação não deve ter nenhum tipo de prova, prova  é comparar um com o outro.

Deve apenas ter observações dos professores, com todos os alunos  sendo   aceitos  como  são,   pois,  alguns  aprendem  rápido  e  outros  mais lentamente. Nenhuma nota, comparação, competitividade, inferioridade ou superioridade, nenhuma preocupação com o futuro (especialmente com o vestibular), mas sim com o presente, nem seriedade.

As escolas deveriam ser o lugar para o humor, a brincadeira, as aulas sobre a arte de viver, com ensinamentos para que pudéssemos ser felizes e risonhos, ter essa dimensão do contentamento, em vez de aprender a competitividade, a ser o melhor da classe” ou passar em primeiro lugar no vestibular. Imagine a vida de uma criança rotulada como “uma das Piores da classe”!

É essa mentalidade de segregação, de discriminação entre ores e “piores” que a escola tradicional constrói, valorizando apenas aqueles que pensam e agem de acordo com o que a sociedade impõe como “certo” e marginalizando os alunos comportamento destoa do “padrão”.

É claro que não me refiro a nenhuma forma de comportamento ilícito, como a prática de atos que prejudiquem a nós mesmos e ao próximo, mas a ações saiam daquilo que acreditamos como normal e gerem novas formas de pensar e criar uma sociedade menos desequilibrada e mais justa.

Também deveríamos aprender nas escolas a nos comunicar melhor com os outros e com nos mesmos de modo que não mais existisse o “melhor” nem o “pior” da classe, mas para que todos pudessem desenvolver seus dons colaborando uns com os outros.

Sabemos do estresse gerado pela simples ideia de fazer uma prova, por causa do medo de ser reprovado, tomar bomba E de ser rotulado como o pior.

Tive formação inicial em uma das escolas mais retrógradas, antilibertárias e limitadas do Brasil. Essa escola é famosa e frequentada pelas mais altas classes sociais do país, mas foi nela que aprendi a desgostar do estudo e a ser uma criança infeliz. Assim como a maioria dos meus colegas.

Infelizmente,  em  pleno  século  21,  quase nada mudou nesse aspecto. Tanto a escola quanto a família continuam  a cobrar das crianças e dos jovens valores que estimulam a competição, em lugar da cooperação, alimentando cada vez mais o descontentamento e a infelicidades das pessoas.

Que tal buscar o contentamento com os filhos da forma mais simples possível? Eis algumas maneiras muito naturais e amorosas:

  • Os pais que buscam transmitir valores de contentamento aos filhos os ensinam a fugir da rotina e da dependência, trocando esses valores por entusiasmo e independência.
  • Esses pais constantemente os beijam e abraça como forma de trocar toques físicos com carinho.
  • Estimulam nos filhos a responsabilidade, Que é a habilidade de encontrar respostas para a vida.
  • Escutam o que os filhos têm a dizer, e não reprimem como forma de humilhá-los.
  • Procuram valorizar suas habilidades e não ficam investigando seus erros.
  • Chamam os filhos de nomes carinhosos, e não de apelidos que os rebaixem.
  • Aceitam seus amigos e sabem respeitar suas escolhas.
  • Valorizam as vocações dos filhos, e não o que querem que sejam.
  • Têm como missão transmitir valores de auto-imagem, confiança, auto-estima, amor-próprio.
  • Aproximam os filhos de valores ecológicos e do contato com a natureza, evitando os centros de compras e o estímulo ao consumismo.
  • Dizem sempre “faça do seu jeito”, em vez de “faça o melhor possível”.
  •  Não  dão  tanta  importância  a  notas,  e  sim  ao  interior  da  criança,  a  seus sentimentos e pensamentos.
  • Ensinam os filhos a cuidar da própria saúde.
  • Não os comparam com ninguém nem permitem que sejam escravos do relógio.

Assim agindo, os pais alimentam nos filhos valores como serenidade, meditaçãoalegria,  prazer  de  namorar  e  de  gozar  a  vida,  necessidade  de  buscar  a  própria aprovação, e não a que vem de fora.

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Reflexão

O que seu filho precisa fazer para você ter contentamento com ele? Que frustração pessoal você projeta em seu filho?
O que você exige demais dele? Que perfeição a sociedade colocou na sua cabeça J você exige dos outros, principalmente dos seus filhos?

Que perfeição você busca em você? Que perfeição você busca nos outros? O que é a perfeição?
Ditado Zen: um coelho é um coelho, é um coelho!
Um cachorro, enquanto cachorro, é um iluminado?
Você, enquanto você, é um Buda?

(KOAN)

Sobre o autor

Otávio Leal

Otávio Leal (Dhyan Prem) é um místico, mestre e terapeuta moderno. Sua presença transmite e aponta na direção da amorosidade, confiança, silêncio, persistência e compaixão. Seus ensinamentos são baseados na sabedoria e ética universal de Satya (verdade), Dharma (caminho reto), Shanti (paz), Prema (amor a todos os seres), Tapas (disciplina e persistência) e Ahinsa (não violência). Autor dos livros: "O Poder da Iluminação”, “Quero Mesmo é Ser Feliz - A
Essência da Felicidade", "Histórias para Incendiar a Alma", "Mantra - A Metafísica do Som", "Maithuna - Sexo Tântrico - Você não sabe o que está perdendo", além de centenas de artigos místicos, espiritualidade, budismo, vegetarianismo, amor aos animais e ao Planeta. Atua na Humaniversidade, uma escola de Iluminação, Ousada, Vanguardista que forma alguns dos melhores terapeutas do planeta, eleita em 2008 e 2009 como a mais competente do Brasil pelo jornal "O Legado". Atua também no site www.salveaterra.com.br