Inserindo a culinária vegana na rotina – O simples, o acessível e o lúdico.
Quando tomei a decisão de ter uma vida vegana, o primeiro pensamento que me veio foi: Vai ser uma vida complicada e cara. Fiquei alguns dias experimentando certo desconforto devido a esse ecoar repetitivo que meu pensar emanava. Mas a decisão não era mais algo superficial, sutil e relacionado a alguma moda. Era uma decisão tão profunda, tão forte dentro de mim que já era impossível revertê-la. Foi aí que decidi começar pela minha alimentação e usar o que eu tinha em casa, na despensa. Aliás, esse foi o fator mais fortalecedor e imutável, de minha decisão, que sigo até hoje:
Ser vegana com o que já possuo, fazendo o melhor, o simples e que na mesma medida me registre um aprendizado e me proporcione uma experiência lúdica
Os motivos que me levaram a tal decisão? Vários.
Num primeiro momento, a saúde. Já não comia carnes e nem era fã de derivados. Sempre que ousava comer, surgia aquele peso, aquela dor de cabeça de uma possível má digestão. Depois, envolvida com meditação, dar mais esse passo não seria um sacrifício, uma vez que o entendimento de que alimento é vibração já fazia parte da minha rotina, certamente que eu ia querer ter a experiência das melhores vibrações e de um prato isento de dor e violência.
Por fim, fui me informar de como eram as vidas dos animais criados para consumo. Não preciso dizer que me impactou profundamente e aí, foi o ponto pacífico e a implantação da rotina vegana na cozinha.
Procurei meu médico, expliquei minha decisão e as condições em que tal decisão precisaria se tornar realidade. Fui indicada a um profissional da área que me ouviu sem censura e acolheu minha proposta. Com as primeiras coordenadas em mãos, exames feitos e uma alegria no coração, comecei a jornada que já tem cinco anos e muita aventura.
Primeiro: Percepção do entorno
Notei que metade de minhas amizades já eram veganas! Era como se o Universo desse esse empurrão a mais e me mostrasse claramente que eu não estava sozinha. Na verdade, nunca estamos! Sempre que decidimos algo, que colocamos o pé, nasce o chão e chegam pessoas incríveis e dispostas a nos ajudar. Tudo preciso e perfeito.
Olhar o entorno a partir de minha decisão, sem censura, aberta a conversar, sentar para aprender, colocar a mão na massa e me perceber responsável ao estado atual do planeta, foi incrível e até um pouco desconfortável. Porém, necessário!
Tirar o olho do estômago e da ideia de matar a fome para colocar a visão no que faz bem não só a mim, mas a tudo que está à minha volta, foi quebrar a corrente da ilusão de que não posso mudar o mundo: Eu, você, ele, todos nós podemos, a partir de uma mudança em nós, em nosso pensar, em nossas escolhas, ações, hábitos.
Sair do conforto que cria um impacto negativo ao meio e inserir uma escolha mais consciente é forte, mas é interessante!
Você também pode gostar:
- O exercício da contemplação como prática meditativa
- Reinventar-se é pra quem tem coragem
- 28 dias de amor-próprio
Segundo: Percepção da cultura e das manias
A ideia de que não conseguimos e nem podemos mudar nossa alimentação vem justamente de um senso cultural que trazemos. Somos criados dentro de uma família que tem seus costumes, seus “pratos principais”, suas manias e tradições. As aprendemos e passamos a propagá-las mais à frente sem muita reflexão, sem muito entendimento até. É repetição, atrás de repetição.
A proposta foi então a de veganizar o que eu podia e compartilhar meu aprendizado de forma lúdica, divertida, sem imposição. Tornei-me uma alquimista culinária nas horas vagas. A cada criação, oferecia aos que comigo convivem o sabor e a minha alegria. Certamente que isso foi envolvendo os corações e os paladares. Hoje, há sempre um pedido vegano para algum evento nosso ou para um lanchinho de viagem de alguém de casa.
Você torna possível sua escolha quando aqueles que convivem com você se sentem à vontade com a deles e sentem que podem mudar, que é possível e que terão ajuda.
Quando temos auto respeito, não precisamos exigi-lo. Senti que meu amor pela culinária vegana acabou por envolver a todos pelo entusiasmo que trago comigo. Com os olhos de criança, conquisto certa maestria e bons resultados saborosos. Ainda existe cultura, menos manias limitantes e muita abertura para essa forma mais eco de estar no mundo!
Terceiro: Olhar o possível, coordenar o imaginário e simplificar processos
Se queremos um hábito novo, é preciso ver primeiro o que temos em mãos para dar início a tal hábito. Querer uma nova rotina e um novo hábito fincando passos no que ainda não existe pode criar uma boa dose de procrastinação e até desistência, porque logo chegam as desculpas…
Para evitar as falhas na decisão, abri a despensa e decidi usar o que já usava, complementando com ingredientes extras apenas se necessário a alguma receita. Fora isso, a proposta envolvia receitas para o cotidiano, com muita simplicidade e pouco custo.
Querer veganizar o cardápio pensando apenas em itens industrializados e em ingredientes caros, pode causar desistência e decepção. Evite!
Eu até já sabia que a boa base da refeição vegana está nos grãos variados e lá estavam eles: grão de bico, ervilhas, lentilhas, feijão preto, feijão fradinho, etc. Já os usava e agora era criar novas formas de uso. Ao invés de consumi-los apenas como caldos e saladas, surgiram hambúrgueres, massas de empada, torta e até bolos doces. O extra adquirido foi bem pouco e continua sendo.
Com isso, o coordenar a despensa se tornou uma doce tarefa. Ter sempre alguns itens como linhaça, chia, farinha de arroz, ágar-ágar e cacau é indispensável. Não são itens absurdamente caros. Ponto interessante é que mais da metade do cardápio vegano vem de itens de feira (legumes, frutas, verduras), e esta também já estamos acostumados a fazer. Surge novamente a necessidade de inovar e usar ingredientes de maneira criativa e mesmo integralmente (cascas, talos, sementes).
Quarto: Aprender a cozinhar, pesquisar, estudar e compartilhar
Para que o prato contenha as delícias veganas, eis que se torna necessário cozinhar. Eu já sabia fazer muita coisa, mas aprender os substitutos foi o maior desafio! Linhaça de molho, no lugar do ovo, semente de abobrinha faz queijo, aí surgiu também o aprendizado em torno do uso dos leites vegetais. É neste momento que contar com a ajuda dos amigos faz diferença. Perguntar, experimentar, ir para a cozinha adaptar a seu gosto, exige disposição.
Hoje, há inúmeros sites que nos ajudam e nos explicam passo a passo o como fazer e usar este recurso é preciso. Outra coisa é ir a feiras, eventos, aulas… tudo que envolve esse mundo vegano e pode fortalecer a escolha. Tais eventos nos mostram uma gama de possibilidades.
Estudar e se cuidar, não sendo apenas um vegano daquilo que é festivo, mas do que faz bem é o alicerce. Não é porque nos tornamos veganos que vamos abusar de lanches, doces, comidas de rua. O ideal é justamente minimizar o consumo e realizar uma alimentação mais saudável e natural, possível! Do contrário, perde o propósito.
Depois de algum tempo, começamos a compartilhar nossas descobertas para inspirar outros!
Eu mesma sempre posto minhas descobertas e invenções culinárias, as receitinhas e as reflexões num grupo lá no Facebook. Se chama: “Veganices da Val”. Apareça por lá…
Eu descobri que a culinária vegana é simples, acessível, saborosa e é também uma verdadeira oportunidade de exercitar o autoconhecimento. Além disso, fortalecer nossa conexão com o meio ambiente e o respeito a vidas de outros seres é benéfico e doce. Um caminho sem volta. Um caminho fácil quando existe vontade.
Que tal experimentar? Fica o convite!