Eu tinha acabado de completar doze anos. Estava na sexta série do ensino fundamental. E era o meu primeiro dia de aula naquela escola. Quando a professora de Ciências entrou na sala, não tive dúvidas: ela era a mulher da minha vida. E esse sentimento só cresceu quando ela começou a explicar sobre o Reino Animal.
— “Apesar de tudo, de todos os animais do universo, o Homem é o mais bonito e inteligente para mim”, disse ela, caminhando lentamente na minha direção.
— “Como é o seu nome?”…
— “Como você se chama?”…
— “Perdeu a língua, foi?!”…
Meu coração acelerou tanto que parecia querer pular para fora do peito. Com os olhos presos ao seu rebolar, senti uma onda de calor subir pelo meu corpo. Tremi. Suor frio escorreu pela minha nuca. Eu queria responder, queria dizer algo impressionante, mas as palavras se perderam no labirinto da minha mente. Tudo o que consegui pensar foi:
— “Meu Deus do céu, como a professora é bonita!”.
A sala explodiu em risos quando ela se virou e percebeu que meu olhar continuava fixo. Sem perder a compostura, ela interrompeu a bagunça com voz firme:
— “Quem quer ser respeitado deve se dar ao respeito primeiro”.
Aquelas palavras ecoaram dentro de mim como um segredo compartilhado. Eu quis acreditar que ela falava diretamente comigo, que de alguma forma entendia a confusão dos meus sentimentos. Isso só fez com que eu me apaixonasse ainda mais por ela.
Quando retomou a explicação, sua voz macia preencheu o ar:
— “O homem é o único animal capaz de amar”.
Eu acreditei.
— “Segundo o filósofo grego Platão, o que mais aproxima o homem das essências divinas é o amor, pois esse é o sentimento responsável por impulsionar a alma na direção da verdade”.
E dentro de mim, o amor crescia como erva daninha. Selvagem. Indomável.
Eu precisava fazer algo. Eu precisava que ela soubesse.
— Platão dizia que ‘Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o amor toma conta dele’, – ela continuava explicando.
Foi nesse exato momento que uma ideia nasceu na minha cabeça. Levantei a mão, fingindo uma dúvida.
— “O que foi? Precisa de ajuda?”, perguntou a professora, olhando diretamente para mim.
Eu balancei a cabeça dizendo que sim. Enquanto ela caminhava em minha direção, meu coração disparou. O perfume suave que ela usava parecia preencher todo o ambiente, e por um instante, eu senti que o tempo parava. Mas professora nenhuma é ingênua. Ela percebeu na hora o meu nervosismo e, talvez, até mesmo a confusão dos meus sentimentos. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, o sinal tocou, anunciando o fim da aula. Ela se virou para a turma e disse apenas:
— “Até amanhã, crianças”.
Foi quando, pela primeira vez, a turma ouviu a minha voz:
— “Eu tenho doze anos, professora, e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, eu não sou mais criança. Sou um homem feito”, protestei.
Novamente, a sala explodiu em risos. Eu queria que ela me levasse a sério, mas tudo o que recebi foi um olhar breve e um sorriso discreto — não de quem concordava comigo, mas de quem entendia minha ingenuidade.
Ela não disse nada. Também não me repreendeu. Apenas pegou suas coisas, saiu da sala como sempre fazia, deixando para trás o seu suave perfume e, dentro de mim, uma confusão de sentimentos que eu ainda levaria algum tempo para entender.
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A partir daquele dia, eu aprendi que crescer não era apenas uma questão de idade, mas de coragem, de postura, de saber quando falar e quando silenciar. E se eu quisesse conquistar a professora, eu precisava aprender a ser mais do que um menino de doze anos apaixonado.
E, a julgar pela postura da professora, eu precisava crescer, não só para me dar bem nas aulas de Ciências, mas para ser digno da presença dela, da voz dela, da amizade dela e do perfume que ainda pairava no ar mesmo depois que ela saísse da sala.
E assim, com o coração em chamas e as mãos trêmulas, deslizei a caneta sobre o caderno, deixando ali o único segredo que eu ainda não tinha coragem de dizer em voz alta:
— “Te amo, professora!”.