A tradicional festa de Réveillon é onipresente em nossa cultura, tomamos consciência disso desde que nascemos e passamos de ano a ano acompanhando os rituais com a família. Esse costume faz tudo parecer muito natural, talvez seja por isso que esquecemos de conhecer a verdadeira origem da tradicional festa de virada de ano novo.
Sob perspectiva brasileira, na qual a festa de ano novo é celebrada em um país onde há a predominância da religião cristã em diferentes fragmentos, principalmente nas matrizes africanas, faz sentido afirmar que a essência dessa festa vai muito além do objetivo festivo.
Interpretamos a virada do ano como a passagem para uma nova era. Damos uma direção espiritual para o evento. Não importa se você é religioso ou não, com certeza, cresceu entendendo o reveillon como uma renovação, onde todas as esperanças são jogadas para os próximos meses do novo ano que virá.
Mas, sabia que, no mundo, nem sempre o Réveillon levou consigo a consciência religiosa? Diz a história que essa comemoração começou a ser realizada muito antes da época do cristianismo entre os povos mesopotâmicos.
A diferença é que a virada festejada não era de um ano para o outro, e sim de uma estação para outra. Como esses povos dependiam da agricultura para trabalhar e viver, a passagem do inverno para a primavera era um grande motivo para se comemorar, pois uma nova safra estava se aproximando com promessas de fartura.
Por mais que os primeiros indícios históricos apontem a Mesopotâmia como berço da comemoração de ano novo, na época, vários outros povos utilizavam a data como um grande evento festivo, como fenícios, gregos, persas e assírios, todos em calendários próprios.
Como nós herdamos o calendário dos romanos, no qual a data de virada (dia primeiro de janeiro) foi instituída pelo imperador Julio Cesar no ano 46 a.C., o dia do Ano Novo é historicamente comemorado nesse dia, principalmente no Ocidente.
A origem da palavra “Réveillon” vem do verbo réveiller, em francês, que significa “acordar”, “renovar”, “reanimar”. No século XVII, a palavra era usada como referência para celebração de eventos festivos entre a população nobre francesa, entre eles, os jantares de fartura que era servido após à meia-noite.
Reconheceu o ritual do jantar após à meia-noite de algum lugar? Na maioria dos países, inclusive no Brasil, jantar após a virada do dia 31 para o dia 1º de janeiro é uma característica marcante dessa festa tradicional.
Inspirado na festa já comemorada em outros países, o Brasil incorporou a comemoração e a adequou ao seu leque de culturas que se implantaram no país desde a colonização. Foi Dom Pedro II, junto a sua corte, que ajudou a popularizar a festa de Réveillon no Rio de Janeiro, alastrando-a cada vez mais para outras regiões, na medida em que as elites paulistanas foram aderindo a festa.
Como citado anteriormente, a diversidade cultural e religiosa do país colaborou para complementar as tradições e rituais de ano novo. Um grande exemplo disso é a superstição das sete ondas, popularizada por meio dos ritos dos devotos de Iemanjá. Essas pessoas acreditam que pular sete ondas caracteriza uma espécie de oferenda à rainha dos mares e, a cada pulo, um pedido se concretizará.
Quando os membros do candomblé passaram a ir às praias durante a virada do ano para fornecer oferendas religiosas à Iemanjá através dos mares, portando suas vestimentas brancas, o Brasil também adotou o hábito de usar roupas brancas para atrair coisas boas no ano que se aproxima.
Não é à toa que o destino mais popular entre os(as) brasileiros(as) das mais diversas regiões do país são os litorais. A praia de Copacabana, por exemplo, na capital do Rio de Janeiro, conta com um número elevado de turistas todos os anos, com sua tradicional queima de fogos que atrai até turistas estrangeiros.
Em excesso de cores brancas decorando as festas brasileiras, a China nos contraria mostrando que a cor simbólica é o vermelho. Lá, o ano novo é conhecido como Festival da Primavera, no mês de fevereiro. Além de muita decoração vermelha, os(as) chineses(as) adoram soltar muitos fogos, pois acreditam que festejar com muito barulho ajuda a afastar espíritos e energias malignas.
No Japão, variações no calendário não fariam tanta diferença assim, já que a festa ocorre durante um mês, iniciando no dia 25 de dezembro. Galhos de bambu e ameixas compõem as decorações das casas japonesas, o que simboliza o amor, prosperidade e abundância.
Na Índia, não há tempo ruim: renovações são dignas de comemorações durante o ano inteiro. Os diferentes estados do país comemoram de acordo com o calendário de seus povos, mas o mês de março é o principal acolhedor de uma festa incrível chamada “Goody Padva” e do famoso festival das cores “Holi”, com muita tinta colorida envolvida nas celebrações.
Em Israel, o ano novo judaico começa com a chegada do outono, na qual as pessoas utilizam o período para se cumprimentarem nas ruas e comerem bastante maçã com mel, para que o próximo ano traga apenas coisas doces.
Na Itália, é claro que o sabor romântico europeu estaria mais do que presente nas comemorações do ano que chega: os casais vão às ruas para se beijar. Muito amor, não é mesmo? E, além disso, os(as) italianos(as) costumam atirar artigos antigos de suas janelas para praticar a filosofia do desapego e entrar no novo ano renovados(as) por inteiro.
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É fascinante como o planeta varia de diferentes povos, costumes, tradições e, principalmente, calendários. Para nós, fica o principal significado da virada de ano: a renovação. É o momento de refletir sobre as conquistas e frustrações de um ano que passou, planejar e traçar metas para o que virá.
Vamos chacoalhar a poeira dos ombros e encarar uma nova era?