A sociedade atual caracteriza-se pela pressa, pelo egoísmo e pela indiferença com o outro. Um mundo sombrio e assustador, onde parece reinar o absurdo. Em todas as frentes, o ser humano distancia-se cada vez mais do próprio ser humano. As relações já não são mais as mesmas. Reina a desconfiança com o outro. A palavra de ordem é: medo. Medo do outro, das relações. Medo de todas as formas. A palavra dada já não vale mais. É preciso “procuração”, “testemunha” e “provas” para um homem confiar no outro homem.
Segundo o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, vive-se em uma época de grande barbárie e de pouca solidariedade. São tempos de alta competitividade guiados pela lógica da acumulação de bens e das aparências. Em nome dessa nova ideologia, os indivíduos se permitem agir passando por cima de valores que sequer chegaram a formar. O que importa é ser reconhecido, ser admirado, ter acesso a uma infinidade de produtos e serviços e usufruir o máximo do prazer.
Cada vez mais se verificam relações instrumentalizadas, pessoas que vivem à custa dos outros sem representar nada ou contribuir com o crescimento material, moral e espiritual. Essas pessoas sofrem a síndrome do “vampirismo psicológico”. E o que vem a ser o vampirismo psicológico? É um paradigma contemporâneo que define pessoas que têm uma pré-disposição de sugar ou extrair as energias do outro, de forma consciente ou inconsciente. São pessoas doentes e medíocres, que não percebem o mal que causam na vida dos outros.
Será que existe uma saída, uma cura, um remédio para todo esse mal-estar da sociedade e do homem contemporâneo? Sem querer parecer ingênuo ou alienando, pensamos que sim! As palavras do teólogo e filósofo brasileiro Leonardo Boff apontam um caminho possível. Diz ele:
“O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais do que um ato, é uma atitude. Portanto abrange mais do que um momento de atenção. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”.
Portanto a saída é a arte de cuidar do outro, e o que seria essa arte?
A arte de cuidar do outro seria a compreensão de que a vida é feita de paradoxos e, para trilhar o caminho da felicidade, o primeiro passo é querer bem o outro. O segundo passo consiste em aceitar o outro como ele é, durante muito tempo, para que o outro seja feliz. O terceiro passo consiste em querer aprender sempre com o outro, que é diferente de mim e que por isso mesmo merece ser respeitado.
Enfim, a arte de cuidar do outro é o paradigma contemporâneo do ser humano cuidando do próprio ser humano.
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