Para simplificar a história da saga humana sobre a superfície planetária, podemos entender que a raiz do sofrimento encontra-se no apego aos desejos da mente, como sinônimo de ego. Segundo a história, uma das figuras que mais trouxe essa noção foi Siddharta Gautama — o Buda, pois ele investigou a fundo, com esmero e seriedade, a raiz do sofrimento e, consequentemente, as formas para nos libertarmos dele.
Quem é você por trás dos seus pensamentos?
Note que os desejos de querer e não querer precisam, necessariamente, de “alguém” que quer e que não quer. Este alguém é o ego.
A consciência (quem somos) se utiliza da inconsciência do ego para que, por meio dele, possamos nos reconhecer consciência.
A brincadeira é legal, séria e divertida ao mesmo tempo. Quiçá a maior das responsabilidades que temos: descobrir quem nós somos por trás do ego.
Toda a formação da psique, nesta ou numa vida pretérita (para quem acredita), acontece por meio do recebimento de uma cultura: crenças das mais diversas, juízos de valor sobre o que é certo e o que é errado, gostos com isso e aquilo, identificações com isto e não com aquilo, rótulos, títulos e honrarias recebidas, etc.
Tudo isso contribui para a construção da noção de um eu que está separado do outro. Também, toda a experiência das sensações do corpo traz uma falsa ideia de separação quando, na verdade última, este mundo sensorial não passa de uma ilusão. Não que possamos desmerecer ou desconsiderar toda essa experiência, alto lá! Mas podemos, sim, colocar esforço para transcender esta noção de mundo, tornando nossa experiência de vida grandiosa e sagrada em seu mais nobre sentido.
Vamos nos ater as 5 mais do ego como forma de nos ajudar a identificá-lo, evitando escorregar em suas artimanhas:
1. Julgamentos
O ego adora julgar, mas não só isso! Condenar e executar também. Perceba quais são os pensamentos, sensações e sentimentos que emergem em você ao assistir um programa de TV violento, que exibe policiais capturando traficantes e bandidos. Fica muito fácil surgir um “merecido! agora vão apodrecer na prisão”. O ego corre de qualquer compaixão, evita qualquer olhar mais nobre e profundo para o verdadeiro motivo pelo qual traficantes e policiais fazem o que fazem. Sim, estou sugerindo que ambos sejam vítimas de um sistema maior, que faz com que cada um exerça seu papel e acredite piamente nele.
2. Comparações e competições
O ego está sempre se comparando, se colocando acima ou abaixo de outra pessoa. Seja sincero com você (e comigo): você já viu alguma comparação com outrem funcionar? Se pararmos para pensar, a comparação só pode ter dois resultados: nos sentiremos mais ou menos do que o outro. A comparação não dá margem para “nos sentirmos iguais”. Sentir-se superior ou inferior não tem diferença, ambos trazem um lugar de injustiça aos olhos da Verdade (do alto ou de Deus, se preferir). Note que a comparação é algo que acontece sem o seu consentimento: o ego tem essa predisposição e simplesmente age assim. Cabe a você desmascará-lo e não entrar no bonde…
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3. Máscaras
O ego veste máscaras de acordo com cada situação e pessoa com quem encontra, sempre interessado em obter o melhor resultado para si. Vamos nos ater a exemplos genéricos para não filosofar muito: ao encontrar a diretora da empresa no elevador, o ego veste uma máscara de “funcionário do mês” — inclusive alterando o tom de voz, medindo as palavras, etc. Ao visitar os pais, veste a máscara de “filho pródigo e imaculado” — novamente, alterando o tom de voz, medindo as palavras, etc. Ao ser parado por um policial em uma blitz, veste a máscara de “cidadão justo, honesto e com todos os impostos pagos do veículo”, alterando o tom de voz, medindo as palavras, etc. Um homem solteiro (ou casado), ao encontrar uma mulher atraente de corpo e mente, veste a máscara de “sou para casar, o homem mais gentil neste mundo”, alterando o tom de voz, medindo as palavras, etc.
4. Inveja
O ego vive se desvalorizando. Se coloca incapaz de conquistar algo. Olha pro carro novo do vizinho e já sente inveja, sem sequer pausar para refletir conscientemente sobre como o vizinho o conquistou — embora, já adianto, isso também não importe. Ter inveja é assinar embaixo da incapacidade e insuficiência da conquista. Como o ego se identifica e existe projetado em bens materiais, ele acha que a pessoa que possui isso ou aquilo é bem sucedida. O ego é incapaz de olhar para o interior da pessoa e determinar se ela está ou não feliz naquela condição. Admiração e inspiração em outra pessoa, quem não tem? Podemos sim usá-las para trazer o que é nosso cada vez mais para nossa forma de existir, e isso é extremamente válido. Mas a inveja não passa de um tiro no pé.
5. Nunca está bom
O ego vive eternamente insatisfeito com tudo! Compra algo e está infeliz porque queria o outro; trabalha em um TCC, mas fica insatisfeito achando que “poderia ter feito melhor”; se dedica durante horas a uma receita, mas “o sal passou um pouco”; quando encontra uma pessoa amada, dali alguns meses já está desejando outra. Ou seja: ele é incapaz de reconhecer que sua situação neste exato momento da vida é tudo o que ele precisa para viver. Seus caprichos trazem a sensação de que quando algo ou alguém chegar, se sentirá pleno. Pura conversa fiada! Quanto mais nos reconhecemos antes da mente, quanto mais silenciamos para as armadilhas do ego, menos nos faltará. O aqui e agora, por si só, será mais que suficiente.