Liberdade e autonomia são ideias humanas, não são uma realidade natural. Muitos de nós querem se dizer absolutamente livres e autônomos. Realmente é uma ideia gostosa de se ter. A boca até sorri de canto. Ainda assim, autonomia e liberdade são dogmas quando se trata de nós, homo sapiens. Sim, dogmas – ou seja, aquilo que veio das ideias dos próprios homens, não dá sua natureza propriamente dita.
Nossa espécie se deu bem evolutivamente porque se focou em ser grupo (sua melhor ferramenta). Quem não tem dentes caninos afiados e fortes, quem não corre agilmente na selva, quem não voa e quem precisa de nove longos meses para gestar suas crias e mais outros 6 a 10 anos para preparar serumaninhos resistentes à savana? Quem é tudo isso faz o quê? Faz como?
Já imaginou a trabalheira que daria repor serumaninhos, principalmente numa época em que o indivíduo era mão de obra relevante e significativa para a sobrevivência do grupo todo? Pois é, aquele que não conta com algumas benesses naturais desenvolve outras, não é isso? No nosso caso, entendemos desde há muito tempo que estar em grupo é uma habilidade importante para nos mantermos vivos. Coesão é preciso! É o nosso “órgão biossocial” mais precioso.
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Bom, mas se o grupo é tão extraordinário assim para a sobrevivência da espécie sapiens, o que dizer de conceitos como autonomia, não é verdade? Por isso eu disse lá no início que autonomia e liberdade são dogmas, “coisa antinatural”. E isso é mega desagradável de se admitir: não temos autonomia, nós a inventamos. Não temos liberdade, nós também a inventamos.
Em perspectiva, somos seres de grupo (o pessoal mais chique e culto diz: somos gregários, mas dá no mesmo). Aí sim, nos laços, há algo natural que vem de longe, muito longe. Isso de ser grupo nos é tão intrínseco como os pulmões que as baleias usam pra mergulhar há milhares e milhares de anos. Ser vinculado é nossa mais antiga característica, talvez. E esse instrumental segue nos fortalecendo e nos carregou até aqui enquanto espécie.
Há dentro de cada um de nós uma espécie de consciência-arcaica que nos exige reverência a esse povaréu todo que construiu o mundo em que hoje habitamos. Essa consciência-arcaica, contudo, é inconsciente e silenciosa. O que isso significa, na prática? Imagine uma senhorinha surda e muda. Pronto! É a imagem que me vem à mente quando penso em consciência-arcaica. Essa velhinha se comunica conosco não por palavras ou pensamentos. Nosso cérebro não é capaz de pensar ou decodificar o que ela diz. Não, ela não é tão clara assim. Essa velhinha se comunica por outras vias, como linguagem de sinais mesmo.
Ela, por exemplo, nos envia uma dor de cabeça por anos a fio. Ela nos envia uma artrose, um câncer, uma falência, um casamento desajustado e por aí vai. Esse é o jeito meigo de essa senhorinha nos dizer que não estamos sendo tão respeitosos com o passado quanto deveríamos ser.
Aquele que respeita seu grupo fica em paz com essa consciência do clã. Quem não reconhece seu lastro sente alguns efeitos na sua vida (tipo o fracasso, a falência e a doença). Se você procura um novo jeito de enxergar a vida, eu indico: conheça a filosofia sistêmica.
Entenda de forma mais ampla que raios esse pensamento sistêmico nos revela. Constelação familiar não é uma terapia, é um estilo de vida, um jeito de ser e estar no mundo. Ela é ampla e não curte o olhar meramente curioso. Ela não quer nada de você nem de mim. Ela fala da vida – da vida como é e ponto.