“Somos todos iguais” … Diz o senso comum. Essa é uma frase que na teoria é lindo, mas quando pensamos na prática… Seria assim?
Sabemos que não é assim, mas deixo essas perguntas:
- Seríamos mesmo “iguais”?
- Temos realmente que ser “iguais”?
É muito comum ouvir que somos todos iguais, que todos possuem direitos igualmente. Outros, quando ouvem isso, refutam dizendo que na teoria sim, é verdade, mas na prática é bem diferente, que existem preconceitos, discriminação e grupo de pessoas que são mais valorizados, são mais privilegiados socialmente. Sim, que possuem mais acesso socialmente… Não vou negar que isso existe, mas não é sobre isso o post.
A ideia de escrever esse artigo me veio com uma conversa, um filme e uma série.
Um dia, estava eu marcando meus exames de rotina e, enquanto estava na sala de espera, ouvi uma moça conversando com um casal sobre diferenças, sobre a questão genética, biológica que pode variar muito, falavam também sobre a questão de sexualidade e gênero. As duas moças discutiam sobre a questão delas duas terem uma síndrome (não me lembro o nome), que as fizeram ser classificadas pela medicina como intersexo – que flui biologicamente entre o sexo masculino e feminino – mas que apesar de tudo, não deixavam de ser mulheres.
Eu comecei a conversa dizendo que na biologia existem muitas variantes cromossômicas, que a medicina ainda está descobrindo. Contei que eu sou uma mulher com síndrome de Turner, falei sobre o que era, fomos comparando as semelhanças e diferenças das duas síndromes, fomos comparando meu caso com o delas, a parte biológica (interna e externa), sobre fertilidade, até rimos quando contei minha jornada com hormônios, comentamos sobre os estereótipos e estigmas com essas duas síndromes… Nossa, fiquei maravilhada, pois como o ser humano é complexo e diverso!
Enfim, quem quiser a história completa, contei em um áudio em meu canal no Telegram.
Desde então, tive essa ideia de escrever sobre a questão das diferenças, que estão tão presentes à nossa volta. Mas como nos mantemos dentro de nossas bolhas sociais, não enxergamos além e isso me fez refletir sobre a forma a qual lidamos com as diferenças no geral.
Será que prestamos atenção nas outras pessoas, suas histórias? Será que há empatia suficiente para isso? Como temos agido diante das diferenças? Trago novamente a frase “somos todos iguais” para debate. Sendo nós todos iguais, teríamos as mesmas características físicas, emocionais e cognitivas. Dizer que somos todos iguais é ignorar as particularidades de qualquer um.
Vamos ser realistas, sabemos muito bem e não perdemos oportunidade de rotular quem é branco, negro, pardo, alto, baixo, magro ou gordo. Sem nos esquecer da questão social que privilegia mais determinados grupos. Então, não. NÃO somos iguais, não faz sentido dizer que somos iguais e nem temos que ser iguais. Falo isso de coração.
Se fôssemos todos iguais, o mundo seria a coisa mais sem graça que existe. É como viver em um lugar com somente uma cor. Imaginem se existisse apenas uma cor no universo, se a única cor que existisse nesse planeta fosse, por exemplo, vermelha, ou se tudo fosse da cor azul ou da cor roxa? Repare como é maravilhoso essas diferentes nuances de cores, como cada uma se complementa e delas vêm novas cores e tonalidades, isso dá vida ao planeta!
Por isso temos que parar de falar que somos iguais, de querer padronizar tudo.
A venerável Roshi Coen, ou como todo mundo a chama, Monja Coen, disse uma vez sobre não ser superior, nem inferior e nem igual ao outro, ela até falou sobre equidade e como isso traz harmonia, então por que não conhecer e abraçar as diferenças, por que nos manter em uma bolha?
Quando montei um roteiro para Dark Wings, montei pensando além de como seria se anjos vivessem entre nós e sobre como tratamos as diferenças e o conceito do Maquiavel do “vilão e o herói” (falei sobre isso em uma live com a também escritora, Mione Lefay); não tem como ter uma visão mais ampla de mundo se não conhecermos as várias realidades existentes no mundo, ainda mais para nós escritores. Como eu, sendo escritora, poderia criar uma história, um personagem se eu me mantivesse em uma bolha ou olhando somente para as pessoas que seriam “semelhantes”? Impossível, falo de sermos empáticos, de nos colocarmos no lugar do outro.
Vão ter coisas que vão te chocar ou te impressionar de primeira? Sim, claro! Acabei de contar essa história pessoal, que me deixou impressionada, como também terá situações que te chocarão de primeira e você terá que absorver para compreender, certo?
Por exemplo, uma vez eu assisti a um filme – não lembro o nome – que a temática era a materialidade e o minimalismo, não é um que eu esteja acostumada a assistir, foi um filme que tive que pausar na metade para absorver tudo aquilo, demorei mais tempo para terminar de assistir. Esse filme tinha como proposta mostrar uma visão de crença e estilo de vida que nem todo mundo possui e embora não seja tão diferente do meu, revi muita coisa em mim mesma e me fez refletir também sobre a forma a qual vivemos a vida e como estamos convivendo com os outros, com os nossos diferentes.
Um outro filme, quer dizer, o filme que me deu esse insight de escrever sobre as diferenças, foi um filme original da Netflix chamado “Crush à altura” (português); “Tall girl” (inglês), que tem como protagonista uma adolescente que tinha muita insegurança quanto a sua aparência. Ela era super alta, a aluna mais alta da escola dela.
Esse filme te faz refletir sobre os padrões estéticos e pessoalmente foi um filme que fez eu me sentir muito emocionada, me trouxe lembranças da minha adolescência, foi como se eu tivesse voltado no tempo, lá nos meus 16 anos, só que olhando por fora, igual àquela cena de “Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban” em que Hermione usa um vira-tempo?
Pois é, cheguei a “suar” um pouco pelos olhos e ri também, por dois motivos. O primeiro foi que percebi que cismamos com coisas sem necessidade. Segundo: não havia visto um ponto de vista de uma mulher alta. Quer dizer, já assisti documentários, li matérias sobre pessoas altas, mas acredito que não tinha me colocado no lugar dessas pessoas até assistir a esse filme, me trouxe uma perspectiva diferente.
Você começa a olhar as coisas por um outro ponto. Foi isso que senti também quando comecei a assistir uma série chamada “Seleção artificial” (Português); “Unnatural selection” (Inglês), um documentário sobre variabilidade genética e a possibilidade de cura de doenças de origem genética hackeando o DNA através de um experimento de um grupo de cientistas. Esse documentário mostra também a opinião da comunidade científica, sobre a ética na medicina, sobre leis reguladoras do uso de tal tratamento genético, os efeitos colaterais.
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Admito que, no início, quando comecei a assistir essa série, fiquei chocada, fiquei pensando no quão surreal era aquilo, mas mantive minha mente aberta para assistir e cheguei à conclusão de que nós, seres humanos, somos tão parecidos e, ao mesmo tempo, diferentes uns dos outros. Compreender essas diferenças faz com que a nossa convivência melhore mais com os outros e conviver em sociedade.